26 de dez. de 2012

Verão

O dia tem preguiça de ir embora
E a noite perde a hora
De escurecer

Quase esquece de ser noite
E arde sob o sol invisível 
Inquieta, impedida
De adormecer


21 de dez. de 2012

Esperança

É aquela caixinha de fósforos que a gente guarda sempre na mesma gaveta pra poder acender uma vela quando a luz acaba de repente.
...
A todos os leitores do blog, um 2013 iluminado com gás de inspiração, eletricidade de alegria e muitas caixinhas de fósforo por perto.

18 de dez. de 2012

É ele!

Uma noite
Quase vi
Papai Noel
Numa nuvem-trenó
Desmanchando no céu
...

A imagem saiu de um livro antigo que ganhei da querida Claudia Berkhout: "Father Christmas", de Raymond Briggs, conta uma história de Natal que minha amiga lia pra filha há tanto tempo atrás e que combina tão bem como esse textinho, publicado aqui.

14 de dez. de 2012

Urgente

Urgente é um monstro enorme. Apesar de seu tamanho descomunal, ele se move com extrema rapidez, o que sempre provoca um vento inesperado e muito forte, capaz de arrastar tudo o que encontra pelo caminho. É da mesma família do Bicho-Papão, só que prefere perseguir os adultos, pois as crianças raramente dão bola pra suas ameaças. Como vive apressado, Urgente não gosta de perder tempo; assim, prefere infernizar quem o teme e sempre se desespera quando ele aparece, mandão, ditando ordens que nunca podem esperar. Quando está faminto, o monstro perturba o sono, não dá sossego enquanto a vítima não pula da cama. Mas Urgente não é um monstro noturno: gosta mesmo é de assombrar à luz do dia, devorando as horas do relógio e a energia das pessoas -- é disso que ele se alimenta pra ficar cada vez maior, mais poderoso e assustador.
Quando ele ataca, o primeiro impulso é sair correndo. Só que é justamente assim que a gente cai na sua armadilha. Daí não jeito: o Urgente nos engole, rápido e sem dó.
...
Lembrei desse texto, publicado aqui, porque hoje é aniversário do Urgente.
Ou alguém tem dúvida de que ele nasceu em dezembro?

9 de dez. de 2012

O passado

No porta-retrato, a infância do filho e a presença da mãe: era um domingo e eu não sabia que estava fotografando a saudade.

6 de dez. de 2012

Antes de escrever

  
Hoje você já foi no supermercado e no dentista, depois passou um tempão com o homem que veio consertar a máquina de lavar e depois do depois ficou falando com sua irmã no telefone. Agora vai querer trabalhar antes de brincar comigo????
...
A ilustração é do genial Franco Matticchio.

4 de dez. de 2012

28 de nov. de 2012

O vestido

Era uma vez uma princesa, e lá vai a noiva com seus sonhos de menina.
...
A foto é de Lucca Bacal.

27 de nov. de 2012

3 biscoitos

Sabor-Não: careta com recheio de limão
Sabor-Quem-Sabe: dúvida com recheio de esperança
Sabor-Sim: silêncio com recheio de sorriso

23 de nov. de 2012

Somos feitos de histórias

"Uma biblioteca é um labirinto. Não é a primeira vez que me perco em uma. Eu e meu pai temos isto em comum. Penso que foi o que lhe aconteceu. Ficou perdido no meio das letras, dos títulos, perdido no meio de todas as histórias que lhe habitavam a cabeça. Porque nós somos feitos de histórias, não é de DNA e códigos genéticos, nem de carne e músculos ou pele e cérebro. E sim de histórias"
....
Trecho de "Os Livros que Devoraram Meu Pai", de Afonso Cruz, que devorei com muito prazer em uma tarde.

22 de nov. de 2012

No trânsito

Olho para o lado e vejo dois meninos brincando em volta de um fusquinha azul, dentro da pequena garagem de um sobradinho da Heitor Penteado. O mais alto deve ter uns sete anos e se diverte muito cada vez que inverte o sentido do pega-pega, surpreendendo o menorzinho em pleno voo. Pra que a brincadeira não acabe, ele breca de propósito, finge que desiste só para o pequeno ter tempo de sair correndo na direção oposta. Então os dois disparam de novo, rindo sem parar, até o menino repetir a armadilha e o outro levar o mesmo susto, como se fosse a primeira vez. Quando os carros começam a se mover, avanço devagar, com os olhos no espelho retrovisor e tenho vontade de acenar para as crianças, agradecida por me fazerem lembrar que a alegria não precisa de motivo pra acontecer.

13 de nov. de 2012

9 de nov. de 2012

Encontro

-- Você é... A ESCRITORA?
-- Sou! E você é... O LEITOR?
...
Para os pequenos, conhecer o autor sempre é uma experiência bacana.
Pra mim, conversar com leitores de verdade é supimpa!
Foi uma delícia o encontro com as crianças da escola Professor Ceciliano José Ennes.


Elefante, me conta essa história?



Ilustração de Ina Hettenhauer, via Garatujas Fantásticas.

Bom fim de semana!

7 de nov. de 2012

Escrever

(...) Quando eu era bem pequena, o mundo ainda se fazia de conta. Cada vez que minha mãe mudava os móveis da sala de lugar, eu entrava na brincadeira fazendo a maior farra, sem suspeitar que aquele mexe-mexe também era ela, toda desencaixada por dentro (...). 

