21 de dez. de 2013

Quase

Olho pela janela e o sábado me dá bom dia em tom de domingo, quase num sussurro, como se não quisesse atrapalhar o silêncio das coisas: a escola fechada, a praça vazia, ninguém à espera do ônibus no ponto -- pelas ruas quietas do bairro, 2013 aproveita pra sossegar, saboreando o torpor de uma espécie de estado de vigília. Sabe que ainda acordará algumas vezes, sobresssaltado, nos congestionamentos dos shoppings, nas filas dos supermercados e nas avenidas barulhentas com suas árvores festeiras que teimam em passar a noite em claro.
Mas, aqui e ali, o ano já cochila, prestes a cair num sono profundo.

Até já!

12 de dez. de 2013

Olé!

O "Psssssssssssssiu!", ops, "Shhhhhhhhhhhhh!" acaba de sair no México com o selo Conaculta -- Consejo Nacional para la Cultura y las Artes. De-lí-cia.

10 de dez. de 2013

Voltando


Meses atrás -- março, pra ser exata -- viemos morar num pequeno apartamento que batizei de "LP", a saber: lar provisório. A princípio, seriam seis meses, mas quem já reformou uma casa sabe muito bem que as previsões astrológicas são mais certeiras do que as que envolvem uma obra. Assim, cá estamos, nove meses depois, esperando o ano novo com a promessa de voltar logo à nossa velha casa nova. Enquanto isso, rego um dos vasos que plantei aqui, ansiosa pela primeira floração da dama-da-noite e quando vejo o quanto a planta se enredou na pequena varanda, quase sinto o perfume adocicado da saudade que virá -- saudade de tudo que se tornou tão familiar, como se fosse permanente, neste nosso lugar provisório.

4 de dez. de 2013

Calma

Às vezes, ela entra pelos olhos, aproveitando o momento em que eles param pra acompanhar um desfile de nuvens no céu ou então grudam num livro, esquecidos de outras paisagens, encantados pelas palavras. Também acontece de ela entrar pelo nariz e se esparramar, espaçosa, preenchendo todos os cantos com ar de férias -- um ar sem pressa, mais cheio de ar. Quando ela chega, o giro dos pensamentos entra em câmera lenta, o peito alarga e o coração espreguiça, batendo no compasso de uma felicidade quieta, que se anuncia sem disparos.
Calma é assim: uma música silenciosa que muda o ritmo de tudo dentro da gente.

2 de dez. de 2013

O mistério do tempo

É verdade que dezembro anda cada vez mais apressado: no comecinho de outubro, já começa a se anunciar em forma de panetone no supermercado. Mas, e novembro, onde foi parar?

29 de nov. de 2013

Casa (6)


(…) "Era muito mais agradável lá em casa, pensou a pobre Alice, "lá não se ficava sempre crescendo e diminuindo, e recebendo ordens aqui e acolá de camundongos e coelhos. Chego quase a desejar não ter descido por aquela toca de coelho. No entanto... no entanto... é bastante interessante este tipo de vida!" (…)

25 de nov. de 2013

Casa (5)

Ela entra pela janela e desliza rapidamente pela parede. Parece desnorteada naquela superfície branca e lisa. Desce, contornando os quadros, e de novo sobe em zigue-zague até encontrar caminho livre rumo ao ponto mais alto: avança, experimentando o teto e ali sossega por um instante, num breve descanso em sua vida nômade de lagartixa. Então me lembro de outra sala, há muitos anos, e quase escuto a voz da minha mãe dizendo: ela é feia, mas traz sorte, nunca expulse uma lagartixa de casa! Do meu lugar, olho para cima, sem me mexer -- um não-gesto que significa: fique o tempo que quiser. E agradeço a visita inesperada, que trouxe um flash do passado como um bom presságio do futuro.

