14 de jun. de 2010

Dicionolândia

Sempre que posso, vou até Dicionolândia. Não é longe, dá pra ir a qualquer hora -- é só embarcar num volume cinco estrelas e fazer a viagem numa poltrona macia, com tempo pra xeretar entre as fronteiras que vão de A a Z. Gosto de passear sem compromisso, com olhos curiosos de turista e, antes pedir informação, tento me virar lendo as placas em voz alta pra descobrir se o som me diz alguma coisa. Mas erro em 99% das vezes. Desembarco na estação "s" e meus olhos batem na palavra "sujigola". Penso imediatamente em gola, imagino um babador manchado de mingau e me surpreendo com a direção tão errada, já que sujigola é o freio que passa debaixo do queixo do cavalo, a correia que prende o animal -- nada a ver com a liberdade que um babador pode significar diante de um prato de macarrão com molho de tomate! Volto muitos quarteirões e encontro a palavra "aralha". Erro de novo, imaginando um pássaro exótico, e não uma novilha que, mesmo sendo pequenininha, já pode puxar o arado. Sigo em frente e empaco de vez em "patripotestal". Lembro de pátria, pedestal, fico repetindo a palavra em voz alta, sem querer começo a cantarolar que moro num país tropical e vou pra longe do seu significado: o poder familiar que se concentra na figura paterna. Mudo de rumo e chego na enigmática "descimbrar". Acho bonito o jeitão desse verbo que me faz pensar em aventura, grandes descobertas: "O marujo Simbad descimbrou-se pelos mares...". Não combina? Pois é, só que descimbrar é retirar os cimbres de um arco depois da construção. Pena, acho que nunca vou ter ocasião pra usar uma palavra tão sonora. Na última parada do percurso traduzo "recovo" como esconderijo e, surpresa, descubro que essa é a posição em que estou enquanto leio: recostada no cotovelo. Difícil essa língua, não?
...
Por causa de um trabalho que tem me levado muitas vezes ao dicionário, lembrei desse texto publicado aqui no ano passado.

(ST)

Um comentário:

Regina Guedes disse...

Rs, rs, rs, rs.. pensei que só eu tinha esta mania!!!