Irritado com os zumbis, o fantasma resolve sair do cemitério e se arriscar pela cidade em busca do tal "lugar pra chamar de seu". Mas o sonho romântico de encontrar um lar como os de seus antepassados desmorona rapidinho -- sem nenhum castelo à vista, logo percebe que vai ter que batalhar por um espaço muito menos nobre: os melhores pontos dos metrôs já foram ocupados por vampiros e, nas ruas mais sombrias, as bruxas estão soltas. O pobre já está bem desanimado quando entra num shopping:
-- Você tem senha?
-- Senha?
-- É, senha! Ou você acha que é só chegar e ir entrando?
-- Bom, é que...
-- Você não sabe que essas salas de cinema são as mais disputadas da cidade? É claro que tem fila, e a fila é grande!
-- Sei...
-- Sessões malditas à meia-noite, festivais-cult com os melhores filmes de terror, quem tá lá dentro não sai, entende?
-- Claro.
-- A espera é bem menor nas garagens. Naturalmente os cantos mais úmidos e escuros são bem disputados, mas dizem que a rotatividade é grande entre a turma que assombra por lá.
-- Não, obrigado, acho que é muito movimento pra mim! Estou à procura de um lugar sossegado.
-- Bem, não sei se é o seu estilo, mas... Você já esteve num sebo?
-- Um sebo? Não tinha pensado nisso!
-- Então: aquela poeirinha no ar, centenas de livros amarelados nas estantes, quem sabe até com uma ou outra teia de aranha pelos cantos! Com sorte, você se instala perto da parede de Edgar Allan Poe ou gruda no clima de terror de Bram Stoker, imaginou? Quanta inspiração! E se o sebo for mais moderninho, tem até Neil Gaiman...
-- Ah!
Pensei que o terceiro ia ser o último postículo da mininovela, mas a história acabou esticando. Ou será que terminou?
(Silvana Tavano)
30 de jan. de 2009
29 de jan. de 2009
28 de jan. de 2009
Outros fantasmas
Antes do terceiro postículo da mininovela, pausa pra rever uma antiga animação de um fantasma famoso -- quem não lembra do Gasparzinho? -- e também pra dar a notícia fresquinha, que acabo de ler no ótimo Letra Pequena, blog da jornalista portuguesa Rita Pimenta: o inglês Neil Gaiman faturou o American Library Association's Newbery Medal, um dos mais importantes prêmios literários infantis, com "The Graveyard Book", uma história fantasmagórica que o autor recomenda para leitores a partir de 9 anos. Na entrevista que deu ao Washington Post, Gaiman diz que a ideia surgiu há mais de 20 anos, vendo seu filho que brincava, no triciclo, girando entre "lápides centenárias" de uma antiga igreja. Será que foi um fantasma que soprou a história?
27 de jan. de 2009
Um lugar pra chamar de meu (2º postículo)
No hotel
-- Estamos com a casa cheia. Lo-ta-da!
-- Não é possível, vocês têm tantos quartos! E não estou pedindo pra ficar debaixo de uma kingsize da suíte presidencial...
-- Sinto muito, amigo. Não temos vaga nem mesmo sob as camas extras.
-- ...
-- Você já deu uma olhada nos teatros da cidade? Tem uns porões interessantes, e muitos estão praticamente vazios.
-- Pois é. Vazios demais...
-- Bom, se você está querendo movimento, por que não mergulha num subterrâneo do metrô? Dependendo do trecho, tem escuridão dia e noite, o que é uma verdadeira raridade nas grandes cidades!
-- Nunca estive nesses túneis, mas posso imaginar a quantidade de vampiros que já descobriram isso!
-- E qual o problema? Não me diga que você ainda sonha com masmorras exclusivas, castelos cinco estrelas ou navios piratas intocados no fundo do oceano?
-- Não é bem isso, só que...
-- Ah, você é um romântico!
-- Eu sou?
-- Bom... Parece que você não quer ver a realidade: o outro mundo está superpovoado... Anda difícil conseguir lugar até mesmo em parque de diversão. Sem dizer que... Bem, na minha opinião, nada pode ser mais decadente do que um trem-fantasma, concorda?
Ainda esta semana, o terceiro e provavelmente último postículo da mininovela. Aguardem!
(Silvana Tavano)
-- Estamos com a casa cheia. Lo-ta-da!
-- Não é possível, vocês têm tantos quartos! E não estou pedindo pra ficar debaixo de uma kingsize da suíte presidencial...
-- Sinto muito, amigo. Não temos vaga nem mesmo sob as camas extras.
-- ...
-- Você já deu uma olhada nos teatros da cidade? Tem uns porões interessantes, e muitos estão praticamente vazios.
-- Pois é. Vazios demais...
-- Bom, se você está querendo movimento, por que não mergulha num subterrâneo do metrô? Dependendo do trecho, tem escuridão dia e noite, o que é uma verdadeira raridade nas grandes cidades!
-- Nunca estive nesses túneis, mas posso imaginar a quantidade de vampiros que já descobriram isso!