19 de nov. de 2013

Casa (4)

Um jardim de tecido estampado com florzinhas delicadas convida: entra! Então abro o caderno, devagar e vou passeando o olhar pelas linhas à procura do fio de alguma história. De vez em quando, paro pra alisar as páginas em branco como se fossem paredes recém-pintadas e me pergunto se as palavras que estão chegando vão gostar de morar nesse lugar.

12 de nov. de 2013

Casa (3)

Todas as janelas estão abertas: a manhã entra devagar, quieta e quente, preenchendo o quarto sem frescor de novidade. Lá fora, o dia ainda é silêncio, mas tudo já foi acordado pelo calor e sua inquietação. O sol chama: vem! Tão alto que quase não escuto o bom dia das palavras vindo de algum canto da casa, sonolentas, se espreguiçando e esperando por mim, lá dentro.

1 de nov. de 2013

Casa

Os dias passam enquanto percorro os corredores do supermercado, espero a vez no posto de gasolina, na fila do banco, no balcão da farmácia, e a reunião marcada para as 2 começa às 3 e só engata no assunto às 4. No meio disso tudo, cruzo com tantas distrações, acenando, convidativas, vem, vamos tomar um café, e se a gente fosse ao cinema, é o último dia daquela exposição, só um giro pelo facebook, que mal tem? Muitos dias assim me levam pra longe, nem sempre consigo voltar.
Estou em casa quando tudo é silêncio: então ouço a campainha, abro a porta e finalmente encontro um lugar no sofá, rodeada pelas palavras que vem me visitar.

31 de out. de 2013

28 de out. de 2013

o que é, o que é

elas também brincam de adivinhar:
nuvem de gente pra lá e pra cá
que desenho será que dá?
...
a foto veio daqui.

23 de out. de 2013

Relicário

No começo, era só um vaso de barro não muito grande, duas mudas magrinhas, promessas de felicidade e fortuna enraizadas na mesma terra. Cresceram devagar sobre as pedras que iam chegando de tantos lugares, plantando ali histórias de rios, montanhas e dias de sol. Hoje as árvores tocam o teto da sala, abraçadas dentro de um vaso largo e amarelo, junto com os cristais transparentes e o buda da sorte, a corujinha de pedra-sabão da minha mãe, o enfeite que meu filho fez numa noite de um natal distante.
Gosto de rezar assim: regando a minha planta.
...
Ontem contei essa história e lembrei do post publicado aqui.

21 de out. de 2013

horário de verão

o sol acorda cedo
e descansa e à tarde
quando vem a tempestade

mas logo reaparece
e clareia o céu
num novo amanhecer

porque é verão

o dia quase esquece
de adormecer

e a noite perde a hora
de escurecer

18 de out. de 2013

o céu que nos protege

chuva e sol, casamento de espanhol
sol e chuva, casamento de viúva


...
hoje o céu já foi azul-claro, cinza-azulado e branco-gelo.
a cor do momento é cinza-chumbo, mas o dia está só começando: tudo pode mudar.

16 de out. de 2013

14 de out. de 2013

Preocupação

É como uma nuvem que encobre o pensamento, anunciando uma tempestade que nem sempre acontece.

7 de out. de 2013

Escrever

É como mobiliar uma casa vazia.
Às vezes começo colocando um sofá e tapetes na sala. De vez em quando, os primeiros móveis vão direto para o quarto, e é lá que fico morando um tempão, esquecida dos outros espaços da casa. 
Habitar um novo texto: cada vez acontece de um jeito, mas uma história só termina quando a casa está completa, com roupas dentro do armário, cheiro de bolo na cozinha, portarretratos e objetos espalhando lembranças por todos os cantos.
Enquanto moro nesse lugar, muitas vezes mudo a decoração, hospedo pessoas que vão e vem, aprendo a conviver com quem vai ficando. No final, quase sempre é difícil abandonar essa morada – tudo em volta já se tornou querido e familiar demais. A hora de ir embora sempre é um pouco triste, mas não só:  também fico feliz vendo a casa finalmente pronta pra receber visitas. 
Depois disso, passo um tempo perambulando pela cidade, me atrevo por bairros desconhecidos, descubro ruas simpáticas e, em algum momento, me interesso por outro endereço. Nos primeiros dias, estranho os barulhos da vizinhança, a cara do jornaleiro, a distância até a padaria. Mesmo assim, decido ficar porque, depois de pintar as paredes de branco e passear sem pressa pelos ambientes ainda vazios, sinto o perfume de uma história novinha em folha misturado ao cheiro da tinta fresca.

