31 de mai. de 2010

Ruído

Às vezes, o sonho da noite passa o dia cutucando a gente, como se quisesse acordar uma ideia que continua a se sonhar.

(ST)

27 de mai. de 2010

Tarde colorida

Encontro com cafezinho tem sempre. Mas, hoje, eu e as queridas escritoras-ilustradoras May Shuravel, Maria Amália Camargo, Carla Caruso e Maria Eugenia inventamos um programinha diferente, uma tarde gostosa com pincéis e as dicas da Maria pra aprender a fazer aquarela. Por conta da minha falta de talento pra coisa, mais olhei que pintei, mas a turma produziu mesmo e eu fui registrando: nessa foto, um momento-concentração da May e da Amália, com a professora explicando alguma coisa pra Carla -- e não é que a luz que batia na parede lá atrás também resolveu fazer arte?



Pra mim, parece mágica fazer luz e sombra com água, mas pra Maria Eugenia é moleza. Olha só o que ela fez, brincando:



E pra não dizer que não tentei, aí vai o meu talvez-céu. Beeeeeeeem abstrato.



(ST)

25 de mai. de 2010

A pergunta


Papear com os pequenos sempre é uma delícia, ainda mais quando eles já estão esperando a visita da gente, como aconteceu na semana passada, no Colégio Marupiara. Alguns ficam mais quietinhos, só observando, mas a maioria quer perguntar, e sempre tem pelo menos dois com a mão levantada esperando a vez de falar (dá pra ver os dedinhos no ar, lá no canto direito?). As perguntas variam, mas tem uma que eles sempre fazem: "Quantos anos você tem?". Silêncio. Nessa hora, todo mundo presta a maior atenção. Eu costumava dizer o número, mas diante do susto que eles levam, mudei de tática. Agora digo que a minha idade varia, depende do dia. Às vezes, tenho 7, de vez em quando, tenho uns 49 ou mais. Eles até que ficam satisfeitos com a resposta, e eu também. Afinal, isso é a mais pura verdade.

(ST)

Pra viver a aventura


A gente tem que passar pela floresta.

(ST)

24 de mai. de 2010

Solidão

Sem carinho de jardineiro, o canteiro foi ficando com a cara feia, cada vez mais enrugada de galhos secos. Parecia um velho rabugento, mas era só um canteiro triste, morrendo de saudade das flores e das conversas de passarinho.

(ST)

21 de mai. de 2010

Infância

Dentro da casinha de madeira
Tem cozinha com fogão e cadeira
Sala de estar com sofá estampado
Poltroninha e até quadro pendurado

No andar de cima, um quarto enorme
Com caminha e janela sem cortina
É lá que a boneca de cabelo prateado dorme
Sonhando os sonhos da menina

(ST)

20 de mai. de 2010

Gatas e gatos

Dia desses troquei a foto aí do lado. A bruxa Creuza ficou meio assim, mas Miúda Felina gostou. Ela precisava de uma atenção especial, anda enciumada demais com tanto passarinho aparecendo na minha janela. E a foto está fazendo o maior sucesso: hoje a turminha do 1º ano A, que conheci outro dia no Colégio Pentágono, escreveu perguntando se tenho outros gatos. Não tenho, não, aqui em casa ela é gata única. Mas gosto de muitos outros gatinhos, como o Frajola, que já saiu aqui porque a Marie Ange Bordas vive fotografando. Por coincidência, ela mandou essa foto hoje:



A Missi também já apareceu aqui, mas vale a pena ver de novo esse momento-almofada que a Nicki Heiniger registrou:



(ST)

19 de mai. de 2010

Frio, garoa e bananas


Achei que hoje não ia aparecer ninguém, mas os Zés Cariocas não se intimidaram com o tempo feio. Nem os sábias -- esse aí até interrompeu o lanche pra fazer pose.


(ST)

17 de mai. de 2010

O problema

Meu avô tem cara de problema.
Acho que ele é a única pessoa pra quem pergunto "tudo bom?" querendo saber se está tudo bom mesmo. É que sempre esqueço que o problema é a cara dele: minha vó já me explicou que a culpa é daqueles riscos na testa e principalmente dos dois grandões que ficam pendurados no meio dos olhos. Outro dia, vi uma foto de quando ele era pequeno, e reparei que não tinha risco nenhum. Daí perguntei pra minha vó se isso tinha acontecido por causa de algum vento -- já me disseram que eu podia ficar vesgo pra sempre se alguém soprasse bem na hora da careta. Mas não foi nada disso: ela disse que, no começo, eram só uns risquinhos que apareciam quando meu avô ficava preocupado com alguma coisa. Depois de muitos anos e muitas coisas preocupantes, os riscos cansaram de ir e vir, então resolveram ficar lá pra sempre.
Mesmo quando lembro disso acho meio esquisito ver meu avô rindo. Não tem jeito, a cara de problema sempre estraga um pouco a piada.

