"Dou a impressão de ser meio ranzinza porque meu zumbido muitas vezes soa com certa aspereza. Mas isso faz parte da minha natureza! Não tenho muitas chances de ser suave, e daí? Pra isso existem outras letras. Mesmo assim, confesso que, às vezes, me sinto um zé-ninguém, porque raramente tenho a honra de ser a primeira letra. Se os meus vizinhos mais próximos – especialmente o Xis e o Ipsilon -- não ficam azucrinados com isso, bom pra eles. Eu bem que gostaria de não ser o último da fila do senhor Alfabeto, mas o que posso fazer se a lista foi organizada desse modo? Também não acho razoável vir sempre no finzinho dos dicionários... Só consigo uma vaguinha lá na frente por azar. É dureza! Fico zangado à beça, mas o que me deixa zureta de verdade é ser lembrado sempre no diminutivo, pobrezinho de mim!
Já estou acostumado a ser espezinhado. Eu poderia me extasiar ao me ouvir em termos exóticos como exílio, exaustão, exagero e muitos outros exemplos. Mas, ai de quem me escrever em qualquer dessas palavras num exame -- só assim eu entro mesmo na história, e com a parte ruim, ou seja, uma nota zero!
Sou tão menosprezado que acabo zombando de mim mesmo, é um desastre! E desastre com Esse, claro, o que só aumenta a minha crise. Ô letrinha saliente! Não basta ser obrigatória em todos os plurais, será que ainda precisa infernizar a vida do Cê, da Cedilha e a minha? É desaforo, tenho certeza que o horroroso do Esse faz de propósito! E não adianta vir com essa lorota de que ele também sai no prejuízo! O caso é que o Esse rouba o meu lugar em casa, na mesa e em muitas coisas gostosas por causa de um monte de regras esquisitas. Fico zonzo tentando entender porque minha voz soa com outros grafemas... O Xis reclama com razão, mas comigo é um azougue: o Esse é tão ousado que entra até no que deveria ser o MEU desabafo! Em resumo, acho desprezível que o Esse pose de empresário se valendo do mesmo tom do meu zelador!
Por outro lado, também sou o Zê de zebra e entro em ação sempre que alguém pede o giz, joga xadrez ou conta até dez. É zás-trás: dou uma de Esse, me vingo e fico em paz! Não pensem que sou só azedo. De vez em quando sei me apresentar com polidez. Quem disse que o Zê não combina com maciez?"
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A zanga do Zê no "Zum-zum-zum das Letras", livro novo saindo em breve, pela Moderna, com projeto gráfico e ilustrações de Guto Lacaz.
3 comentários:
Adoro vir por aqui...sempre uma novidade prá lá de sensível, avise, quando o livro sair.
Abraço do Pedra do Sertão,
www.pedradosertao.blogspot.com
Texto muito legal!
Abraços,
Flávia
Flávia, obrigada!
...
e
Pedra do Sertão, aviso, é claro! Aliás, tô superansiosa pra ver o livro pronto.
beijos pras 2
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