Essa história está no começo, por enquanto não sei pra onde ela vai me levar, se é que vai. Depois de algumas páginas, resolvi arquivar o texto e a minha angústia. Mas hoje, lendo a revista Bravo, dei de cara com um "recado" de Clarice Lispector: "Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu". Na mesma hora, dois cliques -- um na cabeça, outro no arquivo. Vamos em frente.

5 de nov. de 2012

Casa

Um jardim de tecido estampado com florzinhas delicadas atrai o olhar e convida: entre! Então a menina abre o caderno e vai passeando pelas linhas atrás do fio de alguma história. Sem pressa, alisa as páginas em branco como quem toca na parede recém-pintada de uma nova casa, e talvez esteja se perguntando se é ali que suas palavras gostariam de morar.

30 de out. de 2012

São Paulo, 36ºC

é tanto calor que a gente sonha com neve
escrevescrevescreve

dá vontade de sair voando de ultraleve
escrevescrevescreve

mas, cadê o vento -- está de greve?
escrevescrevescreve

o sorvete e as ideias: tudo derrete e ferve
escrevescrevescreve

A "4ª tarde mais quente da história"me fez lembrar desse poema, publicado aqui, em 2009.

29 de out. de 2012

Poesia de letra

Quando o ci sne aparece deslizando no seu Esse
O Ó da lagoa até treme nas ondinhas do Ene  

26 de out. de 2012

Ritual

Ela entra sem fazer barulho, checa os cantos de sempre, às vezes para e investiga uma sacola ou qualquer novidade que esqueci no chão. Daí vem pra debaixo da mesa, deslizando pelo tapete, e faz questão de esbarrar na minha perna antes de saltar, certeira, pra aterrissar exatamente ao lado do computador. Não dou bola, continuo escrevendo, então ela dá uma circulada entre os papéis, arranha a capa eco-craquelenta do caderno de rascunho, depois se ajeita sobre o roteador quentinho e adormece em segundos, enquanto sigo com meu tec-tec-tec, uma mesma cantiga pra ninar a gata e acordar as palavras.

23 de out. de 2012

Tristeza

a menina prende tudo na garganta
depois aperta bem apertado
dá um, dois, três nós

mas não adianta

os olhos não precisam de voz
pra contar o que ela sente

lágrima é um tipo de palavra 
de letra transparente

...
É mesmo "Sobre todos nós" o texto de Marina Silva na Folha de hoje .

8 de out. de 2012

Viajar


Sigo o mapa da curiosidade pra descobrir paisagens dentro de mim.

A ilustração é de Mariana Newlands. 

5 de out. de 2012

Preocupação

É como uma nuvem que estaciona em cima da gente e encobre o pensamento em sombras, anunciando uma tempestade que nem sempre acontece.

3 de out. de 2012

Mistérios da criação

Já me surpreendi com ideias aparecendo nas situações e nos lugares mais inesperados: às vezes, é só a lembrança embaçada de um sonho, uma conversa que escuto sem querer dentro do elevador ou enquanto faço ginástica, lendo alguma coisa que não tem nada a ver, por conta do som de uma palavra. Não tem regra nem hora, e também não adianta tentar inverter o processo -- é como diz a música: enquanto eu andar distraída, o acaso vai me proteger. Mas confesso que ainda estou pasma com o que aconteceu outro dia, no primeiro encontro com a Eliane, uma nova aluna da minha oficina de escrita. Perguntei se ela tinha algum projeto pra tentar adaptar as aulas aos seus objetivos, e então ela falou sobre uma ideia que achei ótima. Fiquei tão encantada com o assunto que até conversei sobre isso com meu marido, lamentando nunca ter pensando em escrever aquela história. Na aula seguinte, para meu total e absoluto espanto, Eliane estranhou quando retomei o tema, fez uma cara esquisita e foi logo dizendo que não era bem isso, aliás, "isso" não era praticamente nada do que ela tinha imaginado. Como assim? Não sei quantas vezes pedi para ela repetir que não, a história que eu descrevia em detalhes não era a dela, e mesmo assim, continuei duvidando de tudo. Antes de começar a escrever, precisei perguntar mais uma vez pra me convencer da minha própria autoria e comemorei a sorte de poder checar tintim por tintim com a "fonte" -- afinal, como saber quando (e se) uma ideia está apenas se aproveitando de outra pra se revelar? A resposta é: mistério.

1 de out. de 2012

Escrever


Acordo cedo, abro a janela e convido a manhã pra entrar. Ela retribui, sorrindo, me chama pra tomar café na rua, fala de histórias começando no céu e na calçada. Então olho pra fora e, por um momento, hesito, enquanto escuto as palavras me chamando pra dentro, num sussurro que ecoa pelos cantos da casa.

27 de set. de 2012

Ai, que frio!

O vento frio fez o sol se encolher
Encabulaaaaaaaaaaaaado
Como se tivesse aparecido sem ser convidado

Os cabelos e os pensamentos: tudo fica
Arrepiaaaaaaaaaaaaaado
Com o bom-dia desse vento gelado

25 de set. de 2012

Túnel do tempo

Olho pela lente do pequeno monóculo cinza e mergulho num dia de sol de outro tempo. Tenho seis anos, estou na praia, em Santos, numa das únicas fotos coloridas da minha infância. Faço pose dentro de um buraco largo, com uma pá vermelha em cada mão, cavocando o lago inventado entre dois grandes castelos rodeados por cercas-palitos de picolés. Lembro da época em que as férias e as histórias de areia pareciam não ter fim, e por um instante quase escuto o barulho do mar ecoando pela pequena concha de plástico. Então miro no cone mais uma vez, franzindo os olhos para ajustar o foco e revejo os mesmos olhos franzidos encarando a câmera naquele dia de sol de um passado que, de repente, já não parece tão distante assim.
...
Ando mexendo em textos antigos como esse, publicado aqui e também aqui.

