23 de dez. de 2010

Na minha bicicleta

Gira o pedal
Gira a roda
Gira o pensamento
Gira o mundo e o tempo
Na marcha suave do vento




Continuamos pedalando juntos em 2011. Até lá!        

(ST)

22 de dez. de 2010

Quase

Ando a pé pela minha rua e vejo doismiledez adormecendo no silêncio do bairro, na escola fechada, na praça vazia, na plaquinha que avisa a data de reabertura do petshop. Três quarteirões adiante, porém, a paisagem muda: tudo continua agitado em meio ao trânsito caótico, filas de supermercado e árvores festeiras que teimam em passar a noite em claro. O ano vai chegando ao final nesse estado de vigília parecido com o que a gente fica quando está quase dormindo e desperta, num sobressalto, porque lembra de alguma coisa importante. Mas, aqui e ali, doismiledez já cochila, prestes a cair num sono profundo.

(ST)

20 de dez. de 2010

De volta pro futuro

A bruxa Creuza andava sumida há um tempão e foi com grande alegria que recebi notícias esses dias -- ela acaba de voltar de uma viagem sensacional que já virou história e estreia no site Brincando na Rede na primeira semana de janeiro, com ilustrações da Graça Lima. Ai, que saudades!         

(ST)

15 de dez. de 2010

Bichos (*)

A pressa é um pernilongo agitado. Fica rodeando com aquele zunzunzum irritante, não disfarça a presença nem a intenção: só quer mesmo é sugar uns goles do nosso tempo-sangue de canudinho. A preocupação tem mais a ver com um mosquito chato. O danado não pica, mas fica lá, incômodo e feio, esperando um terromoto de braço ou uma ventania de mão pra sair de perto. Quando a preocupação cheira a desconfiança, a gente não vê, mas tem certeza de que tem pulga atrás da orelha. E quando ela salta, a coceira se espalha por toda parte. É diferente da dor forte de uma ferroada de abelha -- essa vai fundo e direto ao ponto. Machuca, arde e não para de latejar enquanto o ferrão não sai. Já a tristeza é uma aranha silenciosa, dessas que chegam de mansinho e vão tecendo uma teia invisível, com um emaranhado de nós que prendem na garganta e apertam o peito da gente.

(*) este texto voltou porque entraram outros bichos nessa história.

(ST)

14 de dez. de 2010

Viajar

Pra escutar certos pensamentos
Tem que parar por uns momentos
Até sentir que a cabeça flutua
A caminho do mundo da Lua

...
O texto não é novo, só voltou pra fazer companhia pra essa imagem linda (e ainda com cheiro de tinta fresquinha) da May Shuravel.    

(ST)

13 de dez. de 2010

Concorrência na família

Meu sobrinho Manoel emprestou o livro, mas avisou:  "não é pra ler à noite!". Ele e mais 28 colegas da 5ª Série capricharam no projeto de final de ano e inventaram histórias de arrepiar, com direito a suspense no cemitério, terror em porões abandonados, mistério na biblioteca e muito susto. Pra me preparar, o Manoel já foi contando o enredo da história que escreveu-- o fantasma de uma mulher que aparece no espelho da sua antiga penteadeira. Adorei o desfecho e gostei mais ainda do clima e das descrições que ele faz até o momento em que... Bem, o conto é longo, mas ele prometeu digitar tudo nas férias e postar no blog dele. Assim que a história estiver no ar, eu aviso aqui, fazendo a mesma recomendação: ler antes de dormir, nem pensar!

(ST)        

Fim de ano

Tenho corrido como o Clovis pra dar conta de dezembro.
...
Pra ver outras tiras geniais do personagem, clique aqui.

(ST)   

10 de dez. de 2010

Dois jeitos de sacudir a imaginação

Dias atrás visitei Alice no País no iPad de uma amiga. Confesso que foi difícil desgrudar do brinquedo -- a história corre e tudo voa, estica, encolhe, pula conforme a gente vai chacoalhando a tela. Não sei dizer se é gostoso ler desse jeito porque não li quase nada. Eu estava mais interessada na "coisa em si' e ficava virando as páginas rapidinho pra descobrir a próxima atração. Mas acho que a nova tecnologia pode levar muita gente a descobrir as maravilhas da Alice.
Hoje, abri o meu velhíssimo "Reinações de Narizinho" -- uma edição de 1952, da Brasiliense -- e revi esse "Mapa do Mundo das Maravilhas" desenhado por André Le Blanc. Fiquei pensando que, também aqui, a gente quer virar logo a página pra saber como a aventura continua. E isso só acontece quando a história é boa, tanto faz se ela é contada pelo iPad ou vem embrulhada no papel.