3 de out. de 2013

relógica

a espera
    estica
o tempo

    no relógio
 outra lógica
 outra língua

um ponteiro no enquanto
outro, no ainda

30 de set. de 2013

Frankfurt

No catálogo da Callis, rumo à Feira de Frankfurt: boa sorte para todos os autores brasileiros!

26 de set. de 2013

Poção

De repente sou a menina que queima a língua sem paciência de esperar o chocolate esfriar.
Às vezes o passado reaparece assim: numa noite fria, com um gosto doce e urgente.
e continuar me encantando com as Reinações da Narizinho

a imagem veio lá do Felicidário.

22 de set. de 2013

Memória

Às vezes, é uma frase ou nem isso: é só o jeito de dizer. Certa música, um cheiro inesperado, coisas que acontecem e imediatamente me colocam em outro lugar, como se eu estivesse sentada, imóvel, na cabine de um trem que me leva em alta velocidade rumo aos meus 7, talvez, 9 anos. Então uma menina acena do lado de fora do trem, sorri pra mim e no mesmo instante já está dentro do vagão, sentada ao meu lado, repetindo a frase ou trazendo de volta o perfume que agora viaja comigo. Não demora, ela se acomoda no meu colo, pouco a pouco adormece dentro de mim e, ninada pelo sacolejo rápido do trem, sonha num tempo que nunca envelhece.

15 de set. de 2013

domingo


meu pensamento voa
pelo espaço
num tempo muito curto:
gira o mundo num segundo

meu pensamento flutua
pelo espaço
num tempo distante:
volta ao passado num instante

meu pensamento decola
pelo espaço
de um outro tempo:
visita o futuro a todo momento

A ilustração é de Wolf Erlbruch

9 de set. de 2013

Como começou

Bem que eu arrisquei minhas pinceladas nas sessões de aquarela que rolaram tempos atrás na casa da May Shuravel -- pra lembrar dessa história basta clicar aqui
O melhor disso tudo foi ter acompanhado o comecinho de "Quando a Lua Tomou Chá de Sumiço", uma lindeza de livro escrito pela Maria Amália Camargo e ilustrado pela May durante aquelas tardes coloridas. Mas o melhor do melhor foi a dedicatória carinhosa que eu, Carla Caruso e Maria Eugenia ganhamos dessas duas comadres talentosas: "uma lembrança das nossas agradáveis tardes de cháquarela". Adorei! 

2 de set. de 2013

Diário de um gato

(...) Nascer foi um alívio. Depois de dois loooongos meses tentando me acomodar entre três gatas folgadas, eu já tinha perdido o humor, não aguentava ficar nem mais um minuto esmagado daquele jeito! Não havia o que fazer, então tive que aguentar firme e esperar a hora certa. Mesmo com todo aquele desconforto, fui um cavalheiro e cedi a vez pra que as três saíssem do sufoco antes de mim, afinal, a situação era difícil pra todos nós! Bom... Confesso que não fiz isso só por gentileza. Quis ser o último pra ter o gostinho de desfrutar daquele espaço todo só pra mim, pelo menos durante alguns momentos. Foi muito gostoso, pena que durou pouco; não dava pra arriscar demais, então finalmente vim ao mundo, o único macho da ninhada, branquinho como neve, e diferente em tudo o mais das minhas três irmãs chatas e acinzentadas (...).

Como tenho aparecido menos por aqui, segue um trecho de um dos motivos do sumiço.
Ao trabalho!

