A história de outro dia poderia continuar assim:
Meu nome é Luesse. De verdade é Luisa, mas desde sempre fomos duas na classe: a Fagundes, que vem antes na lista, continuou sendo Luisa, e eu virei Lu Sampaio, a Luesse. Até penso em mudar meu registro um dia. Não sei se posso fazer isso de verdade, só sei que vou ser Luesse a vida inteira. Luisa é um nome que não me chama. Na escola, ninguém tem dúvida. Na família, sou Lu pra quase todo mundo. É um diminutivo boboca, mas não me incomoda. A única pessoa que insiste com o Luisa é minha mãe. Ela chega a dizer que não tem ninguém com esse nome quando ligam em casa perguntando por Luesse. Minhas amigas levam na brincadeira, mas eu sei que a coisa é séria. Minha mãe não sabe mesmo quem é Luesse.
Hoje o dia é puxado. Quatro aulas de manhã e mais duas de tarde, almoço a jato na cantina antes da reunião no grêmio. O pai do Edu está apressado, mal estaciona. Quase não dá tempo de fechar a porta, e o carro já está em movimento. Percebo uma sombra por trás das lentes dos óculos do Edu. Não falo nada, mas fico do lado dele, bem perto. Cruzamos o portão e seguimos juntos para a classe, em silêncio.
(Silvana Tavano)
30 de abr. de 2009
29 de abr. de 2009
Livro novo

Não sei se o tempo de trás passa mais devagar do que o tempo da frente, só sinto que o relógio do coração varia e do tempo também depende.
Ele bate mansinho, com saudade de um tempo bom que já passou, e dispara acelerado se a gente imagina coisas de um tempo que ainda não chegou.
Fui juntando lé com cré até finalmente entender: é só por causa do que a gente sente que o tempo parece diferente.
Depois de uma notícia boa, mais outra: "O Mistério do Tempo", meu segundo livro pela Callis, ilustrado pela mexicana Cecília Rébora, já está indo pra gráfica. Oba!
28 de abr. de 2009
Altamente recomendável
Viva!

27 de abr. de 2009
Faz de conta que é verdade
Responde Visconde
...
responde Visconde, responde pra mim
qual é a fórmula
do pó de pirlimpimpim
responde Visconde, responde Visconde
responde pra gente
como é que uma simples espiga de milho
pode ser tão inteligente?
A música faz parte do cd "Pra Marte", disco novo e ótimo do Maurício Pereira.
responde Visconde, responde pra mim
qual é a fórmula
do pó de pirlimpimpim
responde Visconde, responde Visconde
responde pra gente
como é que uma simples espiga de milho
pode ser tão inteligente?
A música faz parte do cd "Pra Marte", disco novo e ótimo do Maurício Pereira.
24 de abr. de 2009
Livro coreografado
23 de abr. de 2009
Uma ideia
Entro no carro e resmungo um bom dia sonolento. A boca preguiçosa da Dani não abre, só entorta um pouquinho. Esse é o jeito que ela sorri às 6 e meia da manhã. Alguma coisa parecida com um oi sai junto com o bocejo da Sofia. O Edu está procurando alguma coisa na mochila, parece nervoso, e o pai deles, “seu” Zé Carlos, está mal humorado, como sempre, às terças. O trajeto até a escola é mais animado às quartas e sextas, a mãe da Dani não consegue não falar. Sempre pergunta alguma coisa pra um de nós. Ela é ok, mas, às vezes, acho que ela força um pouco. O pai também. Sempre penso neles como uma daquelas famílias-margarina de comercial de televisão. Desconfio. Mas isso tem a ver comigo. Sou desconfiada.
Segundas e quintas sempre vamos com minha mãe. Antes de ligar o carro, ela checa o batom no espelhinho, acende um cigarro e engata, acelerada, já fazendo as recomendações do dia entre uma tragada e outra. Ela vive querendo parar de fumar. Quer dizer, vive dizendo que quer parar de fumar. Eu me acostumei a ver minha mãe através da fumaça.
Diários da bicicleta: ainda não sei onde essa história vai me levar, nem se isso vai virar uma história. Mas quase sempre é assim que escrevo e gosto dessa sensação de que é a história que vai me escrevendo.
(Silvana Tavano)
Segundas e quintas sempre vamos com minha mãe. Antes de ligar o carro, ela checa o batom no espelhinho, acende um cigarro e engata, acelerada, já fazendo as recomendações do dia entre uma tragada e outra. Ela vive querendo parar de fumar. Quer dizer, vive dizendo que quer parar de fumar. Eu me acostumei a ver minha mãe através da fumaça.
Diários da bicicleta: ainda não sei onde essa história vai me levar, nem se isso vai virar uma história. Mas quase sempre é assim que escrevo e gosto dessa sensação de que é a história que vai me escrevendo.
(Silvana Tavano)
22 de abr. de 2009
Bruxas e bruxas