20 de set. de 2012

Nino


-- Oi, Nino, bom dia!
-- Oi, Sonia...
-- É impressão minha ou esse oi tá meio desanimado hoje?
-- Ah, não é nada, não... Quer dizer, é só uma coisa que eu andei pensando...
-- Hmm. E eu posso saber ou é segredo?
-- Não tem segredo nenhum! É só uma ideia meio maluca...
-- Oba, adoro ideias malucas! Vai me contando enquanto a gente mede a sua temperatura.
-- Foi por causa disso mesmo que tive essa ideia!
-- Ih, você está me deixando muito curiosa!
-- É que também devia existir um tipo de medidor de amor, igual a esse que mede febre.
-- Nino! Essa ideia é maluca mesmo! Como assim?
-- Ah, é fácil. A gente coloca o aparelho em cima do coração e pronto. Se ficar vermelho, quer dizer que a  pessoa tá sentindo amor. Quanto mais forte o vermelho, mais forte é o amor! E já pensei até no nome do aparelho – amorzômetro!
-- Uau! E como foi que você teve essa ideia tão genial?
-- Foi por causa da Amanda...
-- Aha, entendi!
-- Com o amorzômetro eu logo ia descobrir se ela também gosta de mim. Nem precisava ficar perguntando.
-- É uma grande ideia, Nino. Aposto que um monte de gente ia querer ter um aparelho desses!
-- Antes, eu queria ser bombeiro, mas agora quero ser inventor.
-- Que bacana, Nino!
-- Às vezes fico pensando num monte de coisas que podiam ser inventadas... Um xampu com espuma-fazedora imediata de cabelos, um óculos de chuva com limpador de vidro, e também um escorregador com botão de marcha-a-ré pra gente subir sentado e escorregar de novo quantas vezes quiser. Já pensou? Dava pra brincar um tempão sem cansar nunca!
-- Nossa, Nino, quantas ideias incríveis...
-- É por isso que quero ser inventor. Falta tanta coisa nesse mundo!
...
Nino é o personagem criado pelo meu parceiro Daniel Kondo para o ITACI -- Instituto de Tratamento do Câncer Infantil--, e essa conversa faz parte da história que estamos preparando juntos.    

19 de set. de 2012

Reviravento

Vento é assim: muda de jeito e de direção
Pode ser cortante como tesoura
E consegue varrer o chão sem vassoura

Leva e traz cheiro de chuva, de bolo e de flor
Refaz o desenho das nuvens
Refresca o sol, alivia o calor

Vai e vem, levando folha, papel e pensamento
Vem e vai, imprevisível a cada momento

Faz a gente ficar arrepiada, alegre e também triste
Faz a gente lembrar que as coisas invisíveis existem

18 de set. de 2012

Max (2)

Eu andava atrás de um nome para certo personagem quando o próprio apareceu na fila da padaria -- contei essa história aqui, no mês passado. Confesso que ainda estava pensando será que isso, será que aquilo, será que Max? A resposta apareceu ontem no meu mural do facebook. Obrigada, Eunícia Fernandes!   

13 de set. de 2012

Relicário

No começo, era só um vaso de barro não muito grande, duas mudas magrinhas, promessas de felicidade e fortuna enraizadas na mesma terra. Cresceram devagar sobre as pedras que iam chegando de tantos lugares, plantando ali histórias de rios, montanhas e dias de sol. Hoje as árvores tocam o teto da sala, abraçadas dentro de um vaso largo e amarelo, junto com os cristais transparentes e o buda da sorte, a corujinha de pedra-sabão da minha mãe, o enfeite que meu filho fez numa noite de um natal distante. Gosto de rezar assim: regando a minha planta.

11 de set. de 2012

Entrevista

Ficou uma lindeza a reportagem de Aryane Cararo sobre o "Psssiu!" no Estadinho do último sábado -- como não achei o link, selecionei alguns trechos da entrevista que ela fez comigo e com Daniel Kondo. 
De onde veio a ideia para o livro?
SILVANA -- Do próprio Silêncio! Certas coisas a gente só escuta quando conversa com ele.

Qual foi a concepção para ilustrar o livro?
DANIEL -- Criar dois personagens-perguntadores que pudessem dar voz ao Silêncio.

Por que a escolha por traços “simples” e poucas cores?
DANIEL -- Pra conseguir escutar as coisas que o Silêncio pode nos contar, quanto menos interferência, melhor!

Quem são os personagens que aparecem ilustrados no livro?
SILVANA -- Somos nós, e todo mundo que fica curioso tentando adivinhar o que o Silêncio fala.

Quando o Silêncio dorme, o ambiente fica ainda mais silencioso? Ou o barulho aparece?

SILVANA -- Depende. Às vezes, o Silêncio até ri enquanto está sonhando...
DANIEL -- Eu já acho que o Silêncio nunca dorme -- nós é que somos barulhentos e nem sempre percebemos que ele do nosso lado.

O que cansa o Silêncio?
SILVANA -- Ter que fazer sala pra visita que aparece sem convite, como certos pensamentos folgados, que vão entrando na casa dele a qualquer hora e sem pedir licença.
DANIEL -- Britadeira, furadeira, choradeira e gente que fala asneira.

Quando vocês ficam em silêncio?

SILVANA -- Sempre que consigo me desligar de todos os barulhos, os de dentro e os de fora.
DANIEL -- Em muitos momentos do dia, mas principalmente quando olho para um céu azul.