(ST)

9 de dez. de 2010

O encontro

Já estou acostumada a trabalhar olhando pras maritacas, sanhaços, bem-te-vis, sabiás e tantos outros que aparecem todos os dias. O bufê de frutas da minha janela é um sucesso e certamente está sendo divulgado de bico em bico porque a freguesia só aumenta. Enquanto o prato está cheio, a casa fica lotada, a turma não sossega antes que tudo vire casca e caroço. São interesseiros e nem escondem: aparecem pra comer e logo batem asas. Alguns até dão um tempinho na plataforma, mas eu nunca tinha visto nada parecido com o que aconteceu ontem. Esses dois sabiás chegaram juntos, não tocaram nas frutas e passaram um tempão assim, olho no olho, no maior clima. De vez em quando, o da esquerda soltava um piozinho sem parar de encarar o outro, ou melhor, a outra. Não entendo nada de pássaros, mas tive certeza de que era um casal.  Depois de um desses piozinhos dele, ela respondeu com um pio tímido e virou o pescoço, como se estivesse fazendo charme. Cheguei bem perto, fiz um monte de fotos e eles continuaram desse jeito, na deles, sem dar a mínima nem pra mim nem pras bananas.                    
 Acho que a cantada do sabiá colou porque os dois sairam juntinhos, voando na mesma direção.

(ST)

7 de dez. de 2010

O pulo do gato

                                                             New Yorker Cartoons
É por isso que eles nunca erram.

6 de dez. de 2010

Tatuagem

Tenho alguns desenhos, um ou outro bilhetinho, mas não guardei tantos registros assim da vida escolar do meu filho. Agora, que essa fase está quase terminando, pedi pra ficar com um dos seus cadernos, o de história. As páginas estão totalmente ocupadas por anotações, gráficos, referências, flechas indicando conexões. A um ano do vestibular, ele não tem muitas dúvidas sobre o que pretende fazer, mas é claro que, até lá, as coisas podem mudar. De todo modo, guardar a memória dessas aulas tem a ver com outra história -- a de uma paixão tatuada a lápis nas páginas de um caderno.

(ST)      

3 de dez. de 2010

O tempo das coisas

Acabei de ler “Ismael e Chopin”, um infantil do português Miguel Sousa Tavares que ainda não foi lançado aqui. Comprei o livro em julho, quando estive em Lisboa, mas ele saiu da mala e foi direto pra fila de espera do meu criado mudo. A história do coelho Ismael, o filho número 29 de uma família de 52 irmãos, é uma fábula linda sobre crescer e aprender tudo, inclusive a esperar, pois “todas as coisas têm o seu tempo”. Por uma dessas sincronicidades que fazem a gente pensar, o livro chegou no topo da minha pilha num momento em que eu estava matutando justamente sobre isso, chateada, porque o ano passou tão rápido (e não é sempre assim?) sem dar tempo pra que acontecesse tudo o que eu esperava. 
O coelho Ismael me fez lembrar que o tempo das coisas não bate com o ritmo da gente e mais: colocar o desejo nesse compasso é uma arte que se aprende... com o tempo. O melhor é chegar no final dessa história com a certeza de que sempre vale a pena esperar. 
(ST)               

2 de dez. de 2010

Dezembro

Tá chegando a hora de providenciar um novo calendário. Já estou com saudade de 2010 e dos gatos do Andy Warhol na minha mesa.    

(ST)       

30 de nov. de 2010

Acordar

Mesmo quando o dia amanhece com cara de choro, a conversa dos passarinhos canta.

(ST)

29 de nov. de 2010

Tempos



O tempo corre, congela ou demora
Tudo depende do que acontece em cada hora
O segredo é lembrar que entre o antes e o depois
Mora o tempo que se chama agora

Trecho do "Mistério do Tempo", ilustrado pela Cecília Rébora.

