27 de jul. de 2012

Calma! (2)

A professora nem termina a pergunta e o menino já salta da carteira, braço esticado, olhos ansiosos piscando: eu sei, eu sei, eu sei. Mas quando a classe vira silêncio e todos olham pra ele, a resposta tropeça na ponta de língua, engasga e desmancha, deixando a certeza de rosto vermelho.

19 de jul. de 2012

Quinta-feira

Ainda é noite quando os primeiros carros começam a estacionar na rua ao lado do meu prédio. O zum-zum-zum de uns, falando baixinho, e de outros, montando as barracas, entra no quarto e confunde meu estado de vigília com o de um sonho, que me leva pra outra rua, outra feira, com cheiro de fruta e de pastel, e eu, tão pequena, experimentando a felicidade com gosto de maria-mole.

16 de jul. de 2012

Agitação

Árvore crespa, cabelo despenteado, pensamento inquieto.
Hoje o vento está em todos os lugares.

13 de jul. de 2012

Invisível

Toda vez que apronta, minha gata se esconde atrás da mesma poltrona, no canto da sala. É pra lá que ela corre quando é flagrada lixando as unhas no sofá proibido, e também quando a sua curiosidade acaba derrubando vaso com flor, sacolas, roupas do armário. Dependendo do tamanho do estrago, até tem bronca, mas, depois de treze anos de convivência, ela sabe que não vai ter castigo, enfim, nada a temer. Mesmo assim, sempre sai em disparada, embolando tapetes e o que mais encontrar pelo caminho num vrum veloz rumo ao velho e bom esconderijo. Daí fica lá bem quieta, com a cara enfiada debaixo da almofada, certa de estar muito bem escondida -- invisível --, apesar do bumbum empinado, aparecendo por trás do braço da poltrona, e do rabo, que continua balançando pra lá e pra cá, independente e ingênuo. Sua atitude me diz: eu não estou vendo você; então você também não está me vendo. Gosto de entrar nesse jogo -- sempre faço de conta que não sei onde ela está, e brinco, como só bicho e criança sabem brincar, inventando o mundo a partir do próprio olhar.