Quando o silêncio é bom?
SILVANA -- Quando ele me põe no colo e conta histórias.

6 de set. de 2012

Canhota



Diário do gesso: cada vez que tento escrever com a mão direita, lembro dos meus primeiros anos de escola e das professoras que viviam tirando a caneta da minha mão esquerda -- quem mandou não aprender?

30 de ago. de 2012

Meu querido escafóide

Você sempre esteve aqui, inteirão, junto comigo para o que desse e viesse. Apesar disso, eu não sabia nada sobre você, nem seu nome, e confesso: nosso relacionamento provavelmente seguiria sendo como sempre foi -- distante, pra não dizer inexistente. Peço desculpas, mas é que, às vezes, a gente só se dá conta de certas importâncias quando acontece uma ruptura. Se você não tivesse rachado, eu não saberia como pode ser difícil escovar os dentes, pentear o cabelo e fazer uma infinidade de coisas que sempre foram "grátis", afinal, você nunca cobrou por nada disso! Entendo sua revolta, mas, poxa, você sabe que sou da esquerda, não precisava ser tão radical assim... Bom, agora é tarde, não dá pra gente negociar, e você me pede paciência. Vamos em frente! Nosso primeiro contato foi meio traumático, é verdade, mas temos pelo menos trinta dias pra ajustar as coisas e restabelecer o nosso vínculo. Enquanto isso, aproveito pra conhecer melhor o seu irmão gêmeo que tem feito o possível e o impossível pra me mostrar tudo o que a mão direita é capaz de fazer -- e eu que sempre chamei a pobrezinha de desajeitada?
...
No sábado, conversando com meu querido escafóide, no pátio do pronto-socorro.

24 de ago. de 2012

Eu me lembro

A vila de sobradinhos geminados, a calçada estreita, a rua de paralelepípedo, o canteiro de gerânios vermelhos, a porta com janelinha de vidro atrás da grade, o sorriso da avó abrindo a janelinha, a sala apertada, os móveis escuros, a poltrona grande com pata de cavalo, a mesa de madeira, e a menina sentada no chão, debaixo da mesa-casinha, apartando a briga da boneca loira com a morena por causa do vestido vermelho de bolinhas brancas.

23 de ago. de 2012

Recreio

Estava trabalhando na maior concentração quando veio a dúvida: como é mesmo o título daquele livro? Google após google acabo chegando no blog da Livreira Anarquista, de onde tirei essa lindeza de ilustração, depois de passar um tempão me divertindo com as "pérolas da sabedoria freguesa" ou: perguntas hilárias dos clientes que essa livreira atende, em algum lugar de Portugal. Delícia de recreio.

21 de ago. de 2012

Idades

Ontem eu vi um homem de quase 50 anos sendo de novo e ainda um menino.
Aconteceu enquanto ele me contava como era bom quando o avô aparecia pra jantar e esticava a visita até a hora em que ele e os cinco irmãos tinham que ir pra cama. Naquelas noites especiais, os seis se amontoavam no quarto maior, o das meninas, pra ouvir história, mas ele, caçula da turma, nunca conseguia ficar acordado até o final, a voz do avô embalando o sono, preenchendo a imaginação com paisagens, personagens e sonhos. Ouvindo-o falar do esforço que fazia pra não adormecer e do quanto se sentia frustrado no dia seguinte, vi o homem e o menino franzindo os olhos num mesmo tempo -- o tempo que nos suspende e nos atravessa continuamente com todas as idades que vivemos: naquele momento, ele tinha 1, 2, 3... e também quase 50 anos.

20 de ago. de 2012

Bom de ler

"Tina gosta muito disso que está lhe acontecendo agora, essa nova vida que leva desde que sua amiga veio morar ao lado da sua casa. A mãe de Carlota nunca está aborrecida ou nervosa, como às vezes fica sua avó Hermínia; a mãe da sua amiga tampouco tem pressa, então as três vão andando pelas ruas como se fossem uma mãe e suas duas filhas. Ela sabe, porém, que a mãe de Carlota não é a sua mãe, e então, em meio à alegria que sente por comer amendoim ou sentar-se com as duas num banco da praça, aflora também uma tristeza que não sabe bem de onde vem e que às vezes demora muito para ir embora."

Terminei "A menina, o coração e a casa" encantada com a escrita da argentina María Teresa Andruetto.

15 de ago. de 2012

Max

Vou caminhar com a firme intenção de me concentrar nos nomes, o do cachorro e o do gato. Não estou conseguindo continuar a história sem esses nomes, e sei que não vou encontrar o que preciso no google ou nos livros. Então resolvo dar uma volta, arejar sempre é bom, vai que tropeço numa boa ideia, quem sabe? Pra não ficar andando a esmo, sigo na direção do parque e ponho em prática meu plano inicial: listar possibilidades de nomes em ordem alfabética. Nem bem começo, já empaco: um nome para o cachorro com a letra A? Que coisa mais difícil! A...Astolfo, Armagedon, ai, ai, ai, melhor ir em frente, Boris, Billy e... E o que mesmo? Muito antes de chegar à letra C, meus pensamentos atravessam a rua -- um deles se encanta com uma árvore toda florida, outro escapa pra ouvir a conversa de duas mulheres que passam e, quase ao mesmo tempo, meus olhos colam na capa da revista que o jornaleiro está pendurando na frente da banca. Estou flanando a quilômetros do meu assunto quando entro na padaria, e então acontece: enquanto espero a próxima fornada de pão de queijo, com água na boca, vejo o cão. Um golden grandão de pelo clarinho avança na minha direção, puxando o menino que segura a coleira, e quando os dois entram na fila, bem atrás de mim, adivinho que estou prestes a descobrir o nome do meu personagem.