-- E qual o problema? Não me diga que você ainda sonha com masmorras exclusivas, castelos cinco estrelas ou navios piratas intocados no fundo do oceano?
-- Não é bem isso, só que...
-- Ah, você é um romântico!
-- Eu sou?
-- Bom... Parece que você não quer ver a realidade: o outro mundo está superpovoado... Anda difícil conseguir lugar até mesmo em parque de diversão. Sem dizer que... Bem, na minha opinião, nada pode ser mais decadente do que um trem-fantasma, concorda?
Ainda esta semana, o terceiro e provavelmente último postículo da mininovela. Aguardem!
(Silvana Tavano)
25 de jan. de 2009
Um lugar pra chamar de meu
-- Meia-noite, tá na hora dos esquisitões.
-- Esquis... quem?
-- Os zumbis, oras!
-- E daí? Qual é o problema dos zumbis?
-- É que... Eu não gosto deles, é isso.
-- Como assim, não gosta?
-- Não gostando!
-- ... ?
-- É que eles são tão... tão... carrancudos!
-- ... ??
-- É! São uns anti-sociais! A gente bem que podia trocar umas figurinhas, mas eles fazem questão de se isolar. É ou não é?
-- Sei lá, nunca pensei nisso.
-- Pois então: nunca nos convidaram e, que eu saiba, nunca chamaram nenhum fantasma, e eles saem pra assombrar quase todas as noites!
-- Pode ser. Mas, e daí?
-- E o que você me diz do barulho? Toda noite a mesma coisa: empurra pedra daqui, range portinhola dali, é um tal de abrir caixão e bagunçar todos os túmulos, uma confusão!
-- Engraçado.
-- O quê?
-- Você não reclamava da turma da mansão, e olha que aqueles velhos fantasmas arrastavam correntes dia a noite, não davam folga.
-- Ah, mas é completamente diferente!
-- Como assim?
-- Aquilo era música pros meus ouvidos! Um pessoal de nível, que fazia questão de manter as velhas tradições! Falando nisso, onde será que a turma foi parar depois que a mansão virou shopping center?
-- Soube que uma parte do grupo decidiu continuar por lá mesmo. Parece que o estacionamento do tal shopping ficou sombrio e úmido, bem gostosinho mesmo. Os outros se espalharam por aí, talvez tenha alguém neste mesmo cemitério...
-- Foram bons aqueles tempos: éramos uma comunidade e tanto. Só fantasmas, espectros da mesma natureza! Já esses zumbis...
-- De novo essa história?
-- Eu não gosto de meio termo: pra mim, morto é morto, vivo é vivo. Quer saber? Esse negócio de morto-vivo, não dá!
-- Só que os zumbis estão em casa, lembra? Nós até podemos circular à vontade por aí, mas, de acordo com o Código Sobrenatural, eles é que mandam nos cemitérios.
-- Por isso mesmo vou procurar outro lugar. Você vem comigo?
Aguardem, amanhã, o segundo postículo da mininovela!
(Silvana Tavano)
-- Esquis... quem?
-- Os zumbis, oras!
-- E daí? Qual é o problema dos zumbis?
-- É que... Eu não gosto deles, é isso.
-- Como assim, não gosta?
-- Não gostando!
-- ... ?
-- É que eles são tão... tão... carrancudos!
-- ... ??
-- É! São uns anti-sociais! A gente bem que podia trocar umas figurinhas, mas eles fazem questão de se isolar. É ou não é?
-- Sei lá, nunca pensei nisso.
-- Pois então: nunca nos convidaram e, que eu saiba, nunca chamaram nenhum fantasma, e eles saem pra assombrar quase todas as noites!
-- Pode ser. Mas, e daí?
-- E o que você me diz do barulho? Toda noite a mesma coisa: empurra pedra daqui, range portinhola dali, é um tal de abrir caixão e bagunçar todos os túmulos, uma confusão!
-- Engraçado.
-- O quê?
-- Você não reclamava da turma da mansão, e olha que aqueles velhos fantasmas arrastavam correntes dia a noite, não davam folga.
-- Ah, mas é completamente diferente!
-- Como assim?
-- Aquilo era música pros meus ouvidos! Um pessoal de nível, que fazia questão de manter as velhas tradições! Falando nisso, onde será que a turma foi parar depois que a mansão virou shopping center?
-- Soube que uma parte do grupo decidiu continuar por lá mesmo. Parece que o estacionamento do tal shopping ficou sombrio e úmido, bem gostosinho mesmo. Os outros se espalharam por aí, talvez tenha alguém neste mesmo cemitério...
-- Foram bons aqueles tempos: éramos uma comunidade e tanto. Só fantasmas, espectros da mesma natureza! Já esses zumbis...
-- De novo essa história?
-- Eu não gosto de meio termo: pra mim, morto é morto, vivo é vivo. Quer saber? Esse negócio de morto-vivo, não dá!
-- Só que os zumbis estão em casa, lembra? Nós até podemos circular à vontade por aí, mas, de acordo com o Código Sobrenatural, eles é que mandam nos cemitérios.
-- Por isso mesmo vou procurar outro lugar. Você vem comigo?
Aguardem, amanhã, o segundo postículo da mininovela!
(Silvana Tavano)
21 de jan. de 2009
20 de jan. de 2009
Creuza fashion
19 de jan. de 2009
Pronto para a ação!

