29 de out. de 2010

Das palavras

Por conta de um novo trabalho, ando passeando bastante pelo dicionário. Por mais de um, aliás. Nesse vai pra lá e pra cá, de vez em quando estaciono em certas palavras por motivos de todo tipo: porque são muito longas, estranhas, novas ou simplesmente bonitas. Foi isso que me fez ficar olhando um tempão pra “melancolia”. Ela é sonora, melodiosa, mas não só. Ela conta o que é. Tem uma tristeza escondida no som de melancolia, e ela diz isso de um jeito quase doce, exatamente como o sentimento que a palavra nomeia. Também é assim com "alegria": é difícil pronunciar essa palavra sem sorrir ao mesmo tempo, de algum jeito. Já tentou?

(ST)

28 de out. de 2010

Encanto

A lua enfeitiça o mar
Maré sobe, maré desce
O mar obedece

A lua enfeitiça a gente
Lua cheia, lua encoberta
O olhar desperta

(ST)

27 de out. de 2010

O lugar das coisas

Dentro do pão tem miolo
Dentro da torta tem recheio
Dentro da carteira é bom ter dinheiro

Dentro da meia tem pé
Dentro da boca tem dente
Dentro do ônibus costuma ter gente

Dentro do relógio tem as horas
Dentro do baú pode ter joias
Dentro dos livros sempre tem histórias

Dentro do corpo tem os ossos
Dentro do pote às vezes tem geleia
Dentro da cabeça nasce cada ideia!

Trecho de "O lugar das coisas", que deve sair no comecinho do próximo ano, pela Callis.

(ST)

26 de out. de 2010

25 de out. de 2010

?

Curiosidade é um ponto de interrogação que vive inventando perguntas dentro da cabeça das pessoas. Qualquer pergunta sobre coisas importantes e também desimportantes. Isso não faz diferença pra curiosidade porque tudo o que ela não sabe sempre pode ser interessante -- a pergunta é justamente pra descobrir. E quanto mais a gente responde, mais ela quer saber. Às vezes, um assunto se esgota, mas ela não. É capaz até de ficar calminha durante um tempo, saboreando as novidades. Mas como é muito inquieta, logo começa a fuçar sobre novos issos e aquilos.
De pergunta em pergunta, a curiosidade acendeu a primeira lâmpada do mesmo jeito que acende os olhos de quem escuta suas dúvidas. Pode reparar: quem não dá bola para esses pontos de interrogação, nunca olha pras coisas com pontos de exclamação.

(ST)

24 de out. de 2010

200


Hoje apareceu mais uma carinha aí do lado. É gostoso ver tanta gente seguindo a minha bicicleta.

(ST)

23 de out. de 2010

21 de out. de 2010

De cabeça


Salta, menina
Mergulha na tela
Desmancha na água
Vira aquarela

Essa lindeza de ilustração é da Maria Eugenia.

(ST)

20 de out. de 2010

A turma da janela


Quem sempre passa por aqui já conhece essa turma. Eles aparecem todos os dias e eu retribuo a visita com lanches cada vez mais supimpas. No começo, nosso contato era basicamente visual -- entre uma bicada na banana e outra no mamão, eles davam uma olhadinha pra checar meus movimentos e chispavam imediatamente quando eu ameaçava me aproximar. Agora, eles até conversam comigo enquanto sirvo o café da manhã na janela. Todo dia tem história, e uma delas foi parar num livro que sai no próximo ano. Já está combinado: vamos rachar os direitos autorais.

(ST)

18 de out. de 2010

Sonhar


O pensamento flutua
Pelo mar de nuvens
Num barco-lua
...
A ilustração de Ida R. Outhwaite veio daqui.