(ST)

26 de nov. de 2010

Felicidade

Presa num vaso de barro
Perto da parede amarela
A árvore se estica até o teto
Só pra olhar pela janela

(ST)

25 de nov. de 2010

Tempestade

Depois de um dia de sol, as nuvens ficaram de cabeça quente e começaram a brigar. O vento apareceu e até tentou refrescar a situação, mas logo teve pancada de chuva e o céu fechou a cara, emburrado, dando bronca com voz de trovão.

...
Acho que o verão está começando.

(ST)

Cine aquarela

Vendo os desenhos de Akira Kurosawa a gente entende porque as cenas de seus filmes parecem telas. São mesmo. Esse é o "Sei Voar: Guiado por um Anjo" que acabou não sendo filmado em "Sonhos". A exposição dos storyboards vai até o próximo dia 28, no Instituto Tomie Ohtake.

(ST)

23 de nov. de 2010

Matemática

A menina não entende a raiz quadrada
A língua dos números é complicada
 
A menina não entende trigonometria
Só vê lógica na poesia

(ST)

22 de nov. de 2010

Momento bilíngue

Pode acontecer no caixa do supermercado. A moça pergunta se encontrei tudo o que estava procurando e, de repente, o rumo de uma história abandonada há tanto tempo "aparece" entre as frutas e as verduras. Às vezes funciona assim: a gente tem que estar distraída pra encontrar a resposta de alguma coisa. 
Mas, de vez em quando, a tal resposta vem justamente quando a cabeça está concentrada em outro assunto. É mais ou menos como começar a pensar em italiano no momento em que preciso falar em inglês – acontece com vocês? Parece que o exercício de uma língua mexe com a musculatura da outra. É assim também com os textos. Ando tão compenetrada na pesquisa e no assunto de um novo livro que tem sido difícil ter outras ideias, até mesmo pra escrever aqui. E eis que, no meio de um tema completamente diferente, vejo a saída – ou pelo menos, uma chance de continuação – pra desenrolar aquele nó que estava arquivado numa pastinha do computador. A história adormecida desperta do nada com a maior disposição, intrometida e falando "em outro idioma". É uma confusão. Pode ser só conversa mole ou até certa inveja da história que está sendo escrita. De todo jeito, é bom ouvir de novo essa língua esquecida, perceber que ainda reconheço algumas palavras e que talvez ainda seja possível, em algum momento, voltar a viajar por esse outro país.   

(ST)       

19 de nov. de 2010

Aquarela

Água sobre o azul
Desenha o mar
Desmancha as ondas


Sexta-feira é dia de fazer arte na casa da May Shuravel, com a Carla Caruso, a Maria Amália Camargo e a mestra Maria Eugenia. E como não tenho nenhum talento com as tintas, sigo tentando desenhar com as palavras.

(ST)   

Diário de outra bicicleta

 
 
Viciei na Carol, personagem e nome do livro novo do Laerte.  

(ST)

18 de nov. de 2010

Dos livros

Hoje cedo reli "Um Coração Simples" e, de novo, fiquei com o meu (coração) meio apertado com a história de Félicité e seu papagaio. Recoloquei a tristeza de Flaubert na estante e me preparei pra começar a trabalhar, mas, antes, resolvi dar uma olhada no "Meio Intelectual, Meio de Esquerda", do Antonio Prata, que comprei ontem, a pedido do meu filho. Li a primeira crônica, engatei na segunda e fui saboreando as seguintes até a hora do almoço, com muito prazer.      
Sair de um livro, entrar em outro, e o mundo muda de repente.

(ST)

16 de nov. de 2010

Das ideias

Vivo atrás delas desde que me conheço por gente. Buscar ideias sobre o que escrever e, principalmente, como escrever, era rotina da minha vida de jornalista. Hoje em dia, a pauta é outra, mas a missão não mudou. É claro que a experiência ajuda, mesmo assim ainda me engancho em certas ideias-chiclete. Às vezes é uma frase que vem pronta, colorida e saborosa, cheia de promessas, só que não passa disso. Leio e releio, tentando descobrir o que virá depois, insisto e geralmente empaco -- é exatamente como um chiclete que vai perdendo o gosto, só que a gente continua mascando porque não sabe onde jogar. Já escrevi sobre as ideias-algodão-doce: essas não chegam prontas, só se insinuam, perfumadas e apetitosas, como aquela nuvem branca que vai surgindo feito mágica em volta do palitinho. O problema é que essa também perde a graça rapidinho-- costuma ser excessivamente melada, não tem conteúdo e se desmancha no ar. As ideias-ioiô vão e vem, mas têm mais chance. Às vezes, até demora um tempo pra gente pegar o jeito da coisa. Mas quando o nozinho está firme e no dedo certo, é só enrolar a ideia de novo e ficar exercitando. Em certo momento, o ioiô começa a rolar com firmeza. Daí vai longe, volta forte e tudo se encaixa.

