Gostei da idéia de dar livros pra garotada nos faróis e já estou colocando alguns no carro hoje. Mas o assunto de ontem me fez lembrar de um texto que comecei a escrever, já faz algum tempo. Tem a ver com um menino que eu encontrava quase todos os dias, no caminho para o trabalho... Às vezes, eu comprava chicletes, outros dias, só perguntava uma ou outra coisa sobre a vida dele. Ele tinha seis anos e nada encaixava direito: o corpo, magrinho e pequeno, parecia de uma criança de quatro anos, e o olhar, triste, podia ser de alguém bem mais velho. Um dia, ele sumiu. Acabei esquecendo da história que, afinal, nem chegou a ser escrita.
"... O Robson disse que eu tenho cara de anjo, e que isso ajuda a vender chiclete. Sei não. Não vejo muito a minha cara. Lá em casa tem que subir no banquinho pra ver minha cara no espelhinho da pia... E agora nem dá mais porque o espelho tá rachado. A mãe até reclamou esses dias. Acho que vou comprar um novo pra mãe. Vi lá na barraca no Cleiton. Tem com a volta cor de laranja e tem azul também. Achei o laranja mais alegre. E é maior, acho que vai dar pra ver minha cara inteira nele. Quem sabe hoje eu vendo bastante chiclete e compro aquele espelho pra mãe..."
(Silvana Tavano)
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