31 de mar. de 2008

Mentiras sinceras

"Bem sei que é nas memórias que os homens mentem mais... Quem escreve memórias arruma as coisas de jeito que o leitor fique fazendo uma alta idéia do escrevedor. Mas para isso ele não pode dizer a verdade, porque senão o leitor fica vendo que era um homem igual aos outros. Logo, tem de mentir com muita manha, para dar idéia de que está falando a verdade pura."
(a boneca Emília, em "Memórias da Emília", de Monteiro Lobato)

Porque amanhã é 1º de abril


Pinóquio (Disney, 1940)

27 de mar. de 2008

Poesia na ordem do dia

O poeta Fabrício Carpinejar discute se criança é naturalmente poeta na boa reportagem "A Infinita Infância das Palavras", publicada na edição de março da Revista da Cultura: o poeta Manoel de Barros não tem nenhuma dúvida disso, pois "a criança sente para falar em vez de falar para depois sentir, como fazem os adultos". O escritor Celso Sisto também não: "Criança é poeta quando, em seus achados cotidianos, desvenda um ângulo diferente para ver as coisas".
A poesia infantil também é tema de vários artigos da segunda edição do Tigre Albino: é de lá que transcrevo o poema de José Paulo Paes, um "Convite", como o próprio nome diz, para que leitores de qualquer idade experimentem essa brincadeira:


Poesia

é brincar com as palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
vamos brincar de poesia?

Choque de realidade

Tristes números os da pesquisa encomendada pelo Sistema FecomércioRJ e publicados no jornal O Globo : mais da metade dos brasileiros não foi ao cinema , ao teatro e nem a um show de música. Tampouco viu uma exposição de arte ou leu um livro em 2007 . Diz a matéria: "Do total de entrevistados, 69% disseram, por exemplo, que não leram nenhum livro ano passado. A falta de hábito foi o motivo alegado por 58% dos entrevistados das classes D e E, apenas 1% a menos que os das classes A e B. Apontado por muita gente como o maior vilão dos consumidores de cultura, o preço dos ingressos ou dos livros perdeu de longe para dois problemas ainda mais preocupantes, uma vez que demandam mais tempo para serem solucionados: a falta de hábito e o desinteresse."

25 de mar. de 2008

Quem não leu "Marcelo, Marmelo, Martelo"?

Na foto, ela tinha só um aninho. Setenta e cinco anos e mais de 100 livros infantis depois, a cadeira 38 da Academia Paulista de Letras passa a ser ocupada pela escritora Ruth Rocha.



24 de mar. de 2008

Uma coisa puxa a outra

Gostei da idéia de dar livros pra garotada nos faróis e já estou colocando alguns no carro hoje. Mas o assunto de ontem me fez lembrar de um texto que comecei a escrever, já faz algum tempo. Tem a ver com um menino que eu encontrava quase todos os dias, no caminho para o trabalho... Às vezes, eu comprava chicletes, outros dias, só perguntava uma ou outra coisa sobre a vida dele. Ele tinha seis anos e nada encaixava direito: o corpo, magrinho e pequeno, parecia de uma criança de quatro anos, e o olhar, triste, podia ser de alguém bem mais velho. Um dia, ele sumiu. Acabei esquecendo da história que, afinal, nem chegou a ser escrita.

"... O Robson disse que eu tenho cara de anjo, e que isso ajuda a vender chiclete. Sei não. Não vejo muito a minha cara. Lá em casa tem que subir no banquinho pra ver minha cara no espelhinho da pia... E agora nem dá mais porque o espelho tá rachado. A mãe até reclamou esses dias. Acho que vou comprar um novo pra mãe. Vi lá na barraca no Cleiton. Tem com a volta cor de laranja e tem azul também. Achei o laranja mais alegre. E é maior, acho que vai dar pra ver minha cara inteira nele. Quem sabe hoje eu vendo bastante chiclete e compro aquele espelho pra mãe..."