(ST)

11 de nov. de 2010

Onde é longe?

                           
Sempre é gostoso encontrar com os pequenos, mas ontem, na 18ª Feira Cultural da Creche da USP, foi bem especial. Todo mundo tinha opinião sobre a história do mar começar ou terminar na areia, uma das perguntas do livro "Como Começa". E todos queriam saber onde fica, afinal, o meu "Longe". O livro virou tema de um trabalho muito bacana conduzido pelos professores: as crianças lembraram de alguém querido que está longe, de algum jeito. Depois, escolheram um fio da cor que, para elas, simbolizava a falta que essa pessoa faz, e ainda determinaram o comprimento desse fio, como se fosse uma espécie de fita métrica da saudade. Tudo isso foi parar num cartaz em que as próprias crianças se desenharam, com seus respectivos fios saindo delas até o "longe" de cada um -- o da distância, o da ausência e o da perda.
 "Minha avó morreu e ela está no céu, que é muito longe. Sinto falta do abraço dela".
...
"Tenho saudades da minha amiga Alícia. Ela foi morar na Espanha, que é um pouco longe".
...
"Meu pai e minha mãe brigaram. Daí, minha mãe achou melhor separar pra não ter mais brigas. Eu ligo pra ele e a gente conversa pra não ficar com muita saudade".
 
Os meninos me cercaram logo que cheguei. O Uyratã (esse bem sério, de pé, à direita) se apresentou dizendo que era meu fã e ainda fez questão de mostrar que sabia de cor vários trechos do "Como Começa". Fizemos muitas fotos, mas nem precisei escolher qual iria publicar: só podia ser essa, que eles acharam "da horíssima". Meu dia também mereceu esse superlativo.     

(ST)

10 de nov. de 2010

Chove chuva e passarinho


Cheguei no finzinho da tarde e já ia abrir a janela pra retirar as frutas da manhã quando esses dois sanhaços apareceram. Nem a ameaça de tempestade nem a árvore chicoteando o vidro espantaram a dupla de cima do melão. E quando achei que a farra estava terminando, apareceram mais dois pra ajudar a dar cabo da outra fatia.
 

Parece que a chuvinha abriu o apetite da turma.

(ST)

Agenda

O dia promete: tenho um encontro marcado na tenda de livros da 18ª Festa Cultural  da Creche da USP com várias turmas de alunos de 5 anos que já estão lendo o meu "Como Começa".

(ST)

8 de nov. de 2010

Hoje

O vento não quis conversa
Passou rápido e nem deu bom dia
Bateu portas, ventando pressa
Sem vontade de fazer poesia

(ST)

5 de nov. de 2010

Onde

No andar silencioso do gato, na flor que aparece na rachadura da calçada, num travesseiro macio e cheiroso, na primeira fatia do pudim de leite, sentindo a brisa do mar à tardinha, no ritmo do poema, no salto da bailarina, no sorriso grátis no elevador.
A delicadeza tem muitos jeitos de se revelar.

(ST)

4 de nov. de 2010

Os nojentos

São muitos e moram todos juntos, na mesma caixa. Várias aranhas gosmentas, uma lagartixa molenga, duas baratas pretas, um rato cinza peludinho, o sapo borrachudo e mais um monte de cobrinhas e minhocas pegajosas que vivem se enroscando. No meio de tudo, pedaços de coisas que já foram cobras e minhocas ou qualquer outro bicho nojentamente dilacerado. De vez em quando, uma das aranhas aparece no meio dos lençóis da cama de alguém, as baratas invadem a cozinha e o sapo gordo vai pra escola, dentro da mochila. O menino adora pregar susto em todo mundo, mas se diverte mesmo sem isso. É só abrir a caixa e espalhar a turma no chão do quarto pra começar uma história bem nojenta com a lagartixa grudando no rato ou o sapo abocanhando um ninho de minhocas.
Não sei que fim levou a caixa dos nojentos, assim como tantos outros brinquedos da infância, mas, até hoje, quando meu filho entorta a boca e franze o nariz, vejo aquele menino fazendo careta pra barata. Agora, quem me prega susto é o tempo que passou tão depressa.