19 de ago. de 2013

Longe

Carros, navios e aviões transportam a gente pra longe -- cidades distantes, países que ficam do outro lado do mundo. Mas só a imaginação é capaz de nos levar ainda mais longe, viajando sem limites até o lugar onde mora a saudade.
...
Uma ideia para a quarta capa da nova edição do meu "Longe", que sai logo, logo pela Salamandra, agora com ilustrações (maravilhosas!) da (megatalentosa) Maria Wernicke. Aguardem!  

17 de ago. de 2013

É hoje!

Eu entendo: num sabadão quieto e gelado como hoje, o que pode ser melhor do que ficar em casa, lendo um bom livro ou assistindo a um episódio de Downton Abbey debaixo do cobertor?
Tenho certeza de que a Maria Eugenia também entende.
Mas acontece que estamos indo pra Livraria da Vila, lá na Fradique Coutinho, torcendo pra encontrar os amigos e festejar o nosso novo livro, tentando ignorar aquele estado de pânico pré-lançamento -- a imagem da livraria vazia, dois ou três familiares sem graça por ali, e nós duas, sentadinhas na mesa, olhando para o nosso Buááá!
Então, é isso. Claro que a gente entende. Mas vamos ficar muito felizes se vocês aparecerem por lá!

12 de ago. de 2013

Lançamento

(...) e quem disse que a gente só chora quando tem problema?
felicidade também vira lágrima,
só que essa nem parece salgada:
é um versão adocicada!

...
Maria Eugenia e eu esperamos vocês no sábado, a partir das 15h, na Livraria da Vila.

8 de ago. de 2013

(*)
Aprisionada no papel em branco, uma história me espreita pelas entrelinhas.

(*) imagem do ilustrador Berk Ozturk.

6 de ago. de 2013

mãe

num agosto de antes
uma manhã igual: clara

no mesmo céu imenso
o vento ainda dorme

uma única nuvem paira

no agosto de hoje
uma manhã igual: eternidade

no quieto das coisas
o tempo finge que para

no sempre da saudade

30 de jul. de 2013

Feitiço


a lua enfeitiça o mar
maré sobe, maré desce
o mar obedece

a lua enfeitiça o gato 
silêncio lá, silêncio cá
o mistério acontece     

a lua enfeitiça a gente
noite clara, noite escura
o olhar procura

sempre a lua

28 de jul. de 2013

Paisagem

a mãe é o mar que nunca acaba
colo de espuma macia

o pai é a montanha mais alta
que protege da ventania

o retrato da família
no desenho da menina

26 de jul. de 2013

Dicionário imaginário (8)

Inverno (s.m): 1) a estação mais fria do ano, sucede o outono e termina com o início da primavera; 2. época em que alguns animais hibernam e passam a maior parte do tempo dormindo em suas tocas e/ou cavernas; 3. período de recolhimento, em que tudo parece mais quieto: as árvores, os pássaros, as noites e também algumas pessoas.

16 de jul. de 2013

Poesia de pão com manteiga

Todas as manhãs, o pãozinho chega quente e animado:
-- Bom dia, dona manteiga, por acaso mudou de penteado?

Dura como pedra, a manteiga nunca quer saber de brincadeira:
-- Pensa que é fácil passar a noite na geladeira?

Com uma piscada crocante, diz o pãozinho galanteador:
-- Pois o frio lhe faz bem, em você só vejo frescor!

Depois disso, a manteiga sempre amolece até derreter de vez:
-- Ai de mim que não resisto ao calor de um pão francês!

...
Amanhã, a partir das 15h, "Vamos Brincar de Poesia?" na Biblioteca de São Paulo. Apareçam!

15 de jul. de 2013

Lá vem as patas, pataqui, patacolá

Duas Silvanas, a Rando e eu, contando a história do "Patinho Culpado", saindo da gráfica em breve, com o selo Caramelo. Quac!

