16 de jun. de 2020

na cozinha

Marte, em movimento pelo seu signo, está em contato desafiador com a Lua. O dia pode apresentar uma série de entraves e conflitos com os quais você deve lidar com sabedoria. Pode haver discordância entre os seus propósitos e os de seus familiares

ah barbara abramo, hoje você errou em cheio!
nenhuma discordância no horizonte. o único familiar por perto (no momento) faz amor e pula a guerra, no máximo uma ou outra batalhinha, mas ele só arrisca quando tem certeza que a minha lua não tá virada.

adivinhar meus humores não é difícil. quer dizer, não era. ideias singulares como fazer um bolo de laranja às 3 da manhã ou resolver organizar os armários da cozinha só eram postas em prática em momentos de desespero. mas esse padrão deixou de funcionar nos últimos meses. mais que isso, lavar pilhas de pratos e arear panelas tem me colocado num estado interessante – meditativo --, e me pego cantando sem mais nem por quê. quando o interfone toca, meu coração dispara antecipando uma possível alegria: quem sabe a panela elétrica (vermelha, lindíssima!), promessa de arroz finalmente soltinho; quem sabe o pote novo para substituir o que triturei tentando moer beterrabas no liquidificador...

infelizmente, a paz da cozinha às vezes é ameaçada pela minha falta de talento. mas tenho aprendido muito na base da tentativa e erro, com resiliência, humildade e a ajuda inestimável de rita lobo, sempre ao meu lado, linda, loira e perfumada, ensinando o passo a passo de cada nova aventura --- como picar, quanto tempo marinar, qual a altura da panela e a temperatura do forno.
de vez em quando lembro de como era antes, e quase não acredito naquele tempo em que minha cozinha era um lugar de passagem – como é possível que eu ficasse aqui só durante os minutos suficientes para esquentar qualquer coisa no micro ou à espera de um café expresso?
sei que nada será como está, nada será como antes amanhã. 
canto enquanto tiro a mesa, talheres na gaveta, panos de prato no varal, cozinha arrumada, ah, a plenitude da missão cumprida...
mas
quando o sol da tarde ilumina a mesinha da copa, sento numa cadeira e choro.
saudade de ler horóscopo e achar que faz sentido.
saudade da certeza de que a vida faz sentido.

Um comentário:

Rafael Ramos disse...

Muito bom! Parabéns pelo trabalho!

Rafael Ramos