A tarefa: descrever o que fiz de manhã, inserindo no texto três palavras novas, garimpadas no dicionário.
O celular dá o primeiro gritinho estridente no quarto escuro, um zizio (*) insuportável, mas necessário. Acredito, pulo da cama e abro a janela automaticamente, mas o dia ainda não acordou – a lua continua lá, contornando o horizonte, sem pressa nenhuma de se retirar. A pressa é só minha: escovo os dentes, dou um sorriso pro espelho e então assusto meu rosto com a água gelada da torneira. Em seguida, pego a roupa de ginástica e, como todo dia, penso: será? Às 6h15 não tenho certeza de nada, mas sempre visto a intenção de fazer ginástica depois de deixar meu filho na escola. Isso funciona umas três vezes por semana. Mas, hoje, enquanto amarro o tênis, ainda não sei. Então saio do quarto, chamo meu filho, ouço o grunhido de sempre e, como sempre, ignoro. Entro na cozinha, ligo o forno e pela grande janela olho pro céu finalmente desperto, mas contrariado, cinzento como o frio. O ar desanimado das laranjas me faz preferir o melão. Experimento o suco que preparo com hortelã e água de coco, acho bom, sinto o corpo acordar por dentro. Esquento o leite, aciono a torradeira, procuro no armário o mel especial que minha amiga mandou, uma santa puçanga (*), ela garante, pra tosse que não passa. Coloco tudo na mesa: copos, talheres, guardanapo, xícaras e requeijão, enquanto olho pro relógio na parede e grito o “tá na hora” das 6h35. Lá de dentro, ouço outro grunhido, dessa vez em alto e bom som, algo ameaçador vindo do banheiro. Penso que uma vergastinha (*) cairia bem, mas quando meu filho finalmente aparece na cozinha abro um sorriso e dou meu rosto pra ele beijar.
(*) zizio: ruído característico, som agudo, prolongado e sibilante.
(*) puçanga: remédio caseiro.
(*) vergasta: chicote, vara fina e flexível.
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