9 de mar. de 2015

trecho


(...) Eu tinha 12 anos quando minha avó morreu. Três dias antes, ela estava lá, na cozinha que eu conhecia desde sempre, eu e ela em frente ao fogão, duas colheres de pau misturando a massa do brigadeiro na panela de ferro, e eu ria cada vez que mergulhava a ponta do dedo no chocolate quente, Nina, desse jeito você acaba com o recheio do bolo! Ela estava lá, fazendo as coisas de sempre, perguntando da escola, se eu tinha ido ao dentista, querendo saber das novidades e me pedindo pra ligar o forno enquanto untava a forma com uma nuvem fininha de manteiga. Ela ainda estava lá, de pé, ao lado do portão, quando saí carregando o embrulho de papel alumínio com todo o cuidado, minha mãe com o carro ligado, reclamando do trânsito, prometendo voltar no sábado, e o cheiro quente do bolo dentro do carro, virando a esquina enquanto ela acenava pra nós. Ela ainda estava lá.

2 comentários:

Moyers Lancaster disse...

Devemos dar maior valor a nossa vida e aqueles que vivem ao nosso lado. Vi algo assim em um site local, Ligue Rolim, onde tem um artigo muito interessante que trata de algo parecido com isso. Gostei do seu texto, continue assim.

Tiane disse...

Lindo! Perdi meu vô quando tinha 15 anos e sofri muito quando percebi que ele nunca mais estaria aqui para eu servir chimarrão para ele enquanto ele contava as mesmas histórias. Minha impaciência de adolescente não me deixou enxergar que era só isso que ele queria, contar as histórias pra mim. Decidi então, que ia aproveitar todo o tempo possível com a minha vó, fazendo tudo o que fosse possível enquanto desse tempo. Ela viveu muitos anos ainda mas mesmo assim, sinto muito a falta dela e volta e meia me pego pensando, como queria que a vó estivesse aqui para ver alguma coisa comigo, ou provar alguma comida, ou simplesmente estar aqui comigo. Foi aí que aprendi que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".