17 de abr. de 2009

O dia

- A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. (...) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

("Memórias da Emília")
...
Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. (...) O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas, lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado.
("A Reforma da Natureza")

Emília tem toda razão: livro bom a gente devora, e com muito prazer. "Memórias da Emília" foi um dos primeiros livros que devorei, e isso faz muito tempo. Faz ainda mais tempo que Lobato escreveu -- a primeira edição saiu em 1936 -- mas o tempo não arranhou a graça e o frescor de trechos como esse. Não sou muito fã de efemérides, mas é claro que o aniversário de Monteiro Lobato, 18 de abril, tinha que virar o Dia Nacional do Livro Infantil.

(ST)

4 comentários:

Wagner Marques disse...

Ah, que magnífico!

Prosa limpa.

Cmoon... disse...

Sil, sensacional!
Adoro seus posts...adoro seu blog.
bj
:)

carina gomes disse...

Amo Monteiro Lobato! Esse post ficou tão delicado... Muito lindo.
Sempre vejo seu blog!
Bj

Anônimo disse...

Silvana eu adoro essa passagem do livro Memórias da Emília. Eu tambem devorei esse livro e até hoje amo de paixão. Abraço, Eliete