30 de set. de 2009

Três jeitos de assoprar

Com alegria: as velinhas e a bolha de sabão
Com cuidado: a sopa quente e o machucado
Com força: o apito e a assombração

(ST)

29 de set. de 2009

Prato do dia

O arroz é branquinho
Quando está sozinho
Mas muda de gosto e de cor
Com qualquer caldinho

A palavra é como o arroz
Quando está só, diz uma coisa
Mas pode dizer outras
Depende do que vem depois

Porque as palavras se temperam
Mudam de gosto, engordam
E abrem o apetite da gente
Contando sempre uma história diferente


(Silvana Tavano)

28 de set. de 2009

Classificados

Sapo brejeiro procura bruxas experientes para futuro compromisso profissional.

Fantasma-fashion compra correntes (novas ou usadas) com grife.


Princesa-vende-tudo! Vestidos de baile seminovos, ótimo estado de conservação, preços convidativos. Estoque limitado.


(ST)

25 de set. de 2009

Bicho do mar no jardim

Nunca tinha reparado nessa "Serpente Marinha" que o escultor recifense Francisco Brennand mergulhou no jardim do Sesc Pinheiros. Minha foto não ficou grande coisa, mas o bicho é muito simpático, não tem pinta de monstro e, o melhor, faz a gente lembrar que dá pra ser feliz em qualquer lugar -- quem disse que serpente marinha só se dá bem vivendo no mar?

(ST)

23 de set. de 2009

Acordar


O dia cinza esqueceu de olhar o calendário, mas a primavera começa hoje.
Não é linda a imagem da Mariana Newlands?

(ST)

22 de set. de 2009

Estátua!

Outro dia fiquei um tempão observando essa moça-estátua que faz sua performance na av. Paulista, na frente do Conjunto Nacional. Ela tem um controle impressionante: fica estática, durinha, não dá pra notar nem a respiração. De vez em quando até bate um ventinho na saia dela, mas nada se mexe no rosto, nas mãos, na postura. Longos minutos assim, estátua mesmo.


Ela "acorda" quando alguém coloca uma moeda na latinha. Daí a estátua espreguiça e agradece com uma mímica cheia de graça. Mas isso às vezes demora um tempão: a maioria das pessoas passa sem prestar atenção, e também tem muita gente que vê mas não dá a menor bola. E ela lá, firme.

Parece que ela só não é invisível pros pequenos. Nem todos têm chance de entrar na brincadeira, porque a mãe ou o pai segue andando, indiferente ao pescoço que a criança continua entortando até sumir na esquina. Mas todos os que passaram enquanto fiquei por lá olharam pra ela. Valeu esperar pra ver essa menininha: foi ela quem virou estátua quando a moça abaixou pra dar um presente tirado de um saquinho.

(ST)

21 de set. de 2009

Golpe

mãe, tô me sentindo meio estranho, não abre a janela, não, por favor, acho que não vai dar pra levantar porque tá doendo... é... tá doendo... humm... é meu dente que tá doendo. o que? dentista, não, não, quer dizer, acho que não é o dente, é na boca, mas não é dente, é lá dentro, parece que é no céu da boca a dor, esquisiiiiiiiiiiiiito. se é a garganta? é, pode ser, agora que você falou... hã-hã, tá vendo? é isso mesmo, a garganta tá pegando... deve ser isso a dor. então, acho que é melhor ficar em casa hoje, né, mãe? amanhã eu explico pra professora, ela até achou que eu tava meio assim ontem. meio mole, sabe? esqueci de contar, mas ela disse que eu tava um pouco quente, não muito, acho que era aquela febre que não é febre mas vai ser. eu tô mesmo sentindo isso, mãe, daqui a pouco vai ser febre, então é bom eu dormir mais um pouquinho, você sempre diz que a gente precisa descansar quando tá gripando... deve ser gripe esse sono. então. é só descansar e daí eu fico bem ótimo, e nem vai precisar de remédio, não é bom?

