28 de dez. de 2011

Os livros do (meu) ano

Antes que o ano termine, dou uma ajeitada na estante, constato que, mais uma vez, não consegui ler nem a metade dos livros que comprei e tento organizar uma prateleira com os candidatos à próxima leitura -- uma fila que muitas vezes é furada por achados excepcionais. Em 2011, quatro escritoras bagunçaram maravilhosamente a ordem das coisas: Maria Esther Maciel (O Livro dos Nomes); Norah Lange (Cadernos de Infância); Adriana Lunardi (A Vendedora de Fósforos); e Noemi Jaffe (Quando Nada Está Acontecendo). Não hesite em deixar qualquer um desses títulos roubar a próxima vaga na sua cabeceira.

26 de dez. de 2011

Sementes

Hoje lembrei daquela experiência que a gente fazia na escola, em algum momento do antigo curso primário: dentro de um potinho transparente, colocávamos um grão de feijão sobre um punhado de algodão embebido em água. Depois, era só deixar o recipiente num lugar bem iluminado, umedecer o algodão, caso secasse, e esperar. Em poucos dias, o feijão enrugava e logo aparecia a pontinha de um caule que cresceria rápido, feito mágica, rodeado de folhas verdinhas. Aguardo o início do ano com a mesma expectativa da menina que ficava observando os primeiros sinais de mudança dentro daquela nuvem de algodão, ansiosa para ver os brotos de tantas sementes que plantei em 2011.

21 de dez. de 2011

Amigas secretas

Que o espírito da festa
Junte formigas e cigarras
Em alegres algazarras

A ilustração é do querido Gilles Eduar.
...
Um bom Natal, e até segunda!

20 de dez. de 2011

Um presente

No seu "A Louca da Casa", a escritora espanhola Rosa Montero escreve:

"...( ) Às vezes acontece de você escrever muito acima da sua capacidade, de escrever muito melhor do que sabe escrever. E então não quer sair da cadeira, não quer respirar nem muito menos pensar, para que o milagre não se interrompa. Escrever, nesses estranhos momentos de leveza, é como dançar uma valsa muito complicada com alguém, e dançá-la perfeitamente."

Papai Noel, quero alguns momentos assim em 2012. Pode ser?

19 de dez. de 2011

Sempre

No Natal
Tem festa e presente
E a saudade
De quem está ausente

No Natal
Tudo insiste
Em ser
Alegre e triste

16 de dez. de 2011

Dezembros

Porque hoje é o dia do seu aniversário, a saudade me acordou com cheiro de mar. Depois grudou na minha pele feito areia fininha, ardendo com a falta que você me faz.

14 de dez. de 2011

Tempo

Um ano: muitos centímetros, outra voz
E você
Espelho do tempo veloz

Sempre: o jeito de olhar, a mesma expressão
E você
Espelho do tempo do coração
...
O post é de 2008, quando meu filho estava terminando a 8ª série. Ontem, durante a cerimônia de formatura do Ensino Médio, lembrei do texto e de novo me emocionei pensando nesses finais que misturam tristeza e alegria: a despedida da escola e de uma fase que sempre será lembrada com saudade vem junto com a promessa de tudo que está começando. No espelho, vejo os primeiros contornos desse novo tempo, que parece cada vez mais veloz e cada vez mais o mesmo.

13 de dez. de 2011

Sol

Lagartixa e minhoca
Sanhaço e sabiá
Coruja na toca

Hoje tem festa
Na árvore-floresta
...
A ilustração é da Maria Eugenia.

12 de dez. de 2011

4 jeitos de chorar

1. Às vezes começa por causa de um cisco: o olho pisca e se espreme tanto que logo aparece uma lágrima pra esguichar o intruso. Daí a gente pode aproveitar e derramar outras coisas que estão incomodando.
2. Também acontece por conta de um susto: a garganta aperta, engasga e devolve o que não está conseguindo engolir. Tudo acaba vazando pelos olhos.
3. De vez em quando o aperto é no peito: de tanto se espremer, o coração produz um concentrado de lágrima, próprio pra lavar a alma.
4. Certos pensamentos também fazem a gente chorar: vapores carregados de preocupação ou de lembranças ruins formam uma nuvem cinzenta que cedo ou tarde embaça os olhos e só se desfazem depois de uma boa chuva de lágrimas.