14 de jul. de 2013

Dicionário imaginário (7)

Domingo (s.m) 1. nome do dia que se segue ao sábado e precede a segunda-feira; 2. é o primeiro dia da semana, em caráter oficial, e o último, em caráter informal, o que explica o fato de geralmente amanhecer com a preguiça do sábado e anoitecer mergulhado em certa agitação, já sob influência da segunda-feira.

11 de jul. de 2013

Dicionário imaginário (6)

Tempestade (s.f.) 1. fenômeno atmosférico que produz grandes estrondos no céu; 2. resultado do choque entre nuvens destemperadas, provocando briga ruidosa com gritos de trovões, fúria de relâmpagos, explosão de raios e fortes pancadas de chuva; 3. fig: t. em copo de água: estardalhaço quase sempre exagerado e desnecessário; fig. 2: t. emocional: agitação geralmente silenciosa encobrindo emoções e/ou sentimentos em clima de tormenta.

9 de jul. de 2013

Dicionário imaginário (5)

Inquietação (s.f.) 1. o mesmo tipo de agitação que as ondas provocam no mar; 2. vento que mexe com tudo o que está sossegado; 3. alguma coisa que ainda não sabe falar, mas insiste em fazer barulho dentro das pessoas.

5 de jul. de 2013

Dicionário imaginário (4)

Delicadeza (s.f) 1. característica do que é delicado; 2. impressão ou sensação provocadas pelos mais diversos estímulos, tais como: suflês saindo do forno, bailarinas voando na música, florzinhas que nascem em rachaduras do asfalto, travesseiros de plumas, ciranda de pássaros, sombra de árvore em dia de sol, sorriso grátis no elevador.

2 de jul. de 2013

Chuva

hoje o cinza tingiu o dia:
escureceu o amanhecer
nublou o pensamento
entristeceu a poesia

1 de jul. de 2013

Vigília

Entre os olhos da noite
Frestas da luz do dia

Na fronteira do sonho
Meu pensamento vigia

...
A ilustração é da Maria Eugenia.

28 de jun. de 2013

Brincar de poesia

abracadabra: um, dois, três!
ué, não vai sair coelho dessa vez?

abracadabra: toc, toc, toc!
hmm, essa mágica precisa de um retoque...

abracadabra: tum, tum, tum!
nada de coelho! nem ao menos um?

abracadabra: ora, ora, ora!
vejam só: tem letra saindo da cartola!

abrapalavra: um, dois, três!
e agora aparecem as, bês e cês!

abrapalavra: toc, toc, toc!
oba, mil letrinhas no estoque!

abrapalavra: ora, ora, ora!
quantas palavras, e lá vem história!

abracadabra, abrapalavra, salabim:
que delícia é fazer mágica assim!
...
Venham brincar comigo no próximo dia 17, na Biblioteca São Paulo, a partir das 15h.

25 de jun. de 2013

19

Você me olhou de um jeito tão sério que fiquei sem graça. Tinha imaginado o nosso primeiro encontro de tantas maneiras, nunca assim: silencioso, quase solene. Eram 11h10, fazia um frio danado lá fora e, por um momento, ficamos nos encarando com estranheza, ainda sob o impacto de termos sido separados -- o cordão que nos unia numa intimidade tão absoluta tinha sido cortado.
De repente, era assim: eu e você.
Diferente do que sempre pensei, o amor não explodiu naquele instante, óbvio, imediato. Foi vindo devagar, dia após dia, e se tecendo forte, num laço invisível, macio e elástico, que segue crescendo à medida em que você também cresce.
Às vezes, você entra em casa e me dá oi daquele jeito sério. Dezenove anos depois, reconheço o mesmo olhar da maternidade e, inesperadamente, sinto uma onda de amor que explode vendo você chegar mais uma vez.

24 de jun. de 2013

Quacs!

Treze patos e duas Silvanas: vem aí "O Patinho Culpado", meu primeiro livro com o selo Caramelo e também a primeira parceria com a talentosa xará Silvana Rando.