(ST)

3 de nov. de 2010

Princesas

Vejo a moça vestida de noiva entrando na igreja, lembro da menina que ia pra escola com a roupa da Branca de Neve.
Era uma vez o sonho.

(ST)

1 de nov. de 2010

O tesouro

Dentro do porquinho cor-de-rosa não tinha nenhuma moeda. Só as palavras mais preciosas que ela guardava com cuidado, enroladas em tirinhas de papel.
...

Ainda passeando pelos dicionários, lembrei desse texto, já publicado aqui.

(ST)

29 de out. de 2010

Das palavras

Por conta de um novo trabalho, ando passeando bastante pelo dicionário. Por mais de um, aliás. Nesse vai pra lá e pra cá, de vez em quando estaciono em certas palavras por motivos de todo tipo: porque são muito longas, estranhas, novas ou simplesmente bonitas. Foi isso que me fez ficar olhando um tempão pra “melancolia”. Ela é sonora, melodiosa, mas não só. Ela conta o que é. Tem uma tristeza escondida no som de melancolia, e ela diz isso de um jeito quase doce, exatamente como o sentimento que a palavra nomeia. Também é assim com "alegria": é difícil pronunciar essa palavra sem sorrir ao mesmo tempo, de algum jeito. Já tentou?

(ST)

28 de out. de 2010

Encanto

A lua enfeitiça o mar
Maré sobe, maré desce
O mar obedece

A lua enfeitiça a gente
Lua cheia, lua encoberta
O olhar desperta

(ST)

27 de out. de 2010

O lugar das coisas

Dentro do pão tem miolo
Dentro da torta tem recheio
Dentro da carteira é bom ter dinheiro

Dentro da meia tem pé
Dentro da boca tem dente
Dentro do ônibus costuma ter gente

Dentro do relógio tem as horas
Dentro do baú pode ter joias
Dentro dos livros sempre tem histórias

Dentro do corpo tem os ossos
Dentro do pote às vezes tem geleia
Dentro da cabeça nasce cada ideia!

Trecho de "O lugar das coisas", que deve sair no comecinho do próximo ano, pela Callis.

(ST)

26 de out. de 2010

25 de out. de 2010

?

Curiosidade é um ponto de interrogação que vive inventando perguntas dentro da cabeça das pessoas. Qualquer pergunta sobre coisas importantes e também desimportantes. Isso não faz diferença pra curiosidade porque tudo o que ela não sabe sempre pode ser interessante -- a pergunta é justamente pra descobrir. E quanto mais a gente responde, mais ela quer saber. Às vezes, um assunto se esgota, mas ela não. É capaz até de ficar calminha durante um tempo, saboreando as novidades. Mas como é muito inquieta, logo começa a fuçar sobre novos issos e aquilos.
De pergunta em pergunta, a curiosidade acendeu a primeira lâmpada do mesmo jeito que acende os olhos de quem escuta suas dúvidas. Pode reparar: quem não dá bola para esses pontos de interrogação, nunca olha pras coisas com pontos de exclamação.

(ST)

24 de out. de 2010

200


Hoje apareceu mais uma carinha aí do lado. É gostoso ver tanta gente seguindo a minha bicicleta.

(ST)

23 de out. de 2010

21 de out. de 2010

De cabeça


Salta, menina
Mergulha na tela
Desmancha na água
Vira aquarela

Essa lindeza de ilustração é da Maria Eugenia.

(ST)

20 de out. de 2010

A turma da janela


Quem sempre passa por aqui já conhece essa turma. Eles aparecem todos os dias e eu retribuo a visita com lanches cada vez mais supimpas. No começo, nosso contato era basicamente visual -- entre uma bicada na banana e outra no mamão, eles davam uma olhadinha pra checar meus movimentos e chispavam imediatamente quando eu ameaçava me aproximar. Agora, eles até conversam comigo enquanto sirvo o café da manhã na janela. Todo dia tem história, e uma delas foi parar num livro que sai no próximo ano. Já está combinado: vamos rachar os direitos autorais.

(ST)

18 de out. de 2010

Sonhar


O pensamento flutua
Pelo mar de nuvens
Num barco-lua
...
A ilustração de Ida R. Outhwaite veio daqui.