(ST)

18 de set. de 2009

Catavento

Gira, gira, gira, de braços abertos, sem sair do lugar.
O vento logo vai acordar.

(ST)

Na Eslováquia


O "Como Começa" foi parar na 22ª Bienal de Ilustração da Bratislava -- parabéns pra Elma e para todos os ilustradores brasileiros que foram selecionados: Alcy, Ana Terra, Cris Eich, Cristina Biazetto, Ellen Pestili, Guto Lins, Mário Bag, Maurício Negro, Salmo Dansa, Silvia Amstalden e Thais Linhares.

15 de set. de 2009

Tantas palavras

Comecei a pedalar por aí em setembro de 2007. Não sou muito chegada em efemérides, mas fiquei com vontade de comemorar o aniversário do blog, festejar tantas palavras que saem da cartola todos os dias e agradecer os amigos que sempre aparecem. Viva!

Abracadabra, um, dois, três
Não vai sair coelho dessa vez?

Abracadabra, toc, toc, toc
Essa mágica precisa de retoque!

Abracadabra, tum, tum, tum
Nada de coelho -- nem ao menos um?

Abracadabra, ora, ora, ora
É uma letra saindo da cartola?

Abrapalavra, um, dois, três
Aparecem as, bês e cês!

Abrapalavra, toc, toc, toc
Mil palavras e mais mil no estoque!

Abrapalavra, ora, ora, ora
Tantas palavras contam uma história!

Abracadabra, abrapalavra, salabim
Que delícia é fazer mágica assim!

(Silvana Tavano)

14 de set. de 2009

...

"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho" (Mario Quintana)

Com 20 e poucos anos eu abusava das reticências. Meus primeiros contos eram cheios de frases assim, terminando sem terminar. Os três pontinhos sempre deixavam "alguma coisa" no ar -- acho que a intenção era criar certo mistério, ou, sei lá, sugerir significados mais "profundos". Quando releio um ou outro desses textos, alguns até premiados em concursos de contos daquela época, vejo que o que todas aquelas reticências pontuavam era a minha falta de coragem (e também de repertório) pra dizer as coisas até o fim. Os textos é que eram reticentes. Não dá pra exagerar: os três pontinhos só contam alguma história quando a gente usa com economia, e na hora certa.
Gosto de pensar nas reticências como Quintana definiu, mas, hoje em dia raramente me permito usar essa pontuação. Meu esforço é pra que o pensamento continue por conta própria o seu caminho mesmo depois do ponto final.

(ST)

12 de set. de 2009

Pipoca

As fadas da minha querida amiga May Shuravel estão em cartaz em setembro: o curta "As Fadas da Areia", dirigido por João Batista Melo, foi incluído no 12th Auburn International Film Festival for Children and Young Adults, e será exibido na Austrália no dias 24 e 25. Também está na programação do 7º Festival Internacional de Cinema Infantil que começa hoje -- aqui em São Paulo, duas sessões-pipoca: dia 19, às 11h30, no Cinemark do Shopping Eldorado, e dia 20, às 10h30, no Cinemark Santa Cruz.

11 de set. de 2009

O ensaio


Meu filho e os amigos também estão planejando formar uma banda. Só espero que os ensaios não sejam aqui em casa.

(ST)

10 de set. de 2009

Depois da chuva


Dias atrás, xeretando a lojinha do Instituto Moreira Salles no Conjunto Nacional, comprei uma série de postais de Haruo Ohara, um fotógrafo japonês que emigrou com a família para o Paraná em 1927, onde passou a vida trabalhando na agricultura e registrando a natureza e o dia-a-dia das pessoas do lugar. A foto "Crianças apreciando o arco-íris" foi feita em 1950, na Chácara Arara, em Londrina -- não é um registro do verdadeiro encontro do arco-íris com o pote de ouro?