20 de jun. de 2013

Nas ruas

"(...) Existe um outro mundo na barriga deste mundo (...)".
Nos últimos dias, lembrei muitas vezes da entrevista do escritor Eduardo Galeano, observando a manifestação dos jovens espanhóis, em 2011.      

15 de jun. de 2013

Ovelhinhas*

Ovelha, ovelhinha
Quem mandou sair da linha?

Num rebanho tão obediente
Que história é essa de ser diferente? 

E não é que outra segue bem animada
Atrás da ovelhinha desgarrada? 

E mais uma e duas e de repente 
Quantas ovelhinhas transviadas! 

Lá vão as desencaminhadas
Berram velhas ovelhas, indignadas

O que querem essas danadas?
Pasmam tantas ovelhas, atordoadas

Em busca de um novo caminho
Canta a ovelha, ovelhinha:

Se essa rua se essa rua
Fosse minha    
...
*As ovelhas da querida Noemi Jaffe deram cria por aqui.

13 de jun. de 2013

Como Começa

Para saber onde as coisas vão dar, só tem um jeito: começar!

Torço pelos jovens que estão indo para as ruas: alguma coisa importante está começando.

4 de jun. de 2013

Dicionário imaginário (3)

Intuição (s.f) 1. um tipo de flash que dispara de repente, deixando entrever uma fotografia que ainda não foi revelada; 2. cheiros, visões, sensações, sons e/ou pensamentos que muitas vezes dão mais sentido a cada um dos nossos cinco sentidos; 3. pressentimento disfarçado de sonho; 4. mistério que se faz entender, mesmo sem se explicar.

30 de mai. de 2013

Dicionário imaginário (2)


Casa (s.f) 1. país, cidade, rua ou simplesmente o quarto para onde sempre se quer voltar depois de uma longa ausência; 2. espaço reservado para: botões (das roupas); peças de dama e de xadrez (dos tabuleiros); amigos (do coração); 3. lugar onde geralmente moram a escova de dentes, os livros e os sonhos das pessoas.

28 de mai. de 2013

Infância

Numa manhã escura como hoje, eu era pequena e tinha medo que a noite nunca terminasse. Então me escondia debaixo da coberta, encolhida no meu quarto de filha única, quietinha, até ouvir o barulho dos pratos e talheres acordando na cozinha, e sentir o cheiro bom da loção pós-barba passando pelo corredor -- mãe e pai: minhas certezas a cada amanhecer.

20 de mai. de 2013

Dona Cora

Eu não conheci dona Cora. Sei que ela gostava de história, como seu neto, e de romances, como eu. Lia revistas francesas e cantava La Violetera quando estava alegre, a mesma música com que eu, muito antes de vir a saber disso, ninava meu filho, com letras inventadas. Sei também que ela vivia mudando as cores das paredes e dos tecidos da casa, e que tinha uma primavera carmim sempre florida no jardim.
Hoje eu li um poema de Adélia Prado e pensei nela:
...
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.

Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
...
Eu não conheci dona Cora, mas chego a sentir saudade dela de tanto que a conheço. 

17 de mai. de 2013

Inverno

      noite escura
céu deserto
ninguém na rua

de repente
     entre nuvens
                luz

crescente lua
     se insinua

16 de mai. de 2013

12 de mai. de 2013

Mãe

O tempo passa pela gente
Igual e diferente

Diminui a dor
Feito unguento

Aumenta a saudade
Feito fermento

3 de mai. de 2013

Problema

Das equações que não consigo resolver: arrumo a mala em dois tempos, não sou cheia de nove horas. O x da minha questão fica entre o oito e o oitenta, e a conta nunca fecha. Levo roupa de menos ou, pior, carrego o diabo a quatro mesmo quando a viagem é rapidinha, dessas que a gente vai e volta em três palitos. Resultado: nota zero pra mim.