10 de ago. de 2012

Ai, que delícia!

Quando eu menos espero ela aparece: a bruxa Creuza aterrissou na Livraria Casa de Livros e acabou até ditando o texto para o projeto Literatura na Parede.

9 de ago. de 2012

7 de ago. de 2012

Dois meninos

O mais alto deve ter sete, oito anos. O outro não tem mais do que cinco. O maior corre atrás do menor, em volta do fusca creme, estacionado num corredor-garagem, ao lado da loja de tintas. Num dos cruzamentos da rua Cerro Corá, o farol fica verde, amarelo, vermelho e novamente verde, mas os carros não se movem, então abaixo o volume do rádio e fico ouvindo a risada gostosa dos meninos, os gritinhos aflitos do pequeno cada vez que o outro inverte o sentido do pega-pega, tentando surpreendê-lo em pleno voo. Pra que a brincadeira não termine, o mais velho diminui o ritmo, quase para até o menorzinho recuperar o fôlego. É só um instante e logo estão correndo de novo, rindo do que já sabem que vai acontecer: o maior repete a armadilha, o pequeno leva o mesmo susto, como se fosse a primeira vez.
Quando o trânsito começa a fluir, avanço sem pressa, olhando os meninos pelo espelho retrovisor, agradecida por me fazerem lembrar que a alegria não precisa de motivo pra acontecer.
...
Andei remexendo em textos antigos, como esse, publicado aqui.

2 de ago. de 2012

O sabor das palavras

Framboesa: a frutinha é linda, e a palavra que a nomeia também é. Mas o sabor quase sempre me decepciona, como se o visual e a sonoridade do nome prometessem muito mais. Acontece o mesmo com a exótica carambola -- fico com água na boca, seduzida por essa palavra tão gostosa de se falar e acabo me frustrando com o sabor (geralmente) sem graça da fruta.
Dias atrás, uma amiga confirmou minha teoria lembrando da famosa sobremesa que a avó húngara preparava quando ela era pequena. O doce de carambola nem era bom, ela me diz, mas fazia o maior sucesso porque ficava lindo dentro do pote e tinha um nome delicioso: "compota de estrelas".
O sabor de certas palavras é mesmo irresistível.   

27 de jul. de 2012

Calma! (2)

A professora nem termina a pergunta e o menino já salta da carteira, braço esticado, olhos ansiosos piscando: eu sei, eu sei, eu sei. Mas quando a classe vira silêncio e todos olham pra ele, a resposta tropeça na ponta de língua, engasga e desmancha, deixando a certeza de rosto vermelho.

19 de jul. de 2012

Quinta-feira

Ainda é noite quando os primeiros carros começam a estacionar na rua ao lado do meu prédio. O zum-zum-zum de uns, falando baixinho, e de outros, montando as barracas, entra no quarto e confunde meu estado de vigília com o de um sonho, que me leva pra outra rua, outra feira, com cheiro de fruta e de pastel, e eu, tão pequena, experimentando a felicidade com gosto de maria-mole.

16 de jul. de 2012

Agitação

Árvore crespa, cabelo despenteado, pensamento inquieto.
Hoje o vento está em todos os lugares.

13 de jul. de 2012

Invisível

Toda vez que apronta, minha gata se esconde atrás da mesma poltrona, no canto da sala. É pra lá que ela corre quando é flagrada lixando as unhas no sofá proibido, e também quando a sua curiosidade acaba derrubando vaso com flor, sacolas, roupas do armário. Dependendo do tamanho do estrago, até tem bronca, mas, depois de treze anos de convivência, ela sabe que não vai ter castigo, enfim, nada a temer. Mesmo assim, sempre sai em disparada, embolando tapetes e o que mais encontrar pelo caminho num vrum veloz rumo ao velho e bom esconderijo. Daí fica lá bem quieta, com a cara enfiada debaixo da almofada, certa de estar muito bem escondida -- invisível --, apesar do bumbum empinado, aparecendo por trás do braço da poltrona, e do rabo, que continua balançando pra lá e pra cá, independente e ingênuo. Sua atitude me diz: eu não estou vendo você; então você também não está me vendo. Gosto de entrar nesse jogo -- sempre faço de conta que não sei onde ela está, e brinco, como só bicho e criança sabem brincar, inventando o mundo a partir do próprio olhar.

29 de jun. de 2012

Esforço

No início, é difícil. Muito difícil. Já passei por isso antes e sei o que me espera -- insônia, mau humor, uma tristezinha que não vai embora e, o pior de tudo pra mim: dificuldade pra me concentrar e escrever. Por essas e outras, decidi me dar férias aqui no blog: prometo voltar assim que as ideias clarearem, sem fumaça por perto.   
Um ou outro tombo está previsto, os primeiros dias sem cigarro são dolorosos, mas vale a pena. Já experimentei a delícia de andar de bicicleta sem rodinhas e é assim que quero passear daqui pra frente. Até já!

27 de jun. de 2012

Aparências

Apesar das cinco letras que sempre o acompanham, Sozinho parece ser ainda mais solitário do que Só: é como se ele se encolhesse por dentro e assim, diminutivo, nos revelasse como é grande a sua solidão.

24 de jun. de 2012

20 de jun. de 2012

Sinais

Voz contida entre parênteses, sorriso apertado entre aspas, emoções presas entre vírgulas. 
E a menina ainda baixava os olhos pra não se revelar nas entrelinhas.