(ST)
16 de jan. de 2009
Dose do dia: uma colher de poesia (2)
Nas nuvens cinzas
Presságio de chuva leve
Escrevescrevescreve
Nos dias cinzas
A alegria faz greve
Escrevescrevescreve
No papel em branco
Um desafio para quem se atreve
Escrevescrevescreve
Porque o tempo voa
A vida é breve
Escrevescrevescreve
Silvana Tavano e May Shuravel
Presságio de chuva leve
Escrevescrevescreve
Nos dias cinzas
A alegria faz greve
Escrevescrevescreve
No papel em branco
Um desafio para quem se atreve
Escrevescrevescreve
Porque o tempo voa
A vida é breve
Escrevescrevescreve
Silvana Tavano e May Shuravel
15 de jan. de 2009
Brincar em japonês



(ST)
14 de jan. de 2009
Elas são de outros mundos (2)
Elas são de outros mundos

(ST)
13 de jan. de 2009
Dose do dia: uma colher de poesia
Quando a cabeça ferve
Escrevescrevescreve
Pra começar qualquer coisa serve
Escrevescrevescreve
Uma palavra depois da outra: bola de neve
Escrevescrevescreve
Fácil assim, basta fazer o que se deve
Escrevescrevescreve
E não é que a cabeça vai ficando mais leve?
Escrevescrevescreve
(Silvana Tavano)
Escrevescrevescreve
Pra começar qualquer coisa serve
Escrevescrevescreve
Uma palavra depois da outra: bola de neve
Escrevescrevescreve
Fácil assim, basta fazer o que se deve
Escrevescrevescreve
E não é que a cabeça vai ficando mais leve?
Escrevescrevescreve
(Silvana Tavano)
12 de jan. de 2009
Eles são de outros mundos (3)