(Silvana Tavano)

23 de mar. de 2008

Boa idéia

"Nós sempre andamos com livros no carro. Quando somos abordados por crianças nos semáforos, doamos livros em vez de dinheiro. Elas voltam para a calçada e começam a folhear".
(Do escritor e ilustrador Nelson Cruz, na Revista da Folha de hoje)

21 de mar. de 2008

Doce imaginação


Bom de ver nesses dias recheados de chocolate: Gene Wilder é Willy Wonka na primeira versão de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (1971).

20 de mar. de 2008

Oba, revistas novas!




Tem miniconto meu na segunda edição da revista Peteca, e da Carla Caruso, no número 2 da Toca! O lançamento é no próximo sábado, dia 22, a partir das 16h, na Livraria da Vila. Vamos estar por lá. Apareçam!
(Silvana Tavano)

Na casa da Emília

Delícia de conversa -- a da escritora Tatiana Belinky com minha amiga Cristiane Rogerio, editora de cultura de revista Crescer.

19 de mar. de 2008

Tem coelhos e muito mais...

[coelha.gif]
... no blog do ilustrador Jean-Claude Alphen. Vale a pena dar uma volta por lá.
(ST)

Pra não dizer que não falei de coelhos...

O elegante Edward Tulane é um coelho amado e exageradamente mimado pela menina Abilene. Quase todo de porcelana (só suas orelhas e o rabo fofo são revestidos de pele de coelho de verdade), Edward, um dia, é obrigado a viajar e acaba sendo literalmente lançado ao mar, mergulhando na longa e difícil aventura do auto-conhecimento.
"A Extraordinária Jornada de Edward Tulane" (Martins Fontes) foi um dos livros que li por indicação da Paula, uma menina encantadora, estudante do colégio Santo Inácio, com quem fiquei conversando um tempão sobre livros na Livraria da Vila. Não é difícil adivinhar o que vai acontecer e como termina a jornada heróica e transformadora do coelho de porcelana, mas o texto da americana Kate DiCamillo (traduzido por Luzia Aparecida dos Santos) é delicado, emociona na medida e dá o recado sem escorregar na pieguice. As lindas ilustrações de Bagram Ibatoulline seguem o mesmo tom. Fiquei com vontade de ler "O Tigre", da mesma autora. Alguém já leu?
(Silvana Tavano)

18 de mar. de 2008

Quem lê melhor?

Há alguns dias, a Câmara Brasileira do Livro divulgou os resultados fresquinhos do estudo feito pelo Progress in International Reading Literacy, o PIRL , analisando o comportamento de alunos do ensino primário de dezenas de países, da Aústria à Lituânia, dos Estados Unidos ao Marrocos, da Alemanha à África do Sul. O Brasil não participou dessa pesquisa que, entre outros fatos, apontou que as garotas são melhores leitoras do que seus companheiros de aula.
Estamos muitas casas atrás. Bem antes de avaliar e pesquisar quem é o leitor mais competente, precisamos formar leitores competentes. Por aqui, meninas e meninos compartilham dos mesmos problemas: falta de professores, pouco tempo na escola e altíssimas taxas de evasão escolar. As conclusões saíram de um outro estudo global recente, o "Educação para Todos", monitorado pela Unesco. Lá estamos, como outros países em desenvolvimento, associados ao vergonhoso índice que diz: até 40% dos alunos não atingem um padrão de educação mínimo em alfabetização e matemática.

(Silvana Tavano)

17 de mar. de 2008

13 de mar. de 2008

Balaio de gatos (final)

A lista de personalidades felinas não pára de crescer. A estudante Paula, de 10 anos, leitora voraz e atenta, lembrou de outros gatos-coadjuvantes bacanas, como o Mingau, da Magali, o Bichano, da Hermione, e o Silver, o "gato maldoso da madrasta da Cinderela".
Acrescento o falso Gato Félix que apareceu no Sítio do Picapau Amarelo dizendo ser tetraneto do Gato de Botas. O desenho ao lado é de 1928, mas foi só alguns anos depois, quando escreveu "Reinações de Narizinho", que Monteiro Lobato inventou esse sósia impostor: 'Um gato à-toa de roça", como bem definiu o sempre arguto Visconde de Sabugosa.
(ST)

12 de mar. de 2008

Temperamento felino (2)

O humor negro do gatinho amarelo dá o tom dessa animação canadense de 1988, baseada na canção "The Cat Came Back", do compositor Harry Miller.