15 de out. de 2010

Dos mistérios

Pressentimento é um perfume que a gente sente, mas não sabe de onde vem. Como se o cheiro de alguma coisa que ainda está cozinhando entrasse pela janela de repente, abrindo o apetite fora de hora. Às vezes, é uma espécie de lampejo – igual à luz de um farol que aparece do nada, no meio da neblina: um não-sei-o-quê que pisca e logo some, deixando uma impressão com cara de certeza. De um jeito ou de outro, pressentimento é sempre embaçado, como um sonho que continua se sonhando depois de acordar. E tem esse mistério de se fazer entender, mesmo sem se explicar.

(ST)

13 de out. de 2010

Longe

O tempo de sentir saudade não se conta pelo relógio. É um tempo diferente: fica suspenso no quarto arrumado demais e faz tic-tac no silêncio da casa, lembrando a todo instante que ele não está aqui.

(ST)

12 de out. de 2010

Foi assim


Poesia e mais poesia na Casa das Rosas, com o Ricardo da Cunha Lima, eu e muitas crianças que fizeram questão de ler e até declamar poemas de cor. Pra sentir o gostinho do nosso sarau, segue o "Prato do Dia", um dos textos que rechearam a tarde:

O arroz é branquinho
Quando está sozinho
Mas muda de gosto e de cor
Com qualquer caldinho

A palavra é como o arroz
Quando está só, diz uma coisa
Mas pode dizer outras
Depende do que vem depois

Porque as palavras se temperam
Combinam os sabores e surpreendem
Abrindo o apetite da gente
Cada vez com uma história diferente

(ST)

Do que você vai brincar?


Um dia delicioso pras crianças de todas as idades!
...
E quem quiser brincar de poesia está convidado para o Sarauzinho Literário, a partir das 16h, na Casa das Rosas. Até lá!

(ST)

11 de out. de 2010

Texto em movimento

-- Mãe, essa pergunta é impossível!
-- Por que?
-- Porque o mar começa e termina na areia! ...Ou não?

Foi delicioso assistir ao espetáculo do grupo Dançaberta e ver o "Como Começa" em movimento no palco. Melhor ainda foi poder ficar sentadinha lá no meio da plateia, observando a reação das crianças. Não é todo dia que a gente tem chance de "ouvir" o pensamento de um leitor.

(ST)

9 de out. de 2010

É amanhã!

O grupo Dançaberta fez uma pesquisa muito bacana sobre o universo infantil para criar o espetáculo "Começar e Cutucar: Vamos Ver Onde Dá?", colocando em movimento as imagens que despontam com a leitura dos livros "Nem Tudo se Cutuca", de Marília Fiorillo, e "Como Começa", meu e da Elma. Amanhã, às 16h, no Itau Cultural (av. Paulista, 149). Até lá!.

(ST)

8 de out. de 2010

Dia de poesia


Na próxima terça, dia 12, eu e o escritor Ricardo da Cunha Lima vamos participar do "Sarauzinho Literário", a partir das 16h, na Casa das Rosas (av. Paulista, 37). Espero vocês lá!


(ST)

7 de out. de 2010

5 de out. de 2010

Das lembranças

Lembrança é uma memória que sempre encontra um lugarzinho pra dormir dentro da gente. Tem umas que preferem a cabeça, outras se acomodam no coração, mas não só. Elas estão por toda parte e despertam de jeitos muito diferentes. As que adormecem na língua, por exemplo, às vezes abrem os olhos de repente, só por causa de um bolo de laranja, e transportam a gente pra lugares e tempos que não existem mais.
Lembrança é assim: acorda com cheiro, com música, com certas palavras ou por nada mesmo. É que algumas têm sono leve, despertam com qualquer barulhinho. Essas são meio inquietas por natureza, acordam fora de hora, manhosas, tristes, magoadas ou, ao contrário, muito contentes -- por algum motivo, não se conformam de ter virado memória. Ficam agitadas querendo dizer que alguma coisa do passado não passou de verdade.
Mas também existem as lembranças que mergulham num sono tão profundo que só espreguiçam quando se cutuca muito. Mesmo assim, continuam sonolentas e embaçadas, confundido a gente com os sonhos que elas estavam sonhando.