8 de dez. de 2011

No Japão

A edição bilíngue do "Como Começa" já chegou em algumas escolas do outro lado do mundo: hoje dei uma entrevista para a revista Educando, produzida em português para a comunidade brasileira que vive no Japão. Vou brindar com saquê!

Dezembro

tempo suspenso
entre um final
e um começo

6 de dez. de 2011

Personagens (2)

Entro na loja de brinquedos e pergunto se eles têm cabaninhas. Uma moça simpática me pede pra acompanhá-la até o corredor onde estão as "barracas", entre aspas que vejo desenhadas no seu sorriso de vendedora. Em seguida, ela pergunta se é para um menino ou uma menina. Acho que nunca tinha pensado no assunto desse jeito, demoro um pouco pra responder, mas vejo que a questão faz todo o sentido quando ela mostra a barraca do Batman e a toca das Princesas do Mar. Digo que é para uma menina e descubro os modelos Hello Kitty, Turma da Xuxinha, Barbie com Bolinhas, entre muitas outras barracas temáticas. Quase pergunto se a da turma do Cocoricó seria unissex, mas acho melhor não complicar as coisas. Enquanto tento escolher entre todos aqueles tons de rosa, lembro de um lençol suspenso entre o sofá e duas cadeiras, a cabaninha que eu armava na sala pra brincar sozinha, com a amiga do 9º andar e também com meu primo, sempre que ele aparecia em casa -- um espaço onde cabiam meninas, meninos e todos os personagens que a gente imaginasse, sem essas aspas que me mostram um mundo cada vez mais careta.

3 de dez. de 2011

Ostras

Um tempo atrás pensei em escrever uma história de amor entre duas ostras. Fiquei com esse tema na cabeça, imaginando como o casal poderia se cruzar, o quanto iam se achar feios -- com razão, diga-se de passagem --, e como seria difícil o romance engrenar já que, como ostras, os dois eram muito, muito tímidos. O drama teria que evoluir até que a ostra-moça, no auge da paixão, geraria uma pérola. Mas descobri que as coisas não acontecem bem assim: uma pérola se forma quando alguma substância estranha desliza pra dentro da ostra e a irrita. Daí ela se fecha e reage, tentando se defender com um reforço de madrepérola -- o mesmo material que forma a concha. Pelo que entendi, a joia nasce só nesses casos e, mesmo assim, só de vez em quando. Acho que é mais ou menos como um cisco que entra no olho, irrita e faz a gente lacrimejar, sem a parte da pérola. Conclusão: eu precisaria inventar uma situação pra incomodar a ostra. Coloquei o problema na gaveta até outro dia, quando resolvi voltar ao assunto. Na pesquisa, acabei encontrando uma verdadeira pérola, o "Consider the Oyster", escrito em 1941 pela americana M.F.K. Fisher.
...
"As ostras levam uma vida terrível, mas fascinante. De fato, suas chances de sobrevivência são minúsculas, se há alguma. Se conseguem atravessar as duas perigosas semanas da adolescência, podem encontrar um lugar limpo e tranquilo para se fixar. Então começam os anos de paixões, aventuras e ameaças. Nem ela mesma - mas porque chamá-la de ela, exceto por comodismo?-- sabe ainda se é uma ela ou um ele. Uma ostra normal nunca descobre, entra ano, sai ano, a que gênero pertence. Se a temperatura da água for adequada, ele pode se tornar uma ostra e botar milhões de ovos... Se a vida é dura, a de uma ostra é pior. Vive imóvel, silenciosa. Se escapar de todas as ameaças, será apenas para ser comida pelo homem. O corpinho frio escorrega para uma panela, ou um forno, ou ainda vivo, goela abaixo. E acabou-se".

O texto é delicioso. Não abriu meu apetite por ostras, mas sim por outros livros de M.F.K. Fisher. Quanto à história de amor, desisti: o fato "do" ostra em algum momento poder se transformar "na" ostra complicou demais o enredo.