(ST)

11 de mar. de 2008

Balaio de gatos (3)

Mais dois gatos inesquecíveis : o sarcástico Veludo, que tenta entender o mundo do ponto de vista dos homens...
... e o gato William, que ajuda o garoto Peter a entender o mundo do ponto e vista dos felinos.

(ST)

10 de mar. de 2008

Machado em (muitos) quadrinhos

Simão Bacamarte, o protagonista do conto o "O Alienista" já tinha sido lindamente retratado pelos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, em 2007, na coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel, da Agir (ao lado).
Um ano antes, o personagem de Machado de Assis também aparecia na coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos, editada pela Escala Educacional (abaixo).

Agora, na novíssima versão em quadrinhos lançada pela Ibep, a ironia do mestre Machado ganha a interpretação gráfica do cartunista pernambucano
Lailson de Holanda Cavalcanti.

(ST)

9 de mar. de 2008

Balaio de gatos (2)

Leitoras atentas sentiram falta de alguns gatos importantes: o protagonista do lindo filme "Um Dia, Um Gato", de 1963, que as cores e o caráter das pessoas, muito bem lembrado pela minha querida amiga, a ilustradora May Shuravel. Aí estão também Cheshire, o famoso gato de Alice, e Miuda Felina, minha gata, ausências apontadas pelas jornalistas Michele Prado e Janette Bacal.

E corrijo, em tempo, outra falha do post anterior: Alves e Araci, os gatos da bruxa Creuza.
(Silvana Tavano)

7 de mar. de 2008

Boa notícia

Há alguns dias, soube que pelo menos uma das quatro bibliotecas públicas condenadas pelo prefeito Kassab tinha chances de escapar do fechamento. A informação veio do professor Edmir Perrotti, da USP, que liderou o abaixo-assinado publicado neste e em muitos outros endereços da blogsfera, como o do meu colega Ricardo Soares. A notícia ferveu, gerando polêmica e reações fortes, nem sempre de indignação. Pois é, há quem ache que, já que não há público, o melhor a fazer é fechar -- melhor do que checar os motivos dessa falta de público (não seria o abandono a que tais espaços estão relegados?) e, num segundo momento, investir. Sim, reformar, promover, agitar, inventar e atrair... público.
De qualquer jeito, a polêmica sempre é positiva: nesse caso, acabou criando um eco que as autoridades não puderam deixar de ouvir. E, ao que parece, nenhuma das quatro bibliotecas será fechada. Esse foi o tema do escritor Ignácio de Loyola Brandão no Caderno 2 de hoje: "Semana passada, por 24 horas, o prefeito Gilberto Kassab perdeu meu voto e meu provável apoio... O assunto do fechamento de bibliotecas foi o tema da reunião da Academia Paulista de Letras, com indignação geral e a aprovação de uma carta de protesto ao prefeito. Logo depois, soubemos. Kassab, que vem de uma família de boa linhagem intelectual, afinal seu pai foi diretor de uma das melhores escolas desta cidade, o Liceu Pasteur, revogou o decreto. Descancelou. Parece que as bibliotecas continuarão. Um homem que volta atrás tem dignidade, mostra integridade. Gostaríamos que ele não só não fechasse nada, como abrisse mais bibliotecas. Que destine verbas e contrate pessoal. Que monte um projeto de modernização que avance no setor. Vejo pela cidade empresas responsáveis pela conservação de praças. Por que não conseguir empresas que se responsabilizem pela conservação de bibliotecas?".
(ST)

Balaio de gatos






















Esqueci de alguém?

(ST)

6 de mar. de 2008

Temperamento felino

A nova animação do inglês Simon Tofield explica tudo. Para um raio X completo da alma felina, recomendo rever o filme anterior, do gato-despertador.

(ST)


5 de mar. de 2008

Música, maestro!


Ele nasceu em 5 de março de 1889 e continua inspirando o mundo com sua música. No dia do aniversário do maestro Heitor Villa-Lobos, navegue pelo seu museu e ouça trechos de suas composições: A Maré Encheu vibra no tom do folclore infantil.