(Silvana Tavano)

8 de set. de 2009

Aquele abraço

Dias atrás anotei uma ideia pra desenvolver em algum momento: uma menina que se apaixona no primeiro abraço -- é um abraço diferente, como ela nunca tinha experimentado, e que acontece bem antes do primeiro beijo. Porque tem abraço que é mais do que acolhedor. Daquele tipo que enlaça a gente, íntimo. Quando é de verdade, o abraço é um encontro.

Por coincidência, ontem recebi um abraço gostoso da querida Claudia Berkhout. Veio em forma de poesia, por e-mail: o texto anda circulando na internet e vem assinado por Mário Quintana, informação que ainda vou checar. De todo jeito, é bonito e amarrou a minha ideia de abraço com laço de fita.

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.

(ST)

4 de set. de 2009

Meteorologia

O vento deixa a menina inquieta
Faz barulho, desmancha tudo
Até o cabelo da boneca

A chuva também desanima
Não dá nem pra brincar no quintal
Se o pinga-pinga não termina

(Silvana Tavano)

3 de set. de 2009

2 de set. de 2009

Das coisas difíceis (2)

Todo mundo já passou por isso: querer adivinhar o que a outra pessoa está pensando. Às vezes nem é tão difícil assim, porque o pensamento escapa pelos olhos, sai num sorriso ou vira careta. O problema é topar com uma dessas pessoas ilegíveis -- você fala e fala e o outro só escuta com uma cara normal, simpática até, mas, sei lá, bloqueada. E você ali, louca pra saber o que a pessoa está achando... Depois de um desses encontros, fiquei pensando que alguém podia inventar o raio Z, uma espécie de primo do raio X, capaz de radiografar pensamentos. Claro que esse “esqueleto” seria meio diferente, com cores, por exemplo: tons de azul sinalizando pensamentos positivos, amarelo prum pensamento tipo “sem graça”, verde (ou roxo) pro pensamento raivoso, cinzas e preto pros pensamentos negativos, por aí.
De todo jeito, acho que seria bem difícil ter um aparelhinho de raio Z portátil e, mais difícil ainda, conseguir usar na hora H. Fazer o quê? Tem coisas que só a bruxa Creuza dá conta de resolver.

(Silvana Tavano)

1 de set. de 2009

Das coisas difíceis

Acho que lembrei desse miniconto antigo porque hoje tenho uma tarefa beeeeeem difícil pela frente. Pra quem já leu, peço desculpas pelo replay. Mas por conta do meu problema não sobrou tempo pra passear de bicicleta. De todo jeito, o texto me trouxe alguma esperança: quem sabe o meu difícil não seja do tipo médio?
...
Comer só um pedaço de chocolate, esperar todos aqueles minutos pra entrar na piscina depois de almoçar, ir só uma vez na montanha-russa. Essas coisas são difíceis, mas a gente consegue fazer. É um difícil-médio.
Por outro lado, tem o difícil difícilimo: espirrar sem fechar os olhos. Impossível não é. Mas acontece que espirro é o tipo de coisa que sempre vem de repente e aí, pronto, quando o espirro sai, o olho já fechou. Com bocejo é igual: é difíiiicil não bocejar quando alguém abre a boca perto da gente.
O difícil que pega a gente desprevenido é o pior. Teste-surpresa no meio da aula, por exemplo. Se for de matemática, a palavra DIFÍCIL até pisca, com todas as letras enormes.
Também tem o difícil-quem-sabe: pedir um gibi ou um joguinho de computador um dia depois do aniversário. Dá pra tentar, mas as chances são mínimas.
Cada difícil tem o seu grau de dificuldade. Outro dia descobri que existe até o difícil-fácil. Amarrar o tênis é o fácil mais disfarçado de difícil que conheço, mas tem um monte de coisas assim: andar de bicicleta, pular corda cruzada, ler um livro de trocentas páginas... É só pegar o jeito. Daí vira uma moleza.

(Silvana Tavano)