15 de out. de 2010

Dos mistérios

Pressentimento é um perfume que a gente sente, mas não sabe de onde vem. Como se o cheiro de alguma coisa que ainda está cozinhando entrasse pela janela de repente, abrindo o apetite fora de hora. Às vezes, é uma espécie de lampejo – igual à luz de um farol que aparece do nada, no meio da neblina: um não-sei-o-quê que pisca e logo some, deixando uma impressão com cara de certeza. De um jeito ou de outro, pressentimento é sempre embaçado, como um sonho que continua se sonhando depois de acordar. E tem esse mistério de se fazer entender, mesmo sem se explicar.

(ST)

13 de out. de 2010

Longe

O tempo de sentir saudade não se conta pelo relógio. É um tempo diferente: fica suspenso no quarto arrumado demais e faz tic-tac no silêncio da casa, lembrando a todo instante que ele não está aqui.

(ST)

12 de out. de 2010

Foi assim


Poesia e mais poesia na Casa das Rosas, com o Ricardo da Cunha Lima, eu e muitas crianças que fizeram questão de ler e até declamar poemas de cor. Pra sentir o gostinho do nosso sarau, segue o "Prato do Dia", um dos textos que rechearam a tarde:

O arroz é branquinho
Quando está sozinho
Mas muda de gosto e de cor
Com qualquer caldinho

A palavra é como o arroz
Quando está só, diz uma coisa
Mas pode dizer outras
Depende do que vem depois

Porque as palavras se temperam
Combinam os sabores e surpreendem
Abrindo o apetite da gente
Cada vez com uma história diferente

(ST)

Do que você vai brincar?


Um dia delicioso pras crianças de todas as idades!
...
E quem quiser brincar de poesia está convidado para o Sarauzinho Literário, a partir das 16h, na Casa das Rosas. Até lá!

(ST)

11 de out. de 2010

Texto em movimento

-- Mãe, essa pergunta é impossível!
-- Por que?
-- Porque o mar começa e termina na areia! ...Ou não?

Foi delicioso assistir ao espetáculo do grupo Dançaberta e ver o "Como Começa" em movimento no palco. Melhor ainda foi poder ficar sentadinha lá no meio da plateia, observando a reação das crianças. Não é todo dia que a gente tem chance de "ouvir" o pensamento de um leitor.

(ST)

9 de out. de 2010

É amanhã!

O grupo Dançaberta fez uma pesquisa muito bacana sobre o universo infantil para criar o espetáculo "Começar e Cutucar: Vamos Ver Onde Dá?", colocando em movimento as imagens que despontam com a leitura dos livros "Nem Tudo se Cutuca", de Marília Fiorillo, e "Como Começa", meu e da Elma. Amanhã, às 16h, no Itau Cultural (av. Paulista, 149). Até lá!.

(ST)

8 de out. de 2010

Dia de poesia


Na próxima terça, dia 12, eu e o escritor Ricardo da Cunha Lima vamos participar do "Sarauzinho Literário", a partir das 16h, na Casa das Rosas (av. Paulista, 37). Espero vocês lá!


(ST)

7 de out. de 2010

5 de out. de 2010

Das lembranças

Lembrança é uma memória que sempre encontra um lugarzinho pra dormir dentro da gente. Tem umas que preferem a cabeça, outras se acomodam no coração, mas não só. Elas estão por toda parte e despertam de jeitos muito diferentes. As que adormecem na língua, por exemplo, às vezes abrem os olhos de repente, só por causa de um bolo de laranja, e transportam a gente pra lugares e tempos que não existem mais.
Lembrança é assim: acorda com cheiro, com música, com certas palavras ou por nada mesmo. É que algumas têm sono leve, despertam com qualquer barulhinho. Essas são meio inquietas por natureza, acordam fora de hora, manhosas, tristes, magoadas ou, ao contrário, muito contentes -- por algum motivo, não se conformam de ter virado memória. Ficam agitadas querendo dizer que alguma coisa do passado não passou de verdade.
Mas também existem as lembranças que mergulham num sono tão profundo que só espreguiçam quando se cutuca muito. Mesmo assim, continuam sonolentas e embaçadas, confundido a gente com os sonhos que elas estavam sonhando.

(ST)

4 de out. de 2010