1 de jul. de 2011

Homem-ditado

Quando eu era pequena, achava a maior graça sempre que meu avô dizia: “boca fechada não entra mosquito”. Ficava imaginando porque um mosquito ia querer entrar na boca de alguém com tanto espaço pra voar. Mas ele era severo e não se divertia comigo. Hoje em dia acho até que meu avô se ofendia, como se eu estivesse debochando de uma das suas máximas. Ele sempre tinha uma na ponta na língua pra retrucar ou comentar e principalmente pra encerrar qualquer conversa. Velhinho, ele virou uma espécie de homem-ditado -- dependendo do assunto, a gente já adivinhava o arremate: lá vem a história do silêncio de ouro, agora ele vai dizer que seguro morreu de velho ou que mais vale um pássaro na mão etcétera e tal. Fui crescendo, parei de achar graça e comecei a sentir certa compaixão pelo meu avô, aprisionado nessas frases feitas, cheias de verdades chatas. E cada vez que ele ameaçava soltar um desses provérbios embolorados, era eu quem tinha vontade de dizer: “boca fechada não entra mosquito”.   

(ST)              

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá cunhada, não era só o seu avô, meu pai também gostava disso. beijos Maysa

Marina Morena Costa disse...

Minha avó tinha mania de dizer que fazer tal coisa "não presta". Superstições das mais malucas e engraçadas de tão ineplicáveis. Sentar no canto da mesa não presta. Não presta, por que, vó? Ela olhava com cara de quem não quer responder, e dizia: "porque morre cedo. Mas também não prestar dizer isso".
E não prestava pular a janela (porque vira bandido), deixar o chinelo virado (porque a mãe morre cedo), nem colocar a bolsa no chão (porque o dinheiro vai embora). A lista era invindável e eu só me lembro dessas. Hoje nem minha avó lembra mais das coisas que não prestam.
Pelo sim ou pelo não, eu nunca deixo o chinelo virado, nem a bolsa no chão.
Já a janela, eu passei da idade de pular, rsss.

Muito bom passar por aqui, Sil querida!
Mil bjocas

silvana tavano disse...

Marina, que surpresa gostosa, fazia tempo que você não aparecia aqui!E ainda trouxe um comentário delicioso de presente. Adorei essa sua avó! beijos

Marina Morena Costa disse...

Sil, seu post inspirou um texto sobre a Dona Irene lá no blog!
Voltarei mais vezes =)
Beijão