30 de abr. de 2013

Dicionário imaginário

Nuvem (s.f.) 1. tipo de travesseiro levíssimo, forrado com plumas de anjos, em vários tamanhos e formatos, ideal para ser usado durante o dia, proporcionando breves porém profundos momentos de repouso e relaxamento; 2. medicamento administrado por via visual, com uso liberado em altas doses e sem limitação de tempo, de efeito calmante notável no dia a dia, sem contraindicações, proporcionando alívio imediato em situações de crise através da associação de dois princípios ativos extraídos da natureza: passa-tudum (ação tranquilizante advinda da percepção de que tudo é passageiro); e cabrum-pluft (ação antiestresse, reavivando a lembrança de que todas as tempestades desmancham).

28 de abr. de 2013

Domingo

Prefiro os contos de Grimm às manchetes de jornais.

(Wisława Szymborska em “Poemas”, tradução de Regina Prazybycien, Companhia das Letras).
...
Cris, adorei o presente!

26 de abr. de 2013

Ein Vergnügen*

Selecionado pela Fundação Biblioteca Nacional dentro do programa de Apoio à Tradução de Autores Brasileiros, o "Como Começa" vai circular na próxima feira de Frankfurt com tradução assinada por Dagmar Witt.

(*) em português: "que delícia!", com tradução também assinada pela minha querida Claudia Abeling!

17 de abr. de 2013

Esse seu olhar...

Sobre o post de ontem: taí a prova de que Laura Tronconi acertou na mosca. Ou melhor, no pernilongo. Só mesmo alguém com menos de dez anos ou com a tal da "mente bambina" pra não resistir a esse simpático personagem que a ilustradora Suppa transformou em brinquedo. Fisguei meu pernilongo na Casa de Livros, mas ele e toda a Turma do Nariz estão à venda na lojinha virtual dela. Vai !

16 de abr. de 2013

Grazie!

O "Como Começa" ganhou uma resenha caprichadíssima no blog Come Marcovaldo (nome que homenageia o personagem de Italo Calvino), da tradutora e jornalista italiana Laura Tronconi. Fiquei toda pimpona com os elogios ao livro, mas um deles me deixou especialmente feliz: "Fantastico, solo una 'mente bambina' potrebbe partorire questa riflessione". Tem melhor?

15 de abr. de 2013

Antonio

Depois de chamar três vezes, a Ciça entrou no quarto e encontrou o pequeno no maior silêncio, olho grudado no livro, com essa mãozinha que encaixou sem querer na ilustração da capa pra dar a melhor resposta: "Psssssssssssssiu, mãe! Agora não dá pra falar porque eu tô lendo!" Delícia.

14 de abr. de 2013

Endominguei

Depois de uma semana cheia de pra-lás-e-pra-cás, passei o dia feito o bicho-preguiça da Carla Caruso: na maior tranquilidade, fazendo nada, e beeeeem devagar.

9 de abr. de 2013

Quase dois meses depois...

Miúda Felina e o já não tão pequeno Joaquim convivem quase em harmonia: é verdade que, de vez em quando, os dois ainda se estranham e o mau gênio da gata explode em mordidas e patadas impiedosas. Bom é que o viragato não se intimida nem guarda rancor, e isso deve estar mexendo com o instinto maternal da velha felina ou ela não se daria ao trabalho de cuidar do banho dele, quando passa um tempão literalmente lambendo a cria.

4 de abr. de 2013

O lugar das coisas

Tudo no lugar certo na hora da foto: eu, as professoras e os pequenos do Colégio Pentágono.
E tudo no lugar certo na hora da farra: os pequenos e eu, lá atrás, praticamente rolando no chão. Delícia!