Carolina

Uma amiga telefonou pra contar seguinte diálogo:
-- Vó, quer dizer que as letras têm sentimentos?
-- Claro! É tudo coisa viva: a língua que a gente fala, e as letras também!
-- Então você me ajuda a escrever uma carta pra dar junto com o desenho de aniversário da Bia?
-- Ajudo, sim.
-- Mas tem que ser um bilhete muito comprido, sabe? Bem cheio de sentimentos!
...
Tem conversa melhor do que essa pra interromper a leitura do meu "Zum-Zum-Zum das Letras"?

18 de jun. de 2012

Velhinhas simpáticas

"Assim como os seres vivos, as palavras também envelhecem. Alguns vocábulos tornam-se melhores com a idade, adquirindo cada vez mais significados e popularidade, ao passo que outros acabam caducando, praticamente sumindo do vocabulário ou sobrevivendo com sentidos distintos do original".
...
Lendo a matéria "A Idade das Palavras", publicada na revista Língua Portuguesa, pensei no quanto gosto da companhia de certas velhinhas: supimpa, esplendor, quiprocó, obtuso, tolice, parvo e bacana, por exemplo -- não são adoráveis?

15 de jun. de 2012

Parquinho

Às vezes, estou no escorregador e o texto desliza sem dificuldade, rápido e fluído, até o final do parágrafo. Quando a brincadeira termina, dá vontade de repetir: encarar meia dúzia de degraus pra chegar de novo ao topo sempre exige algum esforço, quase nada perto da promessa de alegria no próximo mergulho. No gira-gira, tudo fica embaralhado e tem vertigem. Pode dar tontura, então vem o impulso de colocar os pés no chão, mas o bom é se deixar levar, cada vez numa direção. E sempre tem o balanço pra conduzir as palavras num vaivém gostoso, com ritmo e equilíbrio.
Como eu gosto de brincar nesse lugar.

14 de jun. de 2012

Vem!

Querida Ideia, tudo bem? Foi muito gostoso receber você aqui em casa ontem, mas, poxa, você foi embora tão rápido, a gente nem conseguiu conversar direito. Será que se chateou comigo? Bem na hora em que você apareceu eu estava tão ocupada, sei lá, me atrapalhei um pouco, acabei não conseguindo dar toda a atenção que você merece, desculpe! O pior é que nem deu tempo de pegar seu telefone, e-mail, essas coisas... Então resolvi escrever no blog porque sei que, às vezes, você passa por aqui. Bom, é isso. Se puder, aparece hoje, daí a gente toma um café com calma e fica papeando um tempão, sem pressa. Vem!

13 de jun. de 2012

11 de jun. de 2012

Quebra-cabeça


Dias atrás, comecei a escrever uma história. Depois dos primeiros parágrafos, me dei conta de que parte de um post publicado aqui há algum tempo talvez encaixasse na sequência. Deu tão certo que fiquei desconfiada: reli tudo várias vezes pra me convencer de que não tinha acabado de escrever aquele trecho. Então resolvi vasculhar meus rabiscos em cadernos antigos e fui encontrando o mesmo fio passando solto por algumas frases, esboçado numa situação ainda não concluída, às vezes apenas se insinuando numa ideia anotada às pressas.
É melhor dizer: anos atrás, comecei a escrever uma história. Depois de tantos primeiros parágrafos, acho que encontrei um recorte que, talvez, junte todas as peças desse jogo. 

6 de jun. de 2012

4 de jun. de 2012

Passeio

Começo a escrever como o turista que entra num ônibus pra dar o primeiro giro por uma cidade desconhecida: escolho um lugar perto da janela e sento confortavelmente pra apreciar a paisagem. Em certos trechos do percurso, sinto vontade de saltar do ônibus atraída por algum detalhe interessante. Penso que seria bom andar a pé por ali, com mais tempo, descobrir ruelas, quem sabe sentar numa das mesas de um café que parece tão simpático. Mas ainda não desço em nenhum ponto, quero circular mais um pouco, até pra me localizar melhor. Mesmo sabendo que não vou esquecer desses lugares, tomo nota dos endereços. Posso voltar a cada um deles nos dias seguintes se continuar sentindo vontade. No momento, a ideia é me deixar levar por caminhos que ainda não conheço. E não só: pelas pessoas também -- de vez em quando desvio os olhos da janela pra observar os personagens que entram e saem do ônibus, e lá pelas tantas começo a conversar com uma mulher que senta do meu lado. Ainda não sei se a conversa é boa nem se vou cansar do passeio antes de chegar ao ponto final. Por enquanto, o trajeto está encantando meus olhos de turista o suficiente pra que eu siga o curso da  história, mesmo sem saber até onde ela vai me levar.

1 de jun. de 2012

Tempo

De tão apressado, maio foi embora sem se despedir direito: hoje cedo levei um susto quando junho me deu bom dia.

29 de mai. de 2012

5 gostosuras

Livro-chocolate: é só experimentar um pedacinho e a imaginação fica gulosa, pedindo mais.
Livro-bala-de-goma: das histórias doces e macias, pra devorar feito criança.
Livro-picolé-de-limão: vale a pena quebrar o gelo dos primeiros capítulos e acabar se derretendo com o final.
Livro-pistache: também é duro no início, mas o sabor logo surpreende, até vicia -- é difícil parar enquanto não termina...
Livro-pipoca: tudo começa meio sem graça, com um punhado de grãos de milho e, de repente, uau, é um estouro!

