Dias atrás citei o escritor holandês Guus Kuijer, premiado com o Hans Christian Andersen de 2010 e, agora, com o importantíssimo Astrid Lindgren. Confesso que nunca tinha ouvido falar dele até o anúncio do prêmio, na Fiera del Libro per Ragazzi, em Bolonha e, por lá, só encontrei um livro desse autor, em italiano. A boa notícia é que seu título mais famoso já foi publicado aqui, no ano passado, pela WMF Martins Fontes, com tradução de Mirella Traversin Martino. Não consegui desgrudar até chegar ao final de "O Livro de Todas as Coisas"-- e estão todas lá, sem concessões, sem maquiagem, mas, ainda assim, cheias de poesia. Simplesmente o máximo.
"Então o pai levantou e deu um tapa no rosto dela. A mãe cambaleou e soltou Thomaz.
Os anjos do céu cobriram os olhos com as mãos e soluçaram alto, porque é isso que eles fazem cada vez que um marido bate na mulher. Uma tristeza profunda se abateu sobre a Terra.
(...)
Thomaz sentou perto da janela e olhou para fora, mas não conseguia pensar. O mundo estava vazio. Tudo o que existia tinha sido eliminado do seu pensamento. Só havia barulho. Ele ouviu o barulho do tapa na bochecha macia da mãe. Ouviu todos os tapas que a mãe já tinha levado, uma chuva de tapas, como se estivesse chovendo granizo na rua Jan van Eyck e as folhas estivessem sendo arrancadas das árvores".
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