1 de abr. de 2013

1º de abril

Sinto saudade da minha mãe todos os dias. Hoje não é mais aquela saudade dolorida, porque o tempo tem esse poder meio mágico de decantar as coisas: é como se a dor fosse calando até ficar quietinha, acomodada no fundo do coração. É só não remexer muito e ela apenas vai ficando por lá, sem se misturar com outras lembranças. Bom é que recordar já não dói e cenas gostosas se tornam cada vez mais cristalinas. É como se a falta virasse presença e, de alguma forma, ela sempre estivesse por perto.
Mas a saudade também vive no tempo do calendário, e não esquece de fazer visita especial nos aniversários, nas datas disso e daquilo, e no dia 1º de abril. Minha mãe começava a pensar na peça que ia pregar na gente uma semana antes e logo cedinho ligava pra contar a "novidade". Era sempre uma bobagem, um boato, uma mentirinha qualquer, mas toda vez eu caía na conversa e depois ficava me sentindo a mais boboca das bobocas quando ela vinha com a história do "1º de abril". E tinha um trote diferente pra minha irmã, outros para os netos; nesse dia, ela parecia mais criança do que todos eles juntos.
...
Lembrei deste texto, publicado aqui em 2010, porque, hoje cedo, a minha saudade acordou com a locutora da rádio CBN "brincando" com o dia da mentira. Por um instante, quase ouvi a voz da minha mãe mandando notícias pelo rádio.

29 de mar. de 2013

Céu

A mãe chama uma vez, e de novo, e lá do caixa avisa que não vai comprar mais nenhum ovo. Mas o pequeno continua parado no meio do corredor, olhos gulosamente grudados nas estrelas de chocolate, brilhando no céu do supermercado.

26 de mar. de 2013

Simples assim


-- E a alegria, como começa?
-- Hmm... A minha alegria começa e pronto. Não precisa de motivo!

Hoje, com os pequenos do Colégio Elvira Brandão, compartilhando conversas deliciosas como essa.

25 de mar. de 2013

Shhh!

Shhh!
Quiet down!
Silence is almost asleep...

No way!
He is only thinking.

How do you know?
I bet he is sleepy!

Just because he closed his eyes?
You don’t understand anything….
Really?
Then tell me: what is he thinking?
...

"Psssssssssssssiu!", traduzido por Jay Silva, no número 3 da revista Machado de Assis, dedicado à literatura para crianças e jovens.

19 de mar. de 2013

Mudança (3)

Preencher a planilha exigida pelo seguro: inventário residencial. Conto dezenas de caixas empilhadas, uma geladeira vazia e dois gatos encolhidos debaixo da cama.

16 de mar. de 2013

Mudança (2)

Abrir o armário, deixar pra trás o vestido fora de moda, a blusa que não serve mais e tantos cabides desnecessários, pendurando lembranças que só ocupam espaço.
Levar apenas o que, hoje, me veste bem. Mesmo que seja pouco.

11 de mar. de 2013

Mudança

Embalar as louças e cobrir os móveis. Encaixotar os livros. Guardar fotos e lembranças. Comprar torneiras novas, derrubar paredes, decidir entre o branco e o amarelo. Depois, passar um tempo num lugar provisório, experimentando todos os dias a sensação de que nada é permanente, com uma mistura de medo e euforia. No final, voltar para a velha casa nova, onde tudo é familiar mas diferente -- eu, o sofá e a luz entrando por uma janela que não existia.

8 de mar. de 2013

Google-cat




O zoo de Londres quer colocar todos os gatos do mundo no mapa, ou seria melhor dizer: miaupa?
Miúda Felina e Joaquim Corisco já estão .

5 de mar. de 2013

White Ravens

 

Mais uma ótima notícia: o "Psssssssssssssiu!" foi selecionado pelo White Ravens 2013, o catálogo publicado anualmente pela Internationale Jugendbibliothek -- a maior biblioteca de literatura infantil e juvenil do mundo, sediada em Munique, na Alemanha. Que delícia saber que o nosso silêncio anda fazendo todo esse barulho, né, Daniel Kondo?

4 de mar. de 2013

Felicidade é...




... saber que o "Psssssssssssssiu!" é um dos 20 títulos selecionados pela Revista Machado de Assis – Literatura Brasileira em Tradução, da Fundação Biblioteca Nacional -- para a edição especial que vai circular na próxima Feira de Bolonha, dedicada à literatura brasileira para crianças e jovens. Poxa!