28 de mai. de 2012

Atenção

Tem dias em que é assim: ligo o computador e a Atenção aproveita pra escapulir. Sai curtindo issos e aquilos no facebook, depois pula de um blog pra outro e segue passeando, distraída, gostando de se espalhar cada vez mais, sem parar em nenhum assunto. Antigamente, eu dava bronca, fazia de tudo pra chamar a Atenção de volta. Depois fui percebendo que não adianta: quando não tem compromisso importante, ela relaxa e pronto. Isso costumava me deixar muito irritada, mas, com o tempo entendi que, nesses dias, é melhor fingir que não estou ligando. Daí vou atrás dela, flutuando feito nuvem que obedece o vento -- às vezes, é só isso: um vagar sem rumo, desmanchando aqui, juntando com outra nuvem ali, sem concentrar a ponto de fazer chover alguma coisa. Mas de vez em quando a danada me leva pra lugares inesperados, onde eu dificilmente chegaria se não estivesse tão solta. Daí a Atenção para por vontade própria, bota reparo numa ideia interessante e me chama pra trabalhar.

25 de mai. de 2012

Castelo

Em mais um fim de tarde interminável, solitário como sempre, um robô fotografa sua própria sombra, inventando miragens no deserto marciano.
...
Na Folha de hoje.

24 de mai. de 2012

Voar

Quando quase me esqueço como é, releio A Senhora Meier e o Melro, de Wolf Erlbruch.

23 de mai. de 2012

Dos lugares comuns

Reclamar do trânsito é chover no molhado. Não tem lugar mais comum do que carro parado em congestionamento, e a gente lá dentro, de mãos atadas. A duras penas, saio pela esquerda, viro à direita e logo volto à estaca zero, sem ver nenhuma luz no fim do túnel. O jeito é aguentar firme, em compasso de espera, com muita paciência, que é a mãe das virtudes. Tento me consolar lembrando que a pressa é inimiga da perfeição e que devagar se vai ao longe, mas, poxa, precisa ser tão devagar? Não dá outra: chego atrasadíssima ao meu compromisso e entro correndo atrás do prejuízo. Mas os pequenos do Colégio Pentágono do Morumbi tinham preparado uma recepção tão calorosa que logo respirei aliviada, virei a página e coloquei um ponto final na minha lamúria pra fechar o dia com chave de ouro.

22 de mai. de 2012

Neymar

O sujeito arma um lance interessante, o verbo cabeceia com precisão e um complemento redondinho encaixa na frase -- parece tão fácil vendo um craque contar histórias, mas não é moleza marcar gol de placa no jogo das palavras.

20 de mai. de 2012

Presentes

Eu tinha pensado em inventar alguma coisa pra presentear os leitores do blog com um exemplar do "Zum-Zum-Zum das Letras", mas os comentários da Eunicia e da Margarida no "Convite" aí embaixo levaram o prêmio antes do sorteio. E o que era pra ser um virou dois: meninas, aguardo um e-mail de vocês com o endereço completo pra despachar os livros pra Tomar, em Portugal, e Rio de Janeiro!    

18 de mai. de 2012

O convite do senhor Alfabeto

Queridas letras, quero anunciar uma novidade. Mas, calma! Mal comecei a falar e já estou vendo alguns sinais se contorcendo de aflição. Sosseguem, não é um novo Acordo Ortográfico. Na verdade, não aconteceu nada de excepcional, ainda... Mas acho que todas vocês vão gostar! Não pretendo fazer suspense, porém preciso dizer algumas coisas antes de chegar ao ponto.

Este grupo mora na minha casa desde sempre e, se depender de mim, nunca faltará um espaço exclusivo para cada uma de vocês – afinal, é uma grande honra hospedar as vinte e seis letras do clã da Língua Portuguesa! Aqui, todas sempre terão um lugar, e tanto isso é verdade que os quartos das queridas Ká, Dáblio e Ipsilon foram reabertos assim que recebemos o comunicado oficial de que elas estavam voltando para cá.

Enfim, a família é grande e convivemos na maior harmonia porque todos respeitam as regras da casa. Sei o quanto vocês gostam de tagarelar quando saem por aí aos pares, em grupos ou mesmo sozinhas para ir ao encontro de seus respectivos sons. Acompanho esse vaivém com muito interesse e não canso de me surpreender com tudo o que vocês inventam pelo mundo afora! Mas, debaixo do meu teto, sabem que é preciso manter a ordem, permanecendo em seus devidos lugares. Por isso, só posso agradecer a todas pelo comportamento exemplar: vocês só se manifestam quando são convocadas a dizer seus nomes!

Sei que é assim que deve ser, mas...

De uns tempos para cá, ando matutando com a seguinte questão: convivemos há tantos séculos e eu nunca perguntei o que vocês pensam quando ficam aqui, tão caladas...

Então, finalmente, vamos à grande notícia do dia: resolvi convidar os fonemas para uma farra excepcional nesta casa sempre tão organizada. Isso mesmo! Hoje o som está liberado e, a partir de agora, todas podem se visitar e falar à vontade. Mas, atenção, uma de cada vez e seguindo a sequência de sempre. Não precisamos exagerar na bagunça!

O que vocês acham dessa ideia? Proponho que comecemos imediatamente. Estou ansioso para ouvir o que todas têm a dizer!

Faço minhas as palavras do senhor Alfabeto e convido todo mundo pra aparecer amanhã no lançamento do livro, a partir das 15h, na Livraria da Vila (rua Fradique Coutinho, 915). Até lá! 