(Silvana Tavano)

4 de mar. de 2008

Livro animado

A dica é da minha amiga Fernanda Cirenza, que edita as grandes reportagens da revista em que trabalhamos (e que, por isso mesmo, sabe da importância de uma boa história). Aqui, a boa idéia do livro é usar a tecnologia a favor do encantamento para ensinar a ler e (tomara!) conquistar futuros leitores.

"Galope!" (ed. Sextante) é um livro para criança que está aprendendo a ler. Texto curto, rápido, fácil de entender. Mas o mais bacana dessa publicação não são as breves histórias que contém. É que o livro traz uma novidade encantadora, inclusive para os mais maduros (*). Ele é animado. Conforme vira a página, o leitor é surpreendido por imagens em movimento. O cavalo galopa, o cachorro corre, o pássaro voa e a tartaruga nada. O autor, o americano Rufus Butler Seder, inventou o sistema "scanimation" -- um processo maluco de produção, já que o livro tem que ser montado manualmente. Essa tecnologia encantou uma editora americana e agora chega às livrarias brasileiras. Vale a pena dar uma olhada nesse livro, que traz a magia explícita do hábito de ler.

(*) Sobre os "leitores mais maduros": além dos filhos, Caio, de 12 anos, e Lilla, de 8, desconfio que a própria Fernanda se divertiu muito com o livro...

(ST)

3 de mar. de 2008

Aguão: o fim, enfim!

As primeiras idéias para a história de um dragão problemático, o Aguão, não eram nada originais. Além dos nomes dos personagens -- Bafão, Chamita, senhor Flamejante e dona Labareda, entre outros --, e de uma ou outra cena mais interessante, achei, honestamente, que o enredo não tinha muito futuro. Mas, curiosamente, foi essa falta de perspectiva que acabou "esquentando" a trama: sem saber como terminar a aventura (até então bem sem graça) do protagonista, escrevi três finais e convidei os leitores a escolherem o mais bacana: um fêcho que justificasse todo aquele blablablá. E o melhor dos três foi... o quarto! Apesar do empate técnico entre o final 1 e o final 3 (até que a figura do dragão-bombeiro fez um certo sucesso), não tenho dúvida que um 4º final -- melhor chamar de 1A?-- é o melhor.
Liliane, por exemplo, concorda comigo no primeiro final: nenhum dragão que se preze (inclusive Aguão, com sua porção líquida extra) deixaria a floresta queimar só porque arrumou um emprego. Mesmo um emprego com crachá e tal. Então é claro que, ao ser convidado pela família para voltar a viver na caverna, ele não aceita, "pois agora já conquistou novas fronteiras e sendo exatamente quem é!", nas palavras de Liliane. Mas, como boa criatura mítica, Aguão fica de bem com a família. Volta às origens sempre que sente saudade ou quando é preciso apagar um incêndio, mas não abre mão de sua independência. E com bafos úmidos de pura generosidade, vive convidando os pais, irmãos e tios para visitá-lo. Edificante, exemplar.
Na conclusão de Carla, Aguão daria, sim, um pulo até a floresta -- claro que ele não se recusaria a ajudar a família e a turma toda. Mas, depois de resolver o problema do incêndio, o dragão azul seguiria seu caminho. Sua vida agora, ele sabia, era em outro lugar, longe dali. Um dia, Aguão cruza com uma draga de gênio forte, esquentadíssima, e logo sente arder o fogo da paixão. Ao seu lado (Carla: como poderia ser o nome dela?), Aguão inaugura uma nova comunidade, gerando dragões de variadas temperaturas, cores e chamas. Inspirador!
Agradeço aos leitores e leitoras do blog pela participação pra lá de criativa, e continuo aceitando outras sugestões, não só para o final, mas também para o começo e o meio da saga de Aguão. Muito melhor do que a história que, na minha opinião, continua sem salvação, foi o exercício de escrever em equipe. Prometo repetir a dose em breve, com um tema mais empolgante.
(Silvana Tavano)