28 de jul. de 2009

Cadernos, um problema

Sou canhota e talvez isso explique porque minha letra nunca foi redondinha. Na escola, por mais que eu tentasse caprichar, meus cadernos não ficavam bonitos como os das outras meninas. Bem que eu tentava, mas depois das primeiras páginas entregava os pontos, desanimada com aqueles garranchos. Com os anos, percebi que o visual da minha escrita ficava até interessante quando cedia à sua natureza -- a do caos total. De certa forma, isso me liberou pra escrever pensando e grifando, riscando, fazendo círculos, asteriscos, flechas, sinais de todo tipo. Mas o resultado visual é lastimável. Mais ainda quando escrevo com pressa, tentando registrar o que passa pela cabeça ou a fala de alguém. Nos meus tempos de repórter, sofria pra decifrar o que eu mesma tinha anotado no bloquinho. Estava tudo lá, só que praticamente ilegível. Por conta disso, virei especialista em desvendar minha própria letra e a de qualquer pessoa -- não tenho nenhuma dificuldade com receitas médicas, por exemplo. Ainda assim, continuo me esforçando: nos primeiros dias do ano, a agenda Moleskine sempre é um primor, mas logo perco a cerimônia e os rabiscos invadem as páginas antes de fevereiro. É por isso que, quando ganho um caderno especial como esse "Idea Book", recheado de ilustrações do Andy Warhol, simplesmente não tenho coragem de usar -- tenho a impressão de que se escrever ao lado dessa página linda, os insetos vão se revoltar. E com razão.

(Silvana Tavano)

4 comentários:

entremares disse...

Sempre tive a ideia de que ser canhoto era sinónimo de alguém com jeito para as artes, para o abstracto, para a poesia, literatura...
Foi isso que me ensinaram, não me lembro quem.
Não deve ser 100% verdade, porque eu sou canhoto nos pés... e não sou crack de futebol, mas enfim...

O que você escreveu, me lembrou que existe gente, como eu, que tem a mania irresistível de comprar material de escrita ( canetas, cadernos, agendas, blocos ) só pelo prazer de os ter, mesmo que nunca lá escreva nada.
E aí... pus-me a imaginar como seria escrever num desses blocos de arte, como o que você descreveu.

Conclusão. Eu também não escreveria. Mas iria abrir muitas vezes, só para contemplar...

Fica bem...

silvana tavano disse...

Pois é, também gosto de ter e de folhear esses cadernos, mas essa história de página em branco me dá uma certa angústia... Ando pensando seriamente em quebrar esse tabu -- até porque não seria mau digitar um pouco menos...

may disse...

Canhota, você? Nunca notei.Também, nunca te vi abrindo uma lata ou usando tesoura.Quando Galileu pega a tesoura pra qualquer coisa,eu fujo ou fecho os olhos, a impressão de que não vai dar nada certo é forte...
beijão
may

silvana tavano disse...

Pois é, no meu caso não costuma dar certo mesmo, rs. E não é só a letra. Descascar laranja, por exemplo: sempre fica meio oval...

beijo!