29 de nov. de 2013

Casa (6)


(…) "Era muito mais agradável lá em casa, pensou a pobre Alice, "lá não se ficava sempre crescendo e diminuindo, e recebendo ordens aqui e acolá de camundongos e coelhos. Chego quase a desejar não ter descido por aquela toca de coelho. No entanto... no entanto... é bastante interessante este tipo de vida!" (…)

25 de nov. de 2013

Casa (5)

Ela entra pela janela e desliza rapidamente pela parede. Parece desnorteada naquela superfície branca e lisa. Desce, contornando os quadros, e de novo sobe em zigue-zague até encontrar caminho livre rumo ao ponto mais alto: avança, experimentando o teto e ali sossega por um instante, num breve descanso em sua vida nômade de lagartixa. Então me lembro de outra sala, há muitos anos, e quase escuto a voz da minha mãe dizendo: ela é feia, mas traz sorte, nunca expulse uma lagartixa de casa! Do meu lugar, olho para cima, sem me mexer -- um não-gesto que significa: fique o tempo que quiser. E agradeço a visita inesperada, que trouxe um flash do passado como um bom presságio do futuro.

19 de nov. de 2013

Casa (4)

Um jardim de tecido estampado com florzinhas delicadas convida: entra! Então abro o caderno, devagar e vou passeando o olhar pelas linhas à procura do fio de alguma história. De vez em quando, paro pra alisar as páginas em branco como se fossem paredes recém-pintadas e me pergunto se as palavras que estão chegando vão gostar de morar nesse lugar.

12 de nov. de 2013

Casa (3)

Todas as janelas estão abertas: a manhã entra devagar, quieta e quente, preenchendo o quarto sem frescor de novidade. Lá fora, o dia ainda é silêncio, mas tudo já foi acordado pelo calor e sua inquietação. O sol chama: vem! Tão alto que quase não escuto o bom dia das palavras vindo de algum canto da casa, sonolentas, se espreguiçando e esperando por mim, lá dentro.

1 de nov. de 2013

Casa

Os dias passam enquanto percorro os corredores do supermercado, espero a vez no posto de gasolina, na fila do banco, no balcão da farmácia, e a reunião marcada para as 2 começa às 3 e só engata no assunto às 4. No meio disso tudo, cruzo com tantas distrações, acenando, convidativas, vem, vamos tomar um café, e se a gente fosse ao cinema, é o último dia daquela exposição, só um giro pelo facebook, que mal tem? Muitos dias assim me levam pra longe, nem sempre consigo voltar.
Estou em casa quando tudo é silêncio: então ouço a campainha, abro a porta e finalmente encontro um lugar no sofá, rodeada pelas palavras que vem me visitar.