(Silvana Tavano)
21 de abr. de 2009
Lição de casa
Pra não distrair um leitor interessado
Corte palavras sem dó e com um olhar afiado
O que fica ganha força e significado
É assim que o texto dá o seu melhor recado
(Silvana Tavano)
Corte palavras sem dó e com um olhar afiado
O que fica ganha força e significado
É assim que o texto dá o seu melhor recado
(Silvana Tavano)
20 de abr. de 2009
Lembrei da Cecília Meireles
...
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Hoje o sol já apareceu e sumiu nem sei quantas vezes, indeciso como tudo o mais nesse dia "útil" com jeito de feriado -- um dia em que a gente tem que decidir se quer trabalhar ou passear. Dificil!
(Silvana Tavano)
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Hoje o sol já apareceu e sumiu nem sei quantas vezes, indeciso como tudo o mais nesse dia "útil" com jeito de feriado -- um dia em que a gente tem que decidir se quer trabalhar ou passear. Dificil!
(Silvana Tavano)
19 de abr. de 2009
A primeira Narizinho
17 de abr. de 2009
O dia

- E depois que morre? – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
("Memórias da Emília")
...
Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. (...) O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas, lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado.
("A Reforma da Natureza")
Emília tem toda razão: livro bom a gente devora, e com muito prazer. "Memórias da Emília" foi um dos primeiros livros que devorei, e isso faz muito tempo. Faz ainda mais tempo que Lobato escreveu -- a primeira edição saiu em 1936 -- mas o tempo não arranhou a graça e o frescor de trechos como esse. Não sou muito fã de efemérides, mas é claro que o aniversário de Monteiro Lobato, 18 de abril, tinha que virar o Dia Nacional do Livro Infantil.
(ST)
15 de abr. de 2009
Alegria, alegria
Já está no ar o "Prova dos 9", um espaço pra lá de original, construído a partir da colaboração criativa dos usuários. Editado por Letícia Genesini e Noemi Jaffe, o novo site convida todo mundo a postar suas referências, imagens, afetos, citações ou desabafos dentro de um tema que vai mudar a cada mês -- a "alegria" é o assunto de estreia e fica em cartaz até o final de abril. A brincadeira é postar ou comentar os posts espalhados por oito links: palavra, objeto, ideia, som, imagem, corpo, câmera e etc. Também dá pra executar uma tarefa, completar uma lista ou preencher os passos um manual coletivo. Eu já me cadastrei -- vai lá.
(Silvana Tavano)
(Silvana Tavano)
14 de abr. de 2009
Um peixinho
Baseado num conto do escritor chinês Jimmy Liao, "A Fish With a Smile" ganhou a 56ª edição do Festival de Berlim como melhor curta de animação.
(ST)
13 de abr. de 2009
Mãe
Frito os bolinhos de chuva na panela
Depois mergulho um a um no mar de açúcar e canela
É doce a saudade que eu sinto dela
(Silvana Tavano)
Depois mergulho um a um no mar de açúcar e canela
É doce a saudade que eu sinto dela
(Silvana Tavano)
12 de abr. de 2009
Era uma vez o outono

De outro jeito: o artista dinamarquês Peter Callesen conta histórias cortando o papel. Tem muitas outras no site dele, vai lá.