Eles são de outros mundos (2)




Eles são de outros mundos






10 de jan. de 2009
9 de jan. de 2009
Reforma (mais que) ortográfica
Com a nova ortografia da língua portuguesa, dei um triste adeus aos tremas e a algumas palavras que levavam acento. Vou sentir falta da velha ortografia, uma falta nada nostálgica, mas visual.
O voo, sem o circunflexo, parece que ficou mais raso e pesado; lembra o voo de um inhambu, essa ave grande e pesada e desajeitada que, para sair do chão, bate asas com estardalhaço, como se fosse uma bandeira ao vento.
E o que dizer da nova ideia? Sem o acento agudo, tornou-se grave, fechada e sugere uma pronúncia mais lusitana. Lamento a nudez da ideia, como lamento também a nudez da palavra jiboia, que perdeu o acento espetado no centro do corpo.
Milton Hatoum, no Caderno 2 de hoje.
O voo, sem o circunflexo, parece que ficou mais raso e pesado; lembra o voo de um inhambu, essa ave grande e pesada e desajeitada que, para sair do chão, bate asas com estardalhaço, como se fosse uma bandeira ao vento.
E o que dizer da nova ideia? Sem o acento agudo, tornou-se grave, fechada e sugere uma pronúncia mais lusitana. Lamento a nudez da ideia, como lamento também a nudez da palavra jiboia, que perdeu o acento espetado no centro do corpo.
Milton Hatoum, no Caderno 2 de hoje.
Fortes emoções!
O ritmo de aventura com um quê de tragédia é marca registrada das animações produzidas pela escola francesa Gobelins -- alguém lembra daquela triste história de amor entre duas lulas louquinhas? Se você não viu esse, vai lá. Depois, divirta-se com essa seleção especial.
8 de jan. de 2009
Grafite animado
Dica da amiga querida e editora sempre antenada Claudia Berkhout: achei genial o trabalho do Blu, grafiteiro que pinta paredes pelo mundo afora -- Buenos Aires é o cenário desse grafite em movimento.
(ST)
6 de jan. de 2009
5 de jan. de 2009
Calendoscópio (2)
Férias de janeiro
Tem praia com sorveteiro
Mas em qualquer lugar
o relógio pode marcar:
tic-preguiça-tac-travesseiro
Tem tempo bom no céu
E tempo livre na agenda
Tempo de sobra pra ficar ao léu
Dá pra fazer tudo e nada, como se queira
Em janeiro, todo dia tem jeitão de domingo
Até a segunda-feira!
Bem que a gente podia viver assim o ano inteiro
Nesse tempo mais lento e quente e mais cheio de tempo
das férias de janeiro
(Silvana Tavano)
Tem praia com sorveteiro
Mas em qualquer lugar
o relógio pode marcar:
tic-preguiça-tac-travesseiro
Tem tempo bom no céu
E tempo livre na agenda
Tempo de sobra pra ficar ao léu
Dá pra fazer tudo e nada, como se queira
Em janeiro, todo dia tem jeitão de domingo
Até a segunda-feira!
Bem que a gente podia viver assim o ano inteiro
Nesse tempo mais lento e quente e mais cheio de tempo
das férias de janeiro
(Silvana Tavano)
4 de jan. de 2009
Peixe-voador

A foto do irlandês Gavin Tobin faz parte da série "nuvens que lembram coisas" -- e tem umas coisas incríveis no site da Sociedade dos Apreciadores das Nuvens .
(ST)
2 de jan. de 2009
Ano novo de novo

Não sei se o tempo de trás passa mais devagar do que o tempo da frente,
só sinto que o relógio do coração varia e do tempo também depende.
Porque ele bate mansinho com saudade de um tempo bom já que passou,
e dispara acelerado se a gente imagina coisas de um tempo que ainda não chegou.
(Essa ilustração e a do post anterior são da mexicana Cecília Rébora).
Silvana Tavano
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