30 de jan. de 2008

Idéias para um miniconto

A história começa como a do patinho feio e de outros caras que sofrem um bocado até conseguir virar o jogo. O personagem fica isolado e passa por poucas e boas até ser aceito pelo seu grupo e reconhecido como um igual, apesar de continuar sendo... diferente. Essa é a vida do Aguão. Pelo menos no início.
Antes de mais nada, convém explicar que dragão costuma ser um bicho esquentado. É nervoso e mal humorado por natureza. A maioria gosta de uma briga e não perde a oportunidade de se inflamar em qualquer discussão. Mas Aguão é o oposto de tudo isso. Dócil, meigo e, imagine só, azul.
Dona Labareda, que já era mãe de seis dragões, estranhou quando viu aquele bichinho de olhos doces e pele da cor do mar. Claro que ele ia ficar alaranjado como todos na família, dizia, tentando acalmar o senhor Flamejante, que fervia, inconformado, sempre que olhava para o caçula. Mas o fato é que Aguão foi crescendo, cada vez mais azul e, para desespero dos pais, mais e mais bonzinho.
Aos seis meses, Aguão ainda não solta nenhuma fumacinha. Ainda pior é a sua inexplicável atração pela água --passa horas brincando no lago e só para quando a mãe grita, fumegando: “Menino, sai já desse lugar molhado!” Obediente, o pequeno sempre dá um último mergulho antes de voltar pra casa, com a pele azul toda enrugada.
Enquanto os irmãos mais velhos passam o dia treinando cuspidas de fogo à distância e se preparando para enfrentar os inevitáveis príncipes valentes que, cedo ou tarde, aparecerão, Aguão sai pela floresta fazendo amizade com todo mundo. Diferente mesmo.
Tudo isso já é mais do que suficiente para justificar o desgosto de dona Labareda e do senhor Flamejante. Mas ainda mais desconcertados ficam esses pais no dia em que, inesperadamente, diante dos olhos vermelhos e estupefatos de toda a família, Aguão solta um jato de... ÁGUA!!!!
Nesse momento, o dragão-pai ferve e explode:
--Isso é demais. Chegamos ao limite! É a gota d´água, quer dizer, é o fim da picada. Ele não pode ser meu filho!
--É um caso perdido -- diz a irmã Chamita, pondo mais fogo na discussão.
--Esse cara é a vergonha da família! -- esbraveja Bafão, o mais velho e menos amigável do clã.
Naquela situação difícil, com todo mundo de cabeça quente, não dá outra: Aguão é expulso de casa. O pobre nem tenta se defender. Como poderia? Cada vez que tenta falar, novos jatos d'água jorram, atiçando ainda mais os ânimos já tão exaltados...
Sem outra opção, o dragãozinho vai embora.
Nos primeiros tempos, vaga pela floresta lamentando seu destino -- o de ter nascido bonzinho, sem vontade de incendiar nada e, ainda por cima, sem ignição. Ele bem que tinha tentado imitar seus irmãos, seguindo a mesma dieta à base de carvão. Mas na hora H, nada de fogo. Nem uma faisquinha.
Com o passar dos meses, Aguão vai se conformando. Na verdade, só sente falta do calor materno. Do pai e dos irmãos não tem saudade, não. Fazer o quê? Aquele povo esquentado não combinava com o jeitão pacífico dele: a convivência era mesmo um estresse.
Mas não foi nada difícil para o pequeno dragão fazer amigos e encontrar novas turmas. Boa praça, Aguão é o tipo que topa regar um canteiro ou refrescar uma turma que está encalorada num dia de sol forte.
A partir desse ponto, a história pode incluir uma ou outra aventura do dragãozinho nessa sua fase-solo, na floresta. Em seguida, o enredo deve se encaminhar para o final. Pensei em dois jeitos de terminar, mas nenhum deles me convenceu -- se não chegar a uma conclusão, amanhã escrevo os dois (ou mais) finais e os leitores do blog escolhem.

(Silvana Tavano)

Um comentário:

Ricardo Soares disse...

boa idéia silvana!!!
beijão
ricardo