16 de mai. de 2012

Espetacular

Hoje conversei com quatro turmas do 1º ano do Colégio Pentágono, em Perdizes, e, como sempre, me diverti muito com as histórias e as observações dos pequenos. Mais do que isso, ganhei o dia quando uma garotinha de seis anos olhou bem séria pra mim e perguntou: "de onde você tira essas ideias espetaculares?".
Delícia.

15 de mai. de 2012

Imã


Até o céu para pra olhar quando ela aparece inteirinha, sem cortina de nuvem, sem medo da noite, tão nua, tão lua.

A ilustração é da Maria Eugenia.

14 de mai. de 2012

Convite


O "Zum-Zum-Zum das Letras" começou aqui no blog, num certo dia de 2010, quando escrevi um post sobre a letra Zê. Eu tinha acabado de voltar de Portugal e ainda estava ouvindo o eco de palavras tão familiares que, lá, soavam como estrangeiras -- não dá pra ter certeza, mas desconfio que isso teve tudo a ver com um súbito interesse pelo som das letras e o início de uma pesquisa que me fez mergulhar no barulhento mundo dos fonemas. De todo modo, nada disso estava claro quando o Zê apareceu aqui, zangado com o Esse que vivia "usurpando seu lugar em casa, na mesa e em mil coisas gostosas por causa de um monte de regras esquisitas". Daí o Esse quis revidar: acabou mexendo com o Xis, o Ceagá, a Cedilha e, quando me dei conta, o alfabeto inteiro estava fazendo o maior zum-zum-zum.
De onde vem os personagens e que histórias vão contar? Pra mim, esse processo continua sendo bem misterioso, o que só atiça a minha curiosidade e o desejo de ouvir cada vez mais. Às vezes, dá tudo certo e surge o livro, como agora -- então sábado tem lançamento e espero todo mundo lá!

11 de mai. de 2012

Um plano

Passar o dia na toca, escrevendo.
...
A ilustração é de Franco Matticchio, capturada no Animalarium.

8 de mai. de 2012

Oito

Lembro do professor de matemática desenhando na lousa um oito deitado -- o símbolo do infinito --, como uma linha contínua girando em círculos de um tempo que não tem começo nem fim. E então coloco o oito de pé e vejo uma ampulheta por onde o tempo escoa em grãos de areia, passando tão igual e tão diferente pelos 18 anos do meu filho e pelos 80 anos do meu pai.

Onde vivem (e sempre vão viver) os monstros


"Não escrevo para crianças. Não escrevo para adultos. Escrevo e basta."
 (Maurice Sendak, 1928-2012)

7 de mai. de 2012

Uma conversa

-- Mãe, fica mais um pouco!
-- Tá bom, só mais um pouco...
-- Um, não! Dois poucos, pelo menos.
-- Combinado. Dois poucos e depois vou trabalhar.
-- Ah, então... Então fica um poucão!!!!
-- Um poucão? Mas daí é muito!
-- Isso, mãe! Fica muuuuito.

5 de mai. de 2012

Feitiço

A lua enfeitiça o mar
Maré sobe, maré desce
O mar obedece

A lua enfeitiça a gente
Noite clara, noite escura
O olhar procura

Sempre a lua

...
Porque hoje tem show especial no céu: a maior e mais brilhante lua cheia de 2012.

2 de mai. de 2012

Noite

Debaixo da cama, encolhido de frio, o monstro desistiu de assombrar e adormeceu junto com a menina, ouvindo o barulho da chuva fininha, ninando a noite, sem nenhum medo do escuro.

Uma ideia


A arquiteta canadense Wendy Tsao não inventou a roda -- segundo a reportagem publicada na Serafina,  existem muitos artesãos especializados em transformar desenhos de crianças em bonecos de verdade. De todo modo, ela tem o mérito de ter feito a a roda girar, quer dizer, gerar lucro: os bonecos criados a partir dos desenhos de seu filho Dani fizeram sucesso, as primeiras encomendas vieram em seguida e ela acabou abandonando a arquitetura pra cuidar do próprio negócio, o Child's Own Studio.
O arquiteto aqui de casa não se interessa pelo assunto, mas, se alguém se animar, tenho um monte de desenhos dos personagens que meu filho inventava quando era pequeno -- a Monstra do Amor e sua Boca Beijante, por exemplo: podia virar uma pelúcia bem simpática, não?  

26 de abr. de 2012

Felicidade

Presa no vaso de barro
Num canto da sala amarela
A árvore se estica até o teto
Só para olhar pela janela

Seus galhos mais altos
Acenam para o vento
Curvados, convidam o sol
Para entrar no apartamento

23 de abr. de 2012

O descanso do guerreiro

 
23 de abril: depois de festejar o dia inteiro, São Jorge relaxa nas nuvens de May Shuravel.

As reflexões do espelho



E nos bastidores da história... 

Xi, lá vem ela. Não falha um dia, é impressionante!
Era uma vez a história de sempre, então tenho que aguentar e dizer: ok, você é bonitona mesmo, a mais-mais tudo e blábláblá. Fazer o quê? Sou um espelho mágico, é verdade, mesmo assim sou obrigado a seguir o roteiro. Acontece que paciência tem limite até no mundo da fantasia: confesso que toda vez que a lenga-lenga recomeça fico contando os minutos até o momento em que finalmente posso dar um choque de realidade nessa bruxa. Mas, aí, ah... É uma delícia! Não sei se o pessoal percebe, mas vibro tanto que chego a ficar com medo de trincar.       

A ilustração é da Maria Eugenia.