27 de set. de 2012

Ai, que frio!

O vento frio fez o sol se encolher
Encabulaaaaaaaaaaaaado
Como se tivesse aparecido sem ser convidado

Os cabelos e os pensamentos: tudo fica
Arrepiaaaaaaaaaaaaaado
Com o bom-dia desse vento gelado

25 de set. de 2012

Túnel do tempo

Olho pela lente do pequeno monóculo cinza e mergulho num dia de sol de outro tempo. Tenho seis anos, estou na praia, em Santos, numa das únicas fotos coloridas da minha infância. Faço pose dentro de um buraco largo, com uma pá vermelha em cada mão, cavocando o lago inventado entre dois grandes castelos rodeados por cercas-palitos de picolés. Lembro da época em que as férias e as histórias de areia pareciam não ter fim, e por um instante quase escuto o barulho do mar ecoando pela pequena concha de plástico. Então miro no cone mais uma vez, franzindo os olhos para ajustar o foco e revejo os mesmos olhos franzidos encarando a câmera naquele dia de sol de um passado que, de repente, já não parece tão distante assim.
...
Ando mexendo em textos antigos como esse, publicado aqui e também aqui.

20 de set. de 2012

Nino


-- Oi, Nino, bom dia!
-- Oi, Sonia...
-- É impressão minha ou esse oi tá meio desanimado hoje?
-- Ah, não é nada, não... Quer dizer, é só uma coisa que eu andei pensando...
-- Hmm. E eu posso saber ou é segredo?
-- Não tem segredo nenhum! É só uma ideia meio maluca...
-- Oba, adoro ideias malucas! Vai me contando enquanto a gente mede a sua temperatura.
-- Foi por causa disso mesmo que tive essa ideia!
-- Ih, você está me deixando muito curiosa!
-- É que também devia existir um tipo de medidor de amor, igual a esse que mede febre.
-- Nino! Essa ideia é maluca mesmo! Como assim?
-- Ah, é fácil. A gente coloca o aparelho em cima do coração e pronto. Se ficar vermelho, quer dizer que a  pessoa tá sentindo amor. Quanto mais forte o vermelho, mais forte é o amor! E já pensei até no nome do aparelho – amorzômetro!
-- Uau! E como foi que você teve essa ideia tão genial?
-- Foi por causa da Amanda...
-- Aha, entendi!
-- Com o amorzômetro eu logo ia descobrir se ela também gosta de mim. Nem precisava ficar perguntando.
-- É uma grande ideia, Nino. Aposto que um monte de gente ia querer ter um aparelho desses!
-- Antes, eu queria ser bombeiro, mas agora quero ser inventor.
-- Que bacana, Nino!
-- Às vezes fico pensando num monte de coisas que podiam ser inventadas... Um xampu com espuma-fazedora imediata de cabelos, um óculos de chuva com limpador de vidro, e também um escorregador com botão de marcha-a-ré pra gente subir sentado e escorregar de novo quantas vezes quiser. Já pensou? Dava pra brincar um tempão sem cansar nunca!
-- Nossa, Nino, quantas ideias incríveis...
-- É por isso que quero ser inventor. Falta tanta coisa nesse mundo!
...
Nino é o personagem criado pelo meu parceiro Daniel Kondo para o ITACI -- Instituto de Tratamento do Câncer Infantil--, e essa conversa faz parte da história que estamos preparando juntos.    

19 de set. de 2012

Reviravento

Vento é assim: muda de jeito e de direção
Pode ser cortante como tesoura
E consegue varrer o chão sem vassoura

Leva e traz cheiro de chuva, de bolo e de flor
Refaz o desenho das nuvens
Refresca o sol, alivia o calor

Vai e vem, levando folha, papel e pensamento
Vem e vai, imprevisível a cada momento

Faz a gente ficar arrepiada, alegre e também triste
Faz a gente lembrar que as coisas invisíveis existem

18 de set. de 2012

Max (2)

Eu andava atrás de um nome para certo personagem quando o próprio apareceu na fila da padaria -- contei essa história aqui, no mês passado. Confesso que ainda estava pensando será que isso, será que aquilo, será que Max? A resposta apareceu ontem no meu mural do facebook. Obrigada, Eunícia Fernandes!   

13 de set. de 2012

Relicário

No começo, era só um vaso de barro não muito grande, duas mudas magrinhas, promessas de felicidade e fortuna enraizadas na mesma terra. Cresceram devagar sobre as pedras que iam chegando de tantos lugares, plantando ali histórias de rios, montanhas e dias de sol. Hoje as árvores tocam o teto da sala, abraçadas dentro de um vaso largo e amarelo, junto com os cristais transparentes e o buda da sorte, a corujinha de pedra-sabão da minha mãe, o enfeite que meu filho fez numa noite de um natal distante. Gosto de rezar assim: regando a minha planta.

11 de set. de 2012

Entrevista

Ficou uma lindeza a reportagem de Aryane Cararo sobre o "Psssiu!" no Estadinho do último sábado -- como não achei o link, selecionei alguns trechos da entrevista que ela fez comigo e com Daniel Kondo. 
De onde veio a ideia para o livro?
SILVANA -- Do próprio Silêncio! Certas coisas a gente só escuta quando conversa com ele.

Qual foi a concepção para ilustrar o livro?
DANIEL -- Criar dois personagens-perguntadores que pudessem dar voz ao Silêncio.

Por que a escolha por traços “simples” e poucas cores?
DANIEL -- Pra conseguir escutar as coisas que o Silêncio pode nos contar, quanto menos interferência, melhor!

Quem são os personagens que aparecem ilustrados no livro?
SILVANA -- Somos nós, e todo mundo que fica curioso tentando adivinhar o que o Silêncio fala.

Quando o Silêncio dorme, o ambiente fica ainda mais silencioso? Ou o barulho aparece?

SILVANA -- Depende. Às vezes, o Silêncio até ri enquanto está sonhando...
DANIEL -- Eu já acho que o Silêncio nunca dorme -- nós é que somos barulhentos e nem sempre percebemos que ele do nosso lado.

O que cansa o Silêncio?
SILVANA -- Ter que fazer sala pra visita que aparece sem convite, como certos pensamentos folgados, que vão entrando na casa dele a qualquer hora e sem pedir licença.
DANIEL -- Britadeira, furadeira, choradeira e gente que fala asneira.

Quando vocês ficam em silêncio?

SILVANA -- Sempre que consigo me desligar de todos os barulhos, os de dentro e os de fora.
DANIEL -- Em muitos momentos do dia, mas principalmente quando olho para um céu azul.

Quando o silêncio é bom?
SILVANA -- Quando ele me põe no colo e conta histórias.

6 de set. de 2012

Canhota



Diário do gesso: cada vez que tento escrever com a mão direita, lembro dos meus primeiros anos de escola e das professoras que viviam tirando a caneta da minha mão esquerda -- quem mandou não aprender?