(ST)

4 de out. de 2010

30 de set. de 2010

Adolescência

Tive a sorte de contar com o talento da Maria Eugenia no livro-reportagem que fiz com doze adolescentes, e que deve sair ainda este ano, pela Callis. Acho que os entrevistados também vão gostar das imagens que acompanham seus depoimentos e que traduzem muito do que eles me contaram sobre o tema do livro, "O Nosso Rito a Gente Inventa".
Todos eles, de um jeito ou de outro, estão começando a voar com aquela sensação de que o mundo finalmente está em suas mãos.

(ST)

27 de set. de 2010

Aniversário


Três anos e 797 posts depois, continuo descobrindo novos caminhos todos os dias. Obrigada a todos que acompanham os passeios da bicicleta!

(ST)

24 de set. de 2010

Como começa


Um segredo começa quando a gente não conta nada
Uma amizade, quando a gente quer contar tudo
Pra saber onde as coisas vão dar, só tem um jeito: começar!


E quando a gente escreve um livro, nunca sabe onde ele pode chegar. A querida Julia Ziviani e seu grupo Dançaberta, de Campinas, juntaram o meu "Como Começa?" com o "Nem Tudo se Cutuca", da Marília Fiorillo, pra criar um espetáculo de dança para crianças. O grupo já se apresentou em várias cidades do interior e agora está chegando a São Paulo: "Começar e Cutucar: Vamos Ver Onde Vai Dar?" estreia no dia 10 de outubro, no teatro do Itaú Cultural (av. Paulista 149), às 16h. Já reservei meu lugar na primeira fila.

(ST)

23 de set. de 2010

22 de set. de 2010

Bichos


Só tenho pensado neles nos últimos dias por conta de um novo livro. O trabalho já está quase concluído -- pra dizer a verdade, só falta o título, ainda não me convenci com nenhum dos que pensei. Estou esperando sugestões da minha gata e do resto da turma: o Billy da Janette, a calopsita da Estela, o Gatão da May, a Risoleta da Maria Amália, o Pipo da Cristina, as porquinhas-da-índia da Débora e todos os outros. Tenho certeza que um dos personagens vai ter uma boa ideia.

(ST)

21 de set. de 2010

Escrever (2)

Debaixo do chuveiro, dentro de uma gaveta, no recheio do bolo, na caixinha dos óculos, num galho esquisito que não combina com a árvore, na pressa do relógio, num livro esquecido na estante, na sala de espera do dentista, enquanto o sinal está vermelho, numa fotografia antiga, no supermercado, no pulo da gata, dentro da bolsa, lendo jornal, no cheiro do café, no sonho da noite que reaparece de dia, depois do susto, no meio da música. A gente sempre pode esbarrar numa ideia que está querendo se contar.

(ST)

20 de set. de 2010

17 de set. de 2010

15 de set. de 2010

No ar

O silêncio fala outra língua
Mas também revela
É como o vento invisível
Movendo um barco a vela

(ST)

13 de set. de 2010

Cor-de-rosa


Por aqui, a primavera está começando assim.


Não é incrível ser tão suave e exuberante ao mesmo tempo?

(ST)

11 de set. de 2010

Sábado



De bicicleta, entre o rio Tejo e o poema de Alberto Caieiro. Do projeto "Os Poetas", de Rodrigo Leão e Gabriel Gomes, filmado por Nuno Trindade Lopes, editado por Abilio Vieira e enviado pra cá pela May Shuravel.

(ST)

10 de set. de 2010

9 de set. de 2010

Manhã

O vento chegou assobiando baixinho, soprou um som de violino pra acordar os passarinhos e fez a árvore balançar no ritmo da melodia.
Hoje o vento inventou a música do dia.

(ST)

7 de set. de 2010

Feriado

Aproveite o silêncio da rua
Pra escutar os seus pensamentos
Até sentir que a cabeça flutua
A caminho do mundo da Lua

(ST)

3 de set. de 2010

Nova fase


Hoje é dia de fazer arte com a turma -- tem sessão aquarela com a Maria Eugenia, a dona desse lindo estojo aí em cima, e as escritoras-ilustradoras May Shuravel, Carla Caruso e Maria Amália Camargo. Depois da fase abstrata (registrada aqui, caso alguém se anime a conferir) bom, agora entrei num lance mais figurativo, e ando fazendo experimentações com cores.



Sim, são balões.
...
Pelo menos ficou alegrinho, né?

(ST)