8 de fev. de 2012

Lavanda

Embutido em uma das paredes do meu quarto, dorme um cofre. A peça já estava lá quando vim para esta casa e, mais por preguiça de encarar uma obra do que por desejo ou necessidade de ter um cofre, ele continuou ali, escondido, como sempre esteve, atrás de um quadro. Imagino que, no passado, o cofre guardou objetos de valor, papéis importantes, quem sabe quantos segredos de família permaneceram anos e anos calados lá dentro? Ontem, lendo "A Poética do Espaço" me lembrei dessa pequena caverna de aço encravada na minha parede e resolvi dar uma olhada -- atrás da porta apenas encostada, dei de cara com um passado que não me pertence, enclausurado num espaço vazio e escuro, cheirando a abandono. Pior: imaginei a reação de um eventual ladrão ao encontrar um cofre aberto e sem nada dentro, virando a casa pelo avesso pra tentar achar "riquezas" em outro esconderijo!
Decidi que a peça vai sair dali na próxima reforma. Até lá, o cofre segue disfarçado atrás do quadro, só que, agora, guarda ao menos o perfume de um sachê de lavanda.

2 comentários:

Carla Caruso disse...

Um aroma novo.

lindo texto, Silvana.

Janette disse...

O pior é quando o cofre existe e a chave não. Em casa é assim. Será que tem um tesouro lá dentro e eu nem sei?