18 de out. de 2015

casas

Pedro mora na casa amarela da rua cinza de uma cidade muito grande. Julia vive com a cabeça nas nuvens, no último andar de um prédio que arranha o céu. Caio vive pra lá e pra cá: sua casa é onde seus brinquedos estão. Cris mora dentro do seu diário e lá escreve cartas que acaba não enviando pra João, que mora em outro país, numa casa que ela não conhece. Clara ainda está morando dentro da barriga da sua mãe. João sempre diz que sua casa é duas, a do pai e a da mãe. Às vezes, Tati se imagina morando lá longe, na casa-estrela de onde sua avó manda beijos brilhantes.

5 de out. de 2015

trecho

de uma nova história:


(…) Eu tinha acabado de fazer seis anos quando ela nasceu. Mamãe queria que ela se chamasse Lúcia, como a mãe dela; papai preferia Leda, como a mãe dele. Mas quando colocaram ela no meu colo, lá na maternidade mesmo, achei que ela tinha cara de Luísa. Sei lá de onde tirei esse nome, eu não conhecia nenhuma Luísa, não que me lembre. Mas devo ter falado com tanta certeza que meus pais decidiram na mesma hora. Ficou sendo Luísa, a irmãzinha por quem abdiquei do trono de filha única na maior alegria. Podia ter sido diferente se eu tivesse dois, três anos, talvez rolasse a maior ciumeira. Todo mundo diz que é assim. Mas, aos seis, foi como ganhar um presente! Minhas amigas morriam de inveja porque a minha boneca era de verdade. Eu adorava dar mamadeira, trocar fralda, cantar pra ela dormir, e mamãe adorava, é claro – quando eu voltava da escola, ela tinha direito a recreio. Mesmo depois, quando a Lu já era mais crescidinha, eu largava tudo pra brincar com ela. Com uns dez anos, eu passava horas assistindo desenho animado e continuava me divertindo com as nossas “danças malucas”, uma espécie de samba desajeitado que sempre acabava no chão com muita risada. É verdade que de vez em quando a Lu teimava, chorava, causava! Mas a caçulinha tinha privilégios, dois minutos de castigo e pronto, mamãe logo liberava. Já eu tinha obrigação de ser paciente, afinal, era uma “mocinha”.