(ST)
8 de abr. de 2009
Flores, balinhas e malabares de folga

7 de abr. de 2009
Auto-ajuda

Guardei o papelzinho e até hoje, quando percebo que estou virando refém de uma dessas conversas chatas, lembro do desenho. É o meu sinal pra dizer "fui".
(ST)
6 de abr. de 2009
Cardápio de sonhos
E se desse pra gente escolher o sonho de cada noite? Alguma coisa que garantisse o enredo, mesmo depois de um dia chato ou de um filme de terror. Um xarope, por exemplo. Podia ter fórmulas diferentes pra todas as idades e gostos: sabor aventura, sabor romance, sabor mistério e até sem sabor, com direito a sonho-surpresa. Mais: pra não ter pesadelo nunca, era só acertar na dose e pronto. Não seria genial?
(ST)
(ST)
5 de abr. de 2009
Uma aula
3 de abr. de 2009
Todas as vezes
Era uma vez a história de sempre
O príncipe casa com a princesa
E nada surpreende a gente
Era outra vez uma história parecida
Só que o príncipe fica em dúvida
E a bela continua adormecida
Era a primeira vez e a história muda um pouco
De tanto fazer serenata
O príncipe fica completamente rouco
Era a segunda vez com mais novidade na história
O príncipe perde a voz de vez
Porque a princesa, imaginem, perdeu a memória!
Era a última vez dessa história sem cabeça nem pé
Tudo parece muito esquisito
Um príncipe mudo e uma princesa lelé?
Mas, quem sabe, era uma vez nova e diferente
Sem príncipe e princesa
Felizes para sempre
Era a vez de inventar uma história interessante
Em que todo mundo descobre que pode voar
Isso não parece bem mais emocionante?
(Silvana Tavano)
O príncipe casa com a princesa
E nada surpreende a gente
Era outra vez uma história parecida
Só que o príncipe fica em dúvida
E a bela continua adormecida
Era a primeira vez e a história muda um pouco
De tanto fazer serenata
O príncipe fica completamente rouco
Era a segunda vez com mais novidade na história
O príncipe perde a voz de vez
Porque a princesa, imaginem, perdeu a memória!
Era a última vez dessa história sem cabeça nem pé
Tudo parece muito esquisito
Um príncipe mudo e uma princesa lelé?
Mas, quem sabe, era uma vez nova e diferente
Sem príncipe e princesa
Felizes para sempre
Era a vez de inventar uma história interessante
Em que todo mundo descobre que pode voar
Isso não parece bem mais emocionante?
(Silvana Tavano)
2 de abr. de 2009
Das coisas difíceis
Comer só um pedaço de chocolate, esperar todos aqueles minutos pra entrar na piscina depois de almoçar, ir só uma vez na montanha-russa. Essas coisas são difíceis, mas a gente consegue. É um difícil-médio.
Também tem o difícil dificílimo: espirrar sem fechar os olhos. Impossível não é. Mas acontece que espirro é o tipo de coisa que sempre vem de repente e aí, pronto, quando o espirro sai, o olho já fechou. Com bocejo é igual. É muuuuuito difícil ficar de boca fechada se alguém está bocejando do lado. Já tentou?
O difícil que pega a gente desprevenido é o pior. Teste-surpresa no meio da aula, por exemplo. Se for de matemática, a palavra DIFÍCIL até pisca, com todas as letras enormes.
E tem o difícil-quem-sabe: pedir gibi ou joguinho de computador pra mãe um dia depois do aniversário. Dá pra arriscar, mas vai ser bem difícil ganhar outro presente tão rápido...
Cada difícil tem o seu grau de dificuldade. Outro dia descobri que também existe o difícil-fácil. De verdade é um fácil disfarçado de difícil. Amarrar o tênis é o fácil com mais pinta de difícil que eu conheço, mas tem um monte de coisas assim: andar de bicicleta, pular corda cruzada, ler um livro de trocentas páginas. É só pegar o jeito. Daí vira uma moleza.
Esse miniconto foi publicado na Folhinha, em 2007. Continuo gostando dele.
(Silvana Tavano)
Também tem o difícil dificílimo: espirrar sem fechar os olhos. Impossível não é. Mas acontece que espirro é o tipo de coisa que sempre vem de repente e aí, pronto, quando o espirro sai, o olho já fechou. Com bocejo é igual. É muuuuuito difícil ficar de boca fechada se alguém está bocejando do lado. Já tentou?
O difícil que pega a gente desprevenido é o pior. Teste-surpresa no meio da aula, por exemplo. Se for de matemática, a palavra DIFÍCIL até pisca, com todas as letras enormes.
E tem o difícil-quem-sabe: pedir gibi ou joguinho de computador pra mãe um dia depois do aniversário. Dá pra arriscar, mas vai ser bem difícil ganhar outro presente tão rápido...
Cada difícil tem o seu grau de dificuldade. Outro dia descobri que também existe o difícil-fácil. De verdade é um fácil disfarçado de difícil. Amarrar o tênis é o fácil com mais pinta de difícil que eu conheço, mas tem um monte de coisas assim: andar de bicicleta, pular corda cruzada, ler um livro de trocentas páginas. É só pegar o jeito. Daí vira uma moleza.
Esse miniconto foi publicado na Folhinha, em 2007. Continuo gostando dele.
(Silvana Tavano)
1 de abr. de 2009
Nas ondas do rádio
Assinar:
Postagens (Atom)