(ST)

14 de mai. de 2010

Cogumeloteca


Toda vez que me atrevo no fogão acabo ligando pra minha querida amiga Tanya Volpe pra perguntar qual é o melhor tempero ou a hora certa de misturar issos com aquilos. Ela sabe tudo das artes culinárias e tem a melhor agenda dos bons restaurantes daqui e de muitos outros lugares. Esses dias, passeando pelo Fifties, descobri que ela não tem só livros na estante, ou melhor, tem outras estantes, recheadas de ingredientes deliciosos, como a dos cogumelos, com "exemplares" diferentes pra cada história -- seus preferidos são os morilles, que parecem pequenos chapéus de bruxa, mas com perninhas. Ela inventou um enredo bem saboroso com esse personagem, e a receita está aqui.

(ST)

13 de mai. de 2010

Toiiiiiiiiiiim

Tem dias em que me sinto como um daqueles personagens de desenho animado, correndo que nem doida pra tentar escapar de uma bigorna que despenca do céu, prestes a ser esmagada pelos prazos e por um monte de coisas urgentes-urgentíssimas. Engraçado é que, às vezes, bem no meio dessa confusão aparece uma ideia fresquinha, daquelas que a gente tem que moldar, do mesmo jeito que o ferreiro faz justamente com uma bigorna, moldando peças de ferro quando ainda estão quentes e meio derretidas, molinhas, querendo ganhar forma. É bom pensar nisso na hora do sufoco -- então, que venha a bigorna!

(ST)

11 de mai. de 2010

Noite

Debaixo da cama, encolhido de frio, o monstro continuou dormindo, com preguiça de assombrar. No quarto da menina, só tinha o silêncio e a sombra da coruja, voando lá fora, debaixo da chuva fininha, sem nenhum medo da noite.

(ST)

7 de mai. de 2010

Mãe

Frito os bolinhos de chuva na panela
Depois mergulho um a um no mar de açúcar e canela
É doce a saudade que eu sinto dela
...

(publicado aqui, em abril do ano passado)

6 de mai. de 2010

Sem piscar

Eu e as bolas (de qualquer tamanho) nunca nos entendemos bem. Desde pequena. Sempre foi improvável me encontrar dentro da quadra de volei ou em volta de uma mesa de ping-pong. Tipo totalmente descoordenada. Em compensação, eu era imbatível nos campeonatos de pisca-pisca: toda vez o adversário acabava piscando, e eu lá, firme, como se não piscar fosse a coisa mais natural do mundo. Não é: a gente pisca umas 20 vezes por minuto, é um abre-e-fecha automático. Esse ritmo só diminui quando os olhos esquecem de olhar e ficam pensando -- daí o pisca-pisca relaxa. Mesmo assim, dura pouco, e dependendo do pensamento a piscada começa a beliscar, justamente pra mudar de assunto. Claro que eu tinha os meus truques: quando sentia que a coisa estava pra acontecer, levantava levemente as sobrancelhas e esboçava um sorrisinho fingindo a maior segurança -- era tiro e queda, o adversário entregava os pontos na hora.
Com uns seis anos, meu filho não se conformava de perder sempre. Eu tentava explicar que ele não podia arregalar o olhão pra encarar a brincadeira, era derrota na certa! Desafiar a natureza não é o caminho. Também não adiantava ficar piscando que nem louco, antes, achando que dava pra gastar o estoque de piscadas. Acontecia exatamente o contrário, porque esse é o tipo de coisa que quanto mais se faz, mais se quer fazer. Agora ele tem 16 anos -- pois é, o tempo passou no tal do piscar de olhos! Nunca mais apostamos "quem pisca primeiro", mas, hoje em dia, ele poderia me vencer. Já descobriu como é gostoso ficar um tempão olhando para o nada, sonhando acordado, com aquele olho pensante que nem lembra de piscar.

(Silvana Tavano)

5 de mai. de 2010

Um ovni na janela


Muito gordo prum louva-a-deus, e também prum bicho-folha. Acho que é um grilo, e dos grandes. Mas não é falante, nem respondeu ao meu "bom dia" quando entrei no escritório. Ficou estacionado desse jeito um tempão, depois andou pra lá e pra cá pelo trilho da janela e parou de novo. Não tenho coragem de dar um empurrãozinho pra ele sair pela fresta. Dizem que grilo dá sorte, eu é que não vou expulsar a dita de casa. Já para os passarinhos isso foi um azar: não dá pra abrir a janela sem espantar o grilo. Hoje a turma vai ter que ter paciência -- o café da manhã no parapeito vai ser servido mais tarde.