30 de out. de 2012

São Paulo, 36ºC

é tanto calor que a gente sonha com neve
escrevescrevescreve

dá vontade de sair voando de ultraleve
escrevescrevescreve

mas, cadê o vento -- está de greve?
escrevescrevescreve

o sorvete e as ideias: tudo derrete e ferve
escrevescrevescreve

A "4ª tarde mais quente da história"me fez lembrar desse poema, publicado aqui, em 2009.

29 de out. de 2012

Poesia de letra

Quando o ci sne aparece deslizando no seu Esse
O Ó da lagoa até treme nas ondinhas do Ene  

26 de out. de 2012

Ritual

Ela entra sem fazer barulho, checa os cantos de sempre, às vezes para e investiga uma sacola ou qualquer novidade que esqueci no chão. Daí vem pra debaixo da mesa, deslizando pelo tapete, e faz questão de esbarrar na minha perna antes de saltar, certeira, pra aterrissar exatamente ao lado do computador. Não dou bola, continuo escrevendo, então ela dá uma circulada entre os papéis, arranha a capa eco-craquelenta do caderno de rascunho, depois se ajeita sobre o roteador quentinho e adormece em segundos, enquanto sigo com meu tec-tec-tec, uma mesma cantiga pra ninar a gata e acordar as palavras.

23 de out. de 2012

Tristeza

a menina prende tudo na garganta
depois aperta bem apertado
dá um, dois, três nós

mas não adianta

os olhos não precisam de voz
pra contar o que ela sente

lágrima é um tipo de palavra 
de letra transparente

...
É mesmo "Sobre todos nós" o texto de Marina Silva na Folha de hoje .

8 de out. de 2012

Viajar


Sigo o mapa da curiosidade pra descobrir paisagens dentro de mim.

A ilustração é de Mariana Newlands. 

5 de out. de 2012

Preocupação

É como uma nuvem que estaciona em cima da gente e encobre o pensamento em sombras, anunciando uma tempestade que nem sempre acontece.

3 de out. de 2012

Mistérios da criação

Já me surpreendi com ideias aparecendo nas situações e nos lugares mais inesperados: às vezes, é só a lembrança embaçada de um sonho, uma conversa que escuto sem querer dentro do elevador ou enquanto faço ginástica, lendo alguma coisa que não tem nada a ver, por conta do som de uma palavra. Não tem regra nem hora, e também não adianta tentar inverter o processo -- é como diz a música: enquanto eu andar distraída, o acaso vai me proteger. Mas confesso que ainda estou pasma com o que aconteceu outro dia, no primeiro encontro com a Eliane, uma nova aluna da minha oficina de escrita. Perguntei se ela tinha algum projeto pra tentar adaptar as aulas aos seus objetivos, e então ela falou sobre uma ideia que achei ótima. Fiquei tão encantada com o assunto que até conversei sobre isso com meu marido, lamentando nunca ter pensando em escrever aquela história. Na aula seguinte, para meu total e absoluto espanto, Eliane estranhou quando retomei o tema, fez uma cara esquisita e foi logo dizendo que não era bem isso, aliás, "isso" não era praticamente nada do que ela tinha imaginado. Como assim? Não sei quantas vezes pedi para ela repetir que não, a história que eu descrevia em detalhes não era a dela, e mesmo assim, continuei duvidando de tudo. Antes de começar a escrever, precisei perguntar mais uma vez pra me convencer da minha própria autoria e comemorei a sorte de poder checar tintim por tintim com a "fonte" -- afinal, como saber quando (e se) uma ideia está apenas se aproveitando de outra pra se revelar? A resposta é: mistério.

1 de out. de 2012

Escrever


Acordo cedo, abro a janela e convido a manhã pra entrar. Ela retribui, sorrindo, me chama pra tomar café na rua, fala de histórias começando no céu e na calçada. Então olho pra fora e, por um momento, hesito, enquanto escuto as palavras me chamando pra dentro, num sussurro que ecoa pelos cantos da casa.