No final de semana comprei a nova edição de "As Meninas", um dos títulos de Lygia Fagundes Telles, relançado em grande estilo pela Companhia das Letras. Cheguei em casa e fui procurar o meu exemplar, uma nona edição da Livraria José Olympio, de 1978, que a autora autografou dois anos depois, quando nos conhecemos. Recém-formada e começando no meu primeiro emprego, na revista Desfile, propus uma entrevista com a escritora. Minha editora topou, Lygia também, e lá fui eu para o seu apartamento, na rua da Consolação, ansiosa e apavorada: tinha que dar conta de fazer uma boa matéria e me controlar diante de um ídolo -- tinha lido todos os livros dela, e a sua influência era óbvia nos contos que eu tentava escrever naquela época. Tinha acabado de ser premiada num concurso e mesmo achando que não teria chance de mostrar, levei o continho datilografado comigo. Pra resumir a história: Lygia foi encantadora e me acolheu com tanto carinho que me senti à vontade pra mostrar o tal conto premiado quando terminamos a entrevista. Ela leu com atenção e, de lápis na mão, fez correções, chamou minha atenção por causa da pontuação e do exagero no uso de reticências -- mais ou menos nove em cada dez frases acabavam com os três pontinhos. Me deu conselhos e estímulo, e depois de posar para o fotógrafo Mituo Shiguihara, fez essa foto comigo, uma recordação que guardei durante todos esses anos como um tesouro. Isso tudo aconteceu em 1980. Eu tinha 23 anos, e ela, 57.
Depois disso, a carreira de jornalista tomou fôlego. Acabei engavetando os contos e o sonho de ser escritora. Só muito tempo depois, comecei a escrever histórias pra crianças e finalmente publiquei meu primeiro livro. Por um desses acasos incríveis, nessa mesma época surgiu uma oportunidade de fazer uma entrevista com ela. Voltei ao mesmo apartamento em 2005 -- agora eu tinha 48 anos, e ela, 82. No lugar do conto datilografado, levei um exemplar da "Creuza em Crise" e também a nossa foto de tantos anos antes. Fizemos uma nova entrevista, desta vez para a revista Marie Claire, bebemos um dedinho de vinho do Porto e no final o fotógrafo Eduardo Simões registrou o encontro: como dá pra ver, ela continuava linda, e eu tinha aprendido a disfarçar o nervosismo.
É claro que vou levar meu novo "As Meninas" pra ela autografar no próximo dia 13, no Sesc Vila Mariana.
(Silvana Tavano)
9 comentários:
Eu já conhecia essa história. Adorei vê-la publicada no seu blogue. É difícil aprender a controlar o nervosismo. Até hoje também sofro. Só que não sou escritora... Adivinha quem está falando? Beijo grande.
Comentários anônimos...que lindo!!
Arrebentando amiga..Parabéns!!
Olha..deixei um selinho para você no meu blog.. passe por lá
Bjsssssss
Que história de maravilha, Silvana.
A vida pode ser muito boa mesmo.
Beijo com saudade.
Noemï
Fê, ouço o seu jeitinho de falar mesmo quando você não escreve o seu "sen-sa-cio-nal"!
...
Noemi, quanto tempo, que bom ter notícias suas! Estou fazendo outro curso maravilhoso com a sua xará. Vou mandar um email pra botar a conversar em dia.
beijos!
Percebe-se mesmo o teu nervosismo, tá bem engraçada aquela foto! Já aproveito uma dica dela prá mim, também uso muito os três pontinhos(não que eu pense em ser escritora). Adoro teu blog!
Que história linda! Obrigada por dividir com a gente.
Bjs.
Oi Sil
que delicia!
sao essas historias que fazem a coisa valer a pena, não?
vai, e aproveita para atualizar a foto de novo!!
besitos, RO
Silvana, que chique! A Lygia é mesmo fantástica!
Beijos,
P.S: A Creuza deve ter ficado nas alturas